As 250 Melhores Canções Internacionais da Década: 50º-26º


Estamos a um pequeno passo da revelação final:

50º Pharrell Williams- "Happy" (2013)- Pharrell já vinha do ano mais bem-sucedido da sua carreira graças às valiosas participações em "Blurred Lines" e "Get Lucky", mas 2013 ainda tinha mais um trunfo guardado na manga com o lançamento de "Happy", uma imensa canção neo soul de groove funk embalada na tradição da Motown a que ninguém consegue escapar e que, por momentos, o tornou na maior estrela pop masculina do planeta. 

49º Disclosure feat. AlunaGeorge- "White Noise" (2013)- Um dos singles de dança mais fenomenais da década tem que ser necessariamente aquele que reúne os manos Lawrence a Aluna Francis - com a voz filtrada aos píncaros - e George Reid para uma extasiante e esquizóide malha deep house/UK garage que desanca fortemente num parceiro que brinca com os sentimentos da outra pessoa. As paredes tremem de vida com esta demonstração suprema de música electrónica.

48º Paramore- "The Only Exception" (2010)- Esta canção é especial por tantas razões. Assinala a primeira vez que os Paramore entregam tanto uma balada como uma canção de amor. A primeira vez que escutamos de forma límpida e cristalina a voz perfeitamente afinada de Hayley. E a primeira vez que sentimos que podem vir a ser mais do que a etiqueta emo consegue conter. Mais ainda, descer os muros emocionais que aprendemos a construir e permitir que o amor entre, ainda que com algum receio, é um acto de enorme coragem e vulnerabilidade. Estamos todos a chorar.

47º Maggie Rogers- "Alaska" (2016)- Quando uma canção em estado bruto faz Pharrell Williams ir às lágrimas numa masterclass, é sinal de que estamos no caminho certo. Inspirada pela viagem transcendente da sua intérprete ao estado norte-americano a que faz alusão, "Alaska" é um single de estreia soberbo - envolto em influências folk-dance, instrumentação maravilhosa e uma vocalização mágica - que talvez Maggie Rogers nunca conseguirá igualar. Mas se o rasgado brio artístico lhe permite fazer algo assim tão único logo de início, imaginem só o que poderá fazer pela carreira fora...

                                                               alaska GIF by Maggie Rogers

46º Usher- "Climax" (2012)- "Climax" é um rasgo de génio e de visionarismo no percurso recheado de êxitos sólidos, mas maioritariamente seguros de Usher, que aqui se deixa guiar pelos intentos de Diplo, também ele fora de pé. Sob uma densa e compelativa névoa de R&B alternativo mergulhada em partículas de electrónica, Usher lamenta num falsete magistral o término de uma relação. Prova de que um veterano como ele conseguia ombrear com os então emergentes Frank Ocean e The Weeknd.

45º Carly Rae Jepsen- "Call Me Maybe" (2011)- Conseguiremos imaginar um mundo onde o fenómeno em torno de "Call Me Maybe" estivesse para não acontecer? Um tweet de Justin Bieber de apoio à canção alterou o destino da conterrânea Jepsen, de 27 anos, que no Verão de 2012 levou este hino bubblegum/dance pop de influências orquestrais algo pré-milenar mas tão inescapável ao topo das tabelas um pouco por todo o mundo. Quem lhe devolveu a chamada, encontrou uma artista magnífica.

44º Lana Del Rey- "West Coast" (2014)- Quando toda a gente esperava que Lana Del Rey fizesse zig ao segundo álbum, eis que ela faz zag com uma monumental e ultra-sedutora faixa surf rock/psicadélica de interessantíssimas mudanças rítmicas, a viver da produção abafada do senhor '"tecla negra" Dan Auerbach, que não só corta com a cadência indie pop/trip hop opulenta da estreia, como ainda lhe providencia a desejada credibilização. As paisagens californianas e as relações românticas disfuncionais davam o mote, como ainda hoje acontece.

                                                      lana del rey ultraviolence GIF

43º Tove Lo- "Habits (Stay High)" (2013)- A maioria de nós conheceu o primeiro single de Tove Lo por via de uma afamada remistura trippy dos Hippie Sabotage, mas o tempo tratou de devolver o foco à versão original: um retrato cru e brutalmente honesto de alguém que decide mergulhar numa espiral hedonista para esquecer um desgosto de amor, a deixar a descoberto a dor que o remix teima em esconder. Nos EUA tornar-se ia na canção sueca mais popular do séc. XXI, desde "The Sign" dos Ace of Base, vinte anos antes. Continua a afectar-nos a cada audição. 

42º Bat for Lashes- "Laura" (2012)- Já todos nós ou conhecemos ou fomos "Laura" uma vez na vida. A pessoa que é a alma da festa e que cintila naturalmente, mas que por dentro sofre em silêncio. É essa vulnerabilidade que Natasha Khan tão bem consegue captar no belíssimo primeiro avanço de The Haunted Man (2012), que a colocou lado a lado com Justin Parker, produtor e compositor do álbum de estreia de Lana Del Rey. 

41º Troye Sivan feat. Ariana Grande- "Dance to This" (2018)- A atracção é real. Sedutora construção dance pop/R&B inspirada em "All Nite (Don't Stop)" de Janet Jackson, à base de um jogo de poliritmos compelativos, drum machines e guitarras dreamy, "Dance to This" mostrou-nos como trocar as luzes estroboscópicas da pista de dança pelo intimismo do lar, a dois, pode ser igualmente convidativo. Ninguém vai querer adormecer, de qualquer forma.

40º The Weeknd- "The Hills" (2015)- Em 2015 Abel Tesfaye era o homem mais cool e misterioso do planeta: alguém capaz de flirtar com a pop enquanto conservava um lado bastante tenebroso e errante de anti-herói, com expoente máximo em "The Hills" - cujo título advém de um clássico de terror de Wes Craven - negra reflexão sobre fama, drogas e sexo numa mescla de trap/R&B alternativo mutante de baixo monstruoso, que ainda hoje faz virar uma série de cabeças.

                                                               the hills weeknd GIF

39º Charli XCX- "Vroom Vroom" (2016)- Let's ride! Tudo começa a partir do momento em que o caminho de Charli se cruza com o de Sophie, produtora vanguardista escocesa associada à família da PC Music, conhecida pela sua abordagem surrealista e esquizóide à música pop. Da parceria nasce um EP de quatro temas espectacularmente experimental, do qual o tema-título será o melhor exemplo, trazido à vida com um vídeo imaculado capaz de nivelar com o auge videográfico de Britney Spears. Next level Charli nascia aqui.

38º Frank Ocean- "Thinkin Bout You" (2011)- Entre 2011 e 2012 todos caíamos de amores pela narrativa confessional de Frank Ocean em "Thinkin Bout You", sobre como ainda não tinha superado totalmente a passagem de alguém que virou a sua vida do avesso, na mais atmosférica e terna das baladas R&B alternativas na tradição de Maxwell, Robin Thicke ou Justin Timberlake que escutámos esta década, e sobre a qual se construiria o prodígio de Channel Orange (2012).

37º Drake feat. Majid Jordan- "Hold On, We're Going Home" (2013)- Drake e Noah "40" Shebib fizeram imensas coisas fantásticas no decorrer da sua parceria nesta década, mas nenhuma delas tão incrível quanto o segundo avanço de Nothing Was the Same (2013), também explicado pela entrada em cena de Nineteen85 e dos Majid Jordan, que vieram emprestar alguma centralidade synthwave ao já R&B melódico do rapper canadiano, aqui a emular as produções pop dreamy apaixonantes de Michael Jackson. Deveria ter sido o seu primeiro nº1 a solo nos EUA.

36º Justin Bieber- "Sorry" (2015)- "Sorry" seria sempre um êxito de enormes proporções - irresistível na sua toada dancehall-pop/tropical house da lavra de Skrillex e BloodPop - mas resultou tão bem porque tinha um vídeo (inicialmente não oficial, atente-se) que encaixou que nem uma luva à canção e acabou por traduzir na perfeição aquilo em que Bieber se estava a tornar: na maior estrela pop do planeta, cool e transversal a várias faixas etárias. E nem vamos mais longe: esta é a melhor coreografia da década, idealizada e executada por uma squad inteiramente feminina.

                                                                justin bieber GIF

35º Florence and the Machine- "Shake It Out" (2011)- É sabido que as melhores canções acabam por nascer ou de um coração destroçado, ou da vontade urgente de o reparar. Da canção que catapultou Florence e a sua máquina para o Olimpo, impera a necessidade de expurgar os males que atormentam o espírito - e é tudo libertado num poderoso acto de catarse em moldes de pop barroca, indie rock e gospel de sumptuosa instrumentação, superiormente cantado. Bendita limpeza espiritual.

34º Mark Ronson feat. Kevin Parker- "Daffodils" (2015)- Andava todo o mundo entretido com a histeria de "Uptown Funk", quando Ronson lançou a verdadeira obra-mestra do seu quarto álbum, uma que Kevin Parker ajudou a construir e que acabaria por antecipar a costela funk e pop psicadélica de que o terceiro da vida dos Tame Impala se revestiria. Nada nos prepara para o drop insano de sintetizadores que encerra o tema em absoluto caos divino. 

33º Foster the People- "Pumped Up Kicks" (2010)- Primeiro ganhou notoriedade na blogosfera, sendo mais tarde utilizada em séries e anúncios. No início de 2011 era lançada oficialmente em conjunto com o primeiro EP homónimo da banda. Foi ganhando rotação e traquejo no circuito alternativo, até que em Julho desse ano perfurava o mainstream. Esteve oito semanas consecutivas no último lugar do pódio da Billboard Hot 100, assinalou o ponto de viragem no panorama indie pop dos anos 10 e é só um dos hits mais mórbidos, inescapáveis e falsamente felizes da década.

32º Lana Del Rey- "Video Games" (2011)- Ninguém sabia muito bem como reagir a Lana Del Rey quando esta surgiu, emergida das cinzas de um passado musical falhado enquanto Lizzy Grant, mas, da mesma forma, ninguém conseguia ir contra a inegável beleza de "Video Games": uma compelativa e desoladora composição pop barroca de atmosfera cinematográfica sobre amar intensamente e não ser amada de volta pelo parceiro, numa total anulação de vontades e ambições pessoais. A singularidade compensou.  

31º Tame Impala- "Let It Happen" (2015)- Esta é a canção que transforma os Tame Impala na banda mais importante da sua geração, aceitando a incontestável natureza da mudança ao mesmo tempo que abraçam a costela mais pop do seu som psicadélico e o expandem para linguagens disco, nuns épicos oito minutos que incluem o glitch mais famoso e questionado da década, e um coda inarticulado igualmente aclamado. 

30º Camila Cabello feat. Young Thug- "Havana" (2017)- Karla Camila estava quase a arrepender-se de ter abandonado no auge o barco das 5H, quando "Havana" chegou e a empurrou definitivamente para um destino a solo que mais cedo que tarde se haveria de cumprir. Intenso affair latino suportado por teclas gingonas e trompete sedutor, reflectiu com orgulho a herança cubana da sua intérprete, tendo prolongando durante meses a fio o surto de febre latina que invadiu o mainstream. Parte do nosso coração estará sempre em Havana-ooh-na-na.

                                                     camila cabello Camila GIF

29º Rihanna- "Kiss It Better" (2016)- Não demorou muito até percebermos que "Kiss It Better" era o momento superior de Anti (2016), mas acabou negligenciada por ter sido lançada em simultâneo com "Needed Me", o cavalo negro do disco. Toda a glória será pouca para uma faixa que canaliza o sombreado rock de "Purple Rain" e a volúpia synthpop/R&B de "Dance for You" de Beyoncé. Em suma, Rihanna por fim a fazer música à altura do seu estatuto lendário. 

28º Jai Paul- "BTSTU (Edit)" (2011)- Durante grande parte da década, o britânico Jai Paul foi um autêntico mito, construíndo toda uma reputação lendária com dois singles apenas. "BTSTU" - sigla para "Back to Save the Universe" - foi o mais colossal do par, um mutante R&B alternativo/indietronica sobre recuperar a pessoa amada que Drake ou Beyoncé não tardariam a samplar e que serviria de planta para grande parte de aventuras semelhantes de contemporâneos seus.

27º Kendrick Lamar- "Alright" (2015)- We gon' be alright. Há uma sonante mensagem de esperança neste quarto single de To Pimp a Butterfly (2015) - que Pharrell e Sounwave ajudaram notavelmente a erguer - que se torna ainda mais fulcral quando entendemos que se tornou na canção-torcha do movimento Black Lives Matter e dos protestos que grassaram pelos EUA como consequência da brutalidade policial contra afro-americanos. Assim se mede a dimensão do virtuoso K-Dot.

                                                               alright GIF by Kendrick Lamar

26º Maroon 5 feat. Christina Aguilera- "Moves Like Jagger" (2011)- Bem que lhe podemos chamar a colaboração da década pela forma extraordinária como reavivou a carreira dos envolvidos. Se para Xtina o ressurgimento foi momentâneo, para os Maroon 5 assinalaria o início da renovada popularidade: bastaram-lhes os talentos de Shellback, Benny Blanco, uma massiva produção electropop e a canalização dos icónicos movimentos de anca do lendário homem-forte dos Rolling Stones feita canção. O género de dádiva que justifica a venda da alma ao diabo.



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