As 250 Melhores Canções Internacionais da Década: 75º-51º
Faixa a faixa, aproximamo-nos da meta:
75º Lady Gaga & Bradley Cooper- "Shallow" (2018)- É incrível pensar na trajectória desta canção, naquilo que significa para milhões de pessoas em todo o mundo e em como veio dar um novo alento à carreira de Gaga. Talvez "Shallow" não existisse sem a incursão country de Joanne, e muito menos sem estar associada ao universo de A Star Is Born, mas é uma autêntica dádiva no seu percurso que a elevou a novos (e inesperados) máximos de carreira. Estaremos sempre ligados a ela.
74º Caribou- "Can't Do Without You" (2014)- Depois de uma pequena mutação enquanto Daphni em 2012, Dan Snaith voltou ao alias artístico com que ganhou notoriedade crítica e comercial através de Our Love (2014), uma masterclass de electrónica sensorial melhor representada por "Can't Do Without You", uma vaga de melancolia pela aceitação e compreensão da pessoa amada, que nos conduz num túnel caleidoscópico de texturas e emoções em catadupa até ao grandioso final.
73º Rihanna- "Diamonds" (2012)- Nos anos mais trabalhosos e implacáveis da sua carreira, Rihanna nunca falhou a mira de êxitos, mas o rolo compressor de hits dance pop massivos fez com que perdesse alguma da sua humanidade, em boa hora recuperada com o single de avanço do seu sétimo álbum. Balada pop electrónica e R&B entoada sem mácula à boa moda de Sia (principal compositora do tema) "Diamonds" resplandece na sua discografia pela forma positiva e esperançosa como escolhe olhar para o amor.
72º Two Door Cinema Club- "What You Know" (2011)- Algumas das melhores canções indie pop/rock da década moram em Tourist History (2010), a inesquecível estreia dos Two Door Cinema Club, que chegava ao seu quinto e último single com a pujança de "What You Know", fantástico pedaço de baixo bamboleante e guitarras com nervo dance-punk, ao serviço de uma melodia infalivelmente pop que nunca mais descolou do ouvido.
71º Paramore- "Ain't It Fun" (2014)- Prosa algo sarcástica sobre chegarmos à vida adulta, tentarmos encontrar o nosso lugar no mundo e constatar que nem sempre vai ser como idealizámos, "Ain't It Fun" é servida num cativante embrulho pop/funk-rock e reserva-nos uma espantosa secção de gospel, altura em que sentimos as barreiras estilísticas a tombar - e essa é a sensação mais incrível de sempre. Valeu-lhes o seu primeiro e único Grammy à data e o seu primeiro êxito de top 10 nos EUA. E sim, no fim compensa sempre.
70º Ariana Grande- "Dangerous Woman" (2016)- Por estes dias já poucos se lembram que antes de Dangerous Woman (2016) o ser, se chamava Moonlight e teria "Focus" (ou "Problem 2.0", se preferirem), como cartão-de-visita. Esse passo atrás foi o que permitiu a Ari dar dois em frente quando o verdadeiro single de avanço do seu terceiro álbum rompeu o éter: uma madura e sensualona composição pop/R&B midtempo dos sete costados, decisiva para o corte da imagem mais juvenil que a caracterizava e para a credibilização do seu trabalho. Que arraso.
69º David Guetta feat. Sia- "Titanium" (2011)- Menos de dois anos volvidos na década e já David Guetta era o DJ mais ubíquo do planeta, mas as coisas estavam apenas a (re)começar para Sia, até aqui dona de uma discreta carreira nas margens da pop, prestes a reformar-se para se focar na escrita para terceiros. "Titanium" era para pertencer originalmente a Mary J. Blige, Katy Perry ou Alicia Keys, mas Guetta acabou por usar a versão demo da sua compositora, à revelia desta. Tornou-se no sucesso massivo conhecido, e catapultou Sia para o estrelato mundial. Há saltos de fé fantásticos, não há?
68º Florence and the Machine- "Dog Days Are Over" (2010)- Se o início com "Kiss with a Fist" acendeu um pavio de rock garageiro que cedo se extingiu, e "You've Got the Love" passava por uma bestial apropriação alada do original de Candi Staton, "Dog Days Are Over" é o primeiro momento em que Florence e a sua máquina soam à verdadeira acepção de si mesmos: uma imensa canção indie pop/rock sobre conhecer pela primeira vez o sentido da felicidade, receando deixá-la instalar-se. Entram harpas, palmas, percussão, bateria e aquela voz libertadora. Vinde, júbilo!
67º Kim Petras- "Heart to Break" (2018)- 2018 ainda nem havia aberto bem os olhos e já estávamos de mãos erguidas ao céu com a perfeição pop de "Heart to Break", um extasiante tema dance pop sobre entregarmo-nos sem reservas a uma paixão avassaladora, mesmo que no final alguém saia magoado. A produção de Dr. Luke e do discípulo Cirkut é insanamente boa, a vocalização de Kim é estonteante e os bpm aceleram-nos a pulsação sem pedir licença - ombreia os melhores momentos da discografia de Britney, Katy Perry ou Lady Gaga.
66º Alt-J- "Fitzpleasure" (2012)- Tra-la-la. Uma das razões para a estreia da banda do triângulo permanecer tão inesquecível é o facto de não soar a absolutamente nada que tenha sido lançado quer antes ou depois da sua edição. A outra será porque as canções que lá moram são efectivamente formidáveis. A esquizofrenia de "Fitzpleasure" - composta por canto gregoriano, secções tribais, rock experimental e laivos de dubstep - advém do romance Last Exit to Brooklyn (1964) de Hubert Selby Jr., ainda que transposta de forma quase indecifrável. Tinha que ter um vídeo igualmente bizarro, claro.
65º Bruno Mars- "Locked Out of Heaven" (2012)- Depois de um primeiro álbum sólido mas um tanto banal, Bruno Mars ganhava consistência sónica com a urgência reggae rock/funk de um single tão fantabulástico quanto "Locked Out of Heaven", explosivo do primeiro ao último segundo, e alinhado na tradição dos Police da década de 80 ou de "Beat It" de Michael Jackson. Marcou a sua primeira experiência de produção com Mark Ronson - dividindo créditos com Jeff Bhasker, Emile Haynie e os seus Smeezingtons - com quem haveria de fazer magia dois anos mais tarde.
64º Miley Cyrus- "Wrecking Ball" (2013)- Em 2013, Miley Cyrus estava a caminho de qualquer coisa. Emulando os passos das antecessoras Britney e Christina Aguilera, Cyrus reiniciava o ciclo de devassidão nos anos 10 com a rebelião pop/R&B de Bangerz, um álbum de muita parra e pouca uva, mas que lhe proporcionou o melhor single do seu percurso - vulnerável e visceralmente interpretado, - com inspiração directa na primeira quebra do seu relacionamento com o ex-marido Liam Hemsworth. A infame ilustração de Terry Richardson levou as coisas um bocadinho longe demais.
63º Taylor Swift- "Style" (2015)- Para muitos o terceiro single de 1989 corresponde ao momento em que Taylor Swift começa a ser levada a sério. Se não havia forma de fugir a "Shake It Off" e "Blank Space" ainda passava por um rasgo de criatividade, "Style" não poderia ser só fruto do acaso: uma sofisticada e sedutora faixa synthpop de influências disco e funk sobre um parceiro a que voltamos sempre, mesmo depois de termos trocado juras de amor eterno com outro alguém.
62º Marina and the Diamonds- "Primadonna" (2012)- Tudo o que ela queria era o mundo. Nunca nos vamos esquecer do dia em que Electra Heart fez a sua primeira aparição oficial - depois da introdução da persona em "Fear and Loathing" e "Radioactive" - com "Primadonna", uma massiva construção dance pop de fundações disco e europop balançada entre o registo ora mais grave, ora mais operático de Marina, que Dr. Luke e o pupilo Cirkut ajudaram a erguer. No topo de tudo, havia um vídeo exímio que trazia à vida a protagonista petulante e narcisista que Diamandis tão bem soube personificar.
61º Kylie Minogue- "Get Outta My Way" (2010)- Indiscutivelmente o single de Kylie mais subvalorizado dos anos 10. Nada menos do que um colossal pop banger de dedo desafiador no ar e anca movediça na pista de dança, "Get Outta My Way" foi entregue à entrada da quarta década de actividade de Minogue, numa era dominada por Lady Gaga, Rihanna, Katy Perry e afins. Nem Madonna se saiu com algo tão formidável nos seus últimos trabalhos...
60º St. Vincent- "Digital Witness" (2014)- Em 2014 Annie Clark já vinha expedita do seu trabalho com David Byrne em Love This Giant (2013), mas ganharia novo ímpeto com a edição do quarto álbum homónimo, melhor representado pela insanidade art pop/funky de "Digital Witness", incisiva crítica sobre a dependência das redes sociais e a forma patética como nos percepcionamos em função delas, explorada com brio na narrativa visual distópica de cores pastel e formas geométricas, inspirada na película sci-fi Metropolis (1927). Daqui, St. Vincent sairia disparada para o Olimpo.
59º Kanye West feat. Jay-Z, Rick Ross, Nicki Minaj & Bon Iver- "Monster" (2010)- No topo das suas capacidades, Kanye West lançava um dos melhores temas hip hop da década, profundamente ancorado num imaginário de horrorcore que serve tanto para descrever os talentos sobrenaturais dos envolvidos, como a percepção mediática de Yeezy em particular. Enquanto West e Jay-Z medem forças num despique de gigantes, a então novata Nicki ganhava o respeito da indústria com uma estrofe aniquiladora, ainda hoje recordada como a melhor parte da canção.
58º Drake- "Hotline Bling" (2015)- Por incrível que pareça, em 2015 Drake ainda não tinha tido um número um a solo nos EUA. Esteve muito perto com o choradinho suave de "Hotline Bling" - uma melódica composição pop/R&B fortemente samplada de "Why Can't We Live Together" (1972) de Timmy Thomas, acerca da desolação que advém do facto da sua ex-namorada ter seguido com a sua vida e já não precisar de ocasionais amassos - até que "Hello" de Adele se colocou no seu caminho. O desajeitado dad dancing do rapper no vídeo assinado por Director X apenas adensou o fenómeno.
57º Tame Impala- "The Less I Know the Better" (2015)- Se Currents já havia revelado textura e profundidade em temas como "Let It Happen", "Eventually" ou "Cause I'm a Man", o seu verdadeiro trunfo estava para chegar na forma de "The Less I Know the Better", uma brilhante investida disco/funk de baixo groovy, piano charmoso e vocalização encantadora, acerca da frustrante sensação de se ser o vértice menos importante de um triângulo amoroso, ou sobre como Parker perdeu a miúda para o macho-alfa Trevor.
56º Jamie xx feat. Romy- "Loud Places" (2015)- Silêncio e tanta gente. Dois terços das cabeças dos The xx compõem este tema, mas ainda assim há algo em "Loud Places" que tornaria impossível a sua existência dentro do universo minimalista do trio britânico, pelo menos na fase que antecedeu I See You (2017): não só o bulício pós-dubstep e house que permeia a interpretação aveludada, mas ferida, de Romy Madley Croft, como o elo que partilha com Jamie Smith - muito antes da banda ter sido formada - e que permite um tema tão íntimo quanto devastador.
55º Taylor Swift- "Shake It Off" (2014)- Bendito o dia em que Taylor acordou e decidiu que a música country não mais passaria a surgir em primeiro plano na sua cédula de nascimento. "Shake It Off" não só é o momento em que Swift se transforma na estrela pop à escala global em que haveria inevitavelmente de se tornar, como uma excelente demonstração da sua aptidão em reclamar o controlo da narrativa perante o escrutínio público das suas acções. Em suma, uma fenomenal canção pop uptempo que traria um álbum ainda mais fenomenal associado.
54º Katy Perry- "Last Friday Night (T.G.I.F.) (2011)- O sonho adolescente não fica completo sem aquela sexta-feira à noite de deboche puro e detalhes hilariantes. É essa crónica vívida e sem arrependimentos que fazem de "Last Friday Night" um tema tão compelativo e nostálgico, potenciado como sempre pelos pós de artesão-mágico de Dr. Luke e Max Martin. Mais: a para-lá-de-cómica narrativa de Kathy Beth Terry será sempre o zénite da videografia de Katy.
53º Pink feat. Nate Ruess- "Just Give Me a Reason" (2013)- Momento de ouro do seu sexto álbum de estúdio, "Just Give Me a Reason" é um magnífico dueto na verdadeira acepção da palavra, e um dos últimos grandes do nosso tempo. Pink convoca o inigualável vocalista dos fun. para uma conversa a dois em que se esgrimem argumentos para salvar uma relação fragilizada sob a produção retumbante de Jeff Bhasker. Tão apaixonante.
52º Robyn- "Dancing on My Own" (2010)- No Verão'10, Robyn dava início ao ambicioso tríptico Body Music com a mãe de todos os sad bangers que escutaríamos por essa década fora. Canalizando a desolação de hinos disco dos Ultravox ou Donna Summer, a intérprete sueca assinaria um estupendo tema electropop sobre a maravilhosa sensação de dar de caras com a nova conquista do ex na discoteca. Há devastação a rodos, mas também uma imperiosa força de continuar a dançar (o "keep" do refrão faz a diferença) mesmo que feita em cacos. Porque, no final, tudo se regenera na pista.
51º Rihanna feat. Drake- "What's My Name?" (2010)- Temos que nos rir perante a perspectiva de um mundo em que o omnipotente Drake tenha precisado de Rihanna para alcançar os seus primeiros nºs 1 na Billboard Hot 100. Inteiramente compreensível quando o inaugural se conquistou com "What's My Name?", uma lasciva e jovial construção electro-R&B de cálida brisa insular soprada pelos Stargate, em que se soltam faíscas (e umas quantas deixas de engate) entre o parzinho. Amnésia gostosa, hein?
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