As 250 Melhores Canções Internacionais da Década: 25º-1º


E agora o momento pelo qual todos aguardámos:

25º Kanye West feat. Pusha T- "Runaway" (2010)- Kanye West era possivelmente a pessoa mais odiada do mainstream quando lançou a sua obra-mestra, My Beautiful Dark Twisted Fantasy (2010), que já tinha em "Power" um cartão-de-visita sensacional. Mas seria ao entregar-nos "Runaway", um imenso acto de contrição pelos seus relacionamentos falhados e pela sua percepção mediática, numa assombrosa mescla de hip hop/art pop com piano ferido, violoncelo, outras cordas esparsas, vocoder ininteligível e uma contribuição de Pusha T que funciona como a antítese das confissões de West, que este alcançaria a redenção pública e um absurdo patamar de genialidade. Tão divino, tão humano. 

24º Taylor Swift- "Blank Space" (2014)- TayTay já tinha canalizado a atenção de todos para a sua mutação pop quando nos entregou o single mais brilhante da sua discografia: um em que se diverte a parodiar a versão mesquinha, manipulativa e obsessiva no amor que os media construíram para si, com tiradas de génio como "grab your passport and my hand, I can make the bad guys good for a weekend" ou "darling, I'm a nightmare dressed like a daydream", numa pristina produção electropop de Max Martin e Shellback. E com ele Swift recuperava o controlo da sua narrativa, ao mesmo tempo que firmava um pouco mais o seu status de maior estrela pop do planeta. 

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23º Angel Olsen- "Sister" (2016)- Indiscutível musa alternativa de 2016, Angel Olsen deu-nos não só um dos melhores discos desse ano na figura de My Woman, como também uma das canções mestras. Magnífica prosa sobre a procura de uma versão mais nova, destemida e esperançosa de nós mesmos, "Sister" é entregue com variados graus de comoção e dolentes solos de guitarra eléctrica, em sete dos mais incríveis minutos ao serviço do indie rock de autor nos anos 10.

22º Azealia Banks feat. Lazy Jay- "212" (2011)- É difícil dissociar Azealia Banks da montanha de profanidades, declarações absurdas e zangas travadas no Twitter ao longo da década, mas por baixo do ser inestimável existe uma artista incrível que explodiu no mainstream com três minutos e meio incendiários de linguagem ofensiva, atitude a rodos e dominação massiva ao serviço de uma batida hip house insana cortesia de Lazy Jay. É ela e somente ela a única culpada da sua ruína. 

21º Solange- "Losing You" (2012)- A Seat at the Table (2016) e When I Get Home (2019) são estruturais na aclamação universal da Knowles mais nova, mas não nos poderemos esquecer que "Losing You" foi o primeiro momento em que a conseguimos ver para lá de Beyoncé: uma inebriante construção dance-R&B midtempo de Dev Hynes e Kevin Barnes sobre os estágios finais de um relacionamento, trazido à vida com um maravilhoso vídeo de Melina Matsoukas gravado na Cidade do Cabo, em África do Sul.

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20º Ed Sheeran- "Thinking Out Loud" (2014)- Não existe lembrança de um tempo em que Ed Sheeran não tenha sido extremamente bem-sucedido em tudo aquilo a que se propôs, mas há efectivamente uma canção que o propagou para os altares galácticos que hoje pisa: foi com a profusão de amor eterno presente em "Thinking Out Loud", por excelência a canção oficial das primeiras danças de recém-casados nesta década, embalada na tradição soul de "Let's Get It On" e nas competentes capacidades de escrita de Sheeran. Nada menos que uma canção magnífica, a fazer-nos sentir o amor que encerra. 

19º Miguel- "Adorn" (2012)- Em 2012, Miguel cruzava os céus do firmamento pop com uma soberba composição R&B/electro-soul que é pura expressão de amor e desejo, escrita e produzida por si mesmo, revestida de sub-graves carregados de tensão, teclados esparsos e um falsete pecaminoso. É a mais próxima acepção de "Sexual Healing" nesta década, e apenas o ponto de partida para o oásis sagrado em que Kaleidoscope Dream (2012) se tornaria. 

18º Daft Punk feat. Pharrell Williams- "Get Lucky" (2013)- Like the legend of the phoenix. O Verão de 2013 ainda vive na memória de muitos pela recordação calorosa de "Get Lucky", o fenomenal single de regresso dos Daft Punk sobre o prazer das conexões humanas, que instaurou um certo revivalismo disco/funk via Chic no mainstream da época, trouxe Pharrell Williams para novos níveis de popularidade e ainda contou com o condão de Nile Rodgers na guitarra. Houve poucas coisas mais espectaculares nos anos 10 do que assistir a dois robôs a devolver autenticidade e o carácter orgânico à música de dança. 

17º Adele- "Someone Like You" (2011)- A noite de 15 de Fevereiro de 2011 mudaria tudo para Adele. Foi a primeira vez em que interpretou ao vivo, nos BRIT Awards, a balada-mestra que adensaria o fenómeno em torno do recém-lançado 21, que corresponde ao momento em que finalmente consegue olhar para a complicada separação que atravessou, sem que a amargura seja o único sentimento que permaneça. É o equivalente ao "My Heart Will Go On" ou "I Will Always Love You" dos anos 10. 

16º Sia- "Chandelier" (2014)- Impossível esquecer o tema e o vídeo em que os caminhos de Sia, Maddie Ziegler, o realizador Daniel Askill e o coreógrafo Ryan Heffington se cruzaram pela primeira vez. "Chandelier" era uma grande, gigante, canção pop com entranhas e negrume dentro, que relançou de forma espectacular (e inesperada) a carreira da sua intérprete, tendo ganho vida pela tour de force elástica, combativa e levemente insana da pequena Maddie, num desempenho incrível que a continuará a perseguir por muitos e bons anos.

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15º The Weeknd- "Can't Feel My Face" (2015)- Pode ter parecido que foi do dia para a noite, mas houve uma escalada de quatro anos até que Abel Tesfaye atingisse o estrelato mundial. A transição da obscuridão para o mainstream completou-se com "Can't Feel My Face", irresistível pedaço de pop/disco-funk de baixo estonteante e lírica errante, esquadrinhado pelos produtores de topo Max Martin e Ali Payami, que o colocou na linha directa de descendentes de Michael Jackson. And we still love it.

14º Mark Ronson feat. Bruno Mars- "Uptown Funk" (2014)- Há poucos êxitos maiores que "Uptown Funk" esta década. A canção que finalmente proporcionou a Mark Ronson um momento de ubiquidade há muito merecido, juntou-o novamente a Bruno Mars depois de uma primeira experiência colaborativa em Unorthodox Jukebox (2012), para uma febril e inescapável investida funk-pop de recorte soul, disco e boogie a canalizar heranças de James Brown, Prince ou Earth, Wind & Fire, que não deixa imóvel nem o mais teimoso possuidor de dois pés esquerdos. Não se poderia ter tornado noutra coisa se não gigante. 

                                                              mark ronson GIF by Bruno Mars

13º Wolf Alice- "Don't Delete the Kisses" (2017)- O ano era 2017 e os Wolf Alice estavam a caminho de algo especial com Visions of a Life. O momento de ouro continua a pertencer a "Don't Delete the Kisses", composição de texturas dreamy, shoegaze e synthpop que a apaixonante interpretação de Ellie Rowsell e a produção encantatória de Justin Meldal-Johnsen ajudaram a erguer. É o tipo de canção em que nos queremos perder e viver uma vida inteira. O tipo de canção que nos preenche de memórias que talvez nem sejam reais. Mas que evoca um imaginário suficientemente forte para que assim pareça. Parte da década ecoará sempre em loop através dela. 

12º fun. feat. Janelle Mónae- "We Are Young" (2012)- No mainstream de 2012 havia uma revolução indie pop em curso, iniciada um ano antes por "Pumped Up Kicks", prolongada por "Somebody That I Used to Know" e com expoente máximo em "We Are Young". Glee deu-lhe a mão e fez com que as massas aderissem em peso, um anúncio do Super Bowl com enorme visibilidade deu o empurrão que faltava. O poder imenso da canção dos fun. fez o resto: mérito da narrativa soberba, da conjugação de influências hip hop/indie, da ambição de estádio de uns Queen e do gigantesco refrão que alude às infinitas potencialidades que a juventude acarreta. Por uma vez que fosse, os underdogs dominavam o mundo. E foi absolutamente lindo.

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11º Troye Sivan- "My My My!" (2018)- Em Janeiro de 2018 o single de avanço de Bloom (2018) cai como um trovão na aurora do novo ano: uma tremenda canção pop sobre expressão sexual, amor e desejo, entregue sem inibições juntamente com um vídeo sensualão a preto-e-branco em que assistimos à celebração da identidade pessoal e artística do seu autor, num jorro de libertação comovente. E, finalmente, tudo fez sentido. Troye Sivan estava pronto para se tornar não só num dos autores pop mais notáveis do seu tempo, como no ícone queer de pleno direito que a segunda década do novo milénio pedia.

                                                                   my my my! GIF by Troye Sivan

10º Everything Everything- "Cough Cough" (2012)- Yeah... so... um... wait a second! Existe a intensidade épica dos Florence and the Machine, e depois existe a intensidade apocalíptica dos Everything Everything, que em "Cough Cough" - um festim rítmico de art rock, indie pop e funk que soa a um híbrido entre Dirty Projectors e as Destiny's Child - rugiam com um monumental tema que lida com questões como o consumismo, a ganância do petróleo ou a poluição ambiental que teimamos em desvalorizar. E assim se tornavam na mais entusiasmante banda britânica dos anos 10. 

9º Adele- "Rolling in the Deep" (2010)- No começo da década havia um fogo a alastrar no coração de Adele que não mais podia ser contido. Tempestade sónica de soul/pop amargurada com brio bluesy/gospel que Paul Epworth ajudou a libertar, "Rolling in the Deep" deu início à crónica de desolação romântica de 21 que acompanhámos de fio a pavio, tornando-a no maior colosso comercial dos anos 10. Contém, se não a melhor, a mais impiedosa vocalização da década. 

8º Justin Timberlake- "Mirrors" (2013)- Não será totalmente descabido afirmar que o regresso do Príncipe da Pop em 2013 foi tão bem sucedido porque havia uma sede de sete anos por saciar, mas também porque foi assente sobretudo numa canção tão formidável quanto "Mirrors", uma epopeia pop/R&B representativa do maximalismo de The 20/20 Experience e do melhor nível criativo do sempre genial Timbaland - a desenhar a canção de amor de uma vida para JT - acerca de como encontramos, mimetizamos e crescemos com a nossa alma gémea. Bonito demais.

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7º Lorde- "Royals" (2013)- O ano é 2013 e o mainstream atravessa uma fase de bangers EDM massivos, um revivalismo disco/funk e a contaminação da cultura urbana na pop de então. De repente surge do fim do mundo - mais concretamente de Auckland, na Nova Zelândia - uma adolescente de 16 anos com sensibilidades art pop e uma estética minimal em ruptura com as tendências da época, que discorre de forma sensacional sobre os luxos e os excessos da vida que as estrelas do mainstream se gabam de levar, mas em que os comuns mortais dificilmente se poderão rever. Lorde transformava assim com "Royals" a configuração pop de então, tornando-se na voz de uma geração. Mais importante que tudo, nunca deixou que este hit a definisse, evoluindo de forma extraordinária daqui.

6º Ariana Grande- "Into You" (2016)- Perdura a crença inabalável de que esta canção deveria ter sido um êxito bem mais esmagador do que na realidade foi. Nada menos do que um monstruoso e aditivo banger dance pop/EDM da lavra de Max Martin e Ilya sobre passar das palavras à acção no campo amoroso, "Into You" vive de uma permanente tensão que é libertada a tempos no explosivo refrão de recorte disco e da arrebatadora interpretação de Ariana, a almejar - e a conseguir - atingir o zénite. Tinha que pertencer à fantástica era de Dangerous Woman, naturalmente.

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5º Disclosure feat. Sam Smith- "Latch" (2012)- Ainda a melhor canção do melhor álbum de electrónica da década, "Latch" caiu que nem um meteorito no final de 2012: demasiado futurista para a rádio, um tanto intransponível para os clubes. Talvez por isso tenha levado quase dois anos para cumprir o seu potencial e chegar ao top 10 da tabela de singles norte-americana, também alavancada pelo grande momento de revelação que Sam Smith estava a viver. Permanece um brilhante exemplar de future garage com ambição pop dentro, munida de uma interpretação mágica capaz de iluminar cada célula e fibra do nosso corpo. Soa igualmente excepcional na sua versão acústica.

4º Beyoncé- "Love on Top" (2011)- Bring the beat in! Quem não sucumbiu à beleza estonteante deste momento alto de 4 (2011) nas semanas que se seguiram à sua edição, de certo se rendeu por fim com a actuação do tema nos VMAs desse ano - ainda um dos melhores momentos televisivos da década - que serviu para revelar a gravidez de Blue Ivy ao mundo. Enleado na tradição R&B, disco, funk e retro-soul dos Jackson 5, New Edition ou Stevie Wonder e a fazer jus ao calibre da sua intérprete ao vivo, "Love on Top" passa por seis (seis!!) portentosas mudanças de escala para Beyoncé expressar o seu júbilo pela devoção e amor da sua cara-metade. É isto a felicidade plena.

3º Katy Perry- "Teenage Dream" (2010)- Tudo em "Teenage Dream" é incrível: da lírica apaixonante sobre um romance idílico e jovem no coração, passando pela simbiose entre os acordes e a melodia, até ao investimento emocional que Katy deposita em cada palavra. É genial no papel e ainda mais extraordinária quando ganha vida: durante três minutos e quarenta e nove segundos sentimos todos os arrepios, borboletas e suspiros até então acumulados - e libertados uma vez mais. Não há objectivo maior a que uma canção, um intérprete e produtores possam aspirar: a derradeira perfeição pop.

                                                                 music video GIF by Katy Perry

2º Rihanna feat. Calvin Harris- "We Found Love" (2011)- Em 2011 Rihanna já era a estrela pop mais incansável do planeta e parecia não haver forma de se tornar ainda maior. Até que veio "We Found Love". Uma extasiante produção electro house de Calvin Harris - a conceder-lhe o estatuto de astro - a que Rihanna se entregou de forma celestial, cantando sobre amor e perda. Capturou como nenhuma outra o espírito de uma época em que a EDM havia contaminado o mainstream, e veio ilustrada por um vídeo magistral que funciona como o Trainspotting dos telediscos da era YouTube, referência incontornável da cultura pop dos anos 10 e absoluto marco temporal e geracional.

                                                                 music video GIF by Rihanna

1º Sky Ferreira- "Everything Is Embarrassing" (2012)- Sky Ferreira é uma figura mítica da década. Alguém que singra na moda e na representação antes da carreira musical, a sua primeira vocação, e que após uns quantos falsos arranques e experimentações identitárias acerta em cheio com um fabuloso EP de cinco temas onde pontifica "Everything Is Embarrassing", uma arrebatadora construção synthpop/alt pop de passada acelerada e coração desfeito - sobre a humilhação e a angústia que advêm de romances não totalmente concretizados - que Dev Hynes e Ariel Rechtshaid tão bem lhe edificaram. A sua marca temporal é tamanha que quando Night Time, My Time (2014) viu a luz do dia, a canção ainda integrou as faixas bónus das versões internacionais do disco. E com o avançar dos anos manteve-se como bandeira das promessas e expectativas acumuladas por Sky ao longo da década: talvez não chegaremos a descortinar inteiramente o porquê da interminável espera, mas isso permite-nos continuar agarrados a esta versão de si mesma. A que de cabelos desgrenhados gravou um vídeo a preto e branco sem qualquer orçamento, deambulando o seu ar de princesa gótica e o seu estado miserável pelas ruas de L.A., com um estelar tema pop a que Madonna teria feito justiça nos anos 80. Que outra canção poderia ocupar este lugar, afinal? We've been hating everything, everything that could have been, could have been our anything, now everything's (still) embarrassing. 

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Por fim, a lista completa:

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