REVIEW: Coldplay- A Head Full of Dreams
Em A Head Full of Dreams os Coldplay encontram de novo o caminho para a felicidade, mas entregam o álbum mais fraco e desinspirado do seu percurso.
Encarado pela banda como o encerrar de um capítulo e potencial pináculo da sua discografia, o sétimo álbum de Chris Martin e companhia é um regresso ao universo caleidoscópico e à sonoridade garrida e extasiante de Mylo Xyloto (2011), que é na verdade o disco em que os Coldplay começam a acusar algum cansaço criativo.
Esta é talvez uma postura que se impunha depois do registo mais introspectivo do anterior Ghost Stories (2014), crónica da "separação consciente" entre o vocalista e Gwyneth Paltrow, modesto na recepção por parte do público. Contrariando a norma de se fazer à estrada após o lançamento de um novo trabalho, o grupo optou por voltar ao estúdio, embalado pelo efeito pós-catarse que as novas canções haviam produzido.
Chamando a si o colaborador de longa data Rik Simpson, a dupla norueguesa Stargate (associados ao catálogo de artistas como Rihanna ou Beyoncé) e uma série de convidados ilustres para desempenhar papéis secundários, os Coldplay erguem em A Head Full of Dreams uma obra francamente optimista, mas repleta de lugares comuns.
No bamboleante tema-título regozijam-se por verem restabelecida a capacidade de sonhar a cores e acordados, num ímpeto instrumental que tanto deve a uns certos senhores irlandeses que há décadas esgotam estádios. Em "Birds" apropriam-se desavergonhadamente do padrão rítmico de "Close to Me" dos Cure, primeiro, e do esquema instrumental de "Under Cover of the Darkness" dos Strokes, logo depois, o que é tanto um atentado à inteligência dos ouvintes como à sua própria capacidade criativa. No celestial "Hymn for the Weekend" convocam Beyoncé para fazer segundas vozes (claro, porque um ferrari foi feito para estar na garagem) na tentativa de recriar "Princess of China" que deverá resultar em futuro single.
"Everglow", a peça esquecida de Ghost Stories, reune Martin à ex-mulher (quase imperceptível, nos coros) para a típica balada ao piano que os Coldplay já fizeram vezes sem conta. Só o pormenor de ter os dois cônjugues a cantar sobre o fim do casamento é que lhe confere alguma legitimidade. E "Adventure of a Lifetime", garrida explosão de cor em ambientes disco/funk, é o evidente ponto alto - funciona como a "Clocks", "Viva la Vida" ou "Paradise" deste disco. "Fun" junta os ingleses à sueca Tove Lo para mais um dueto disfuncional que soa - adivinhem - a "Princess of China, pt. III". É questionável a presença de uma segunda voz que não faz mais do que harmonizar com a de Chris Martin, talvez a reflectir sobre o caso passageiro que manteve com Jennifer Lawrence.
A segunda metade do disco traz o díptico "Army of One", construída sob bateria, dinâmicos loops vocais e o positivismo romântico do vocalista, que se expande depois em "X Marks the Spot", faixa escondida que se apresenta como a versão after dark de "Magic" - é o único momento em que os Coldplay se aventuram para fora do seu território, com resultados até bastante interessantes. "Amazing Day" sugere escapismo e gratidão divina, devolvendo-nos à era de A Rush of Blood to the Head, enquanto "Up&Up", assistida à guitarra por Noel Gallagher, nos aproxima das nuvens a cada novo batuque, acorde e cântico gospel. Na despedida, fica o conselho: "don't ever give up, believe in love".
E é isto que se retira de A Head Full of Dreams - os Coldplay recuperaram o optimismo e a capacidade de sonhar e compôr hinos que inspirem multidões, mas esqueceram-se definitivamente de como fazer grandes álbuns. E isso é algo que acontece com todas as grandes bandas do seu tempo: a dada altura deixam de resultar em disco e passam a fazer sentido e a mover milhões apenas em palco. Esperava-se que aguentassem o título por mais uns anos, mas por agora há que reconhecer que os Coldplay perderam o lugar na hierarquia pop.
Classificação: 6,1/10
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Encarado pela banda como o encerrar de um capítulo e potencial pináculo da sua discografia, o sétimo álbum de Chris Martin e companhia é um regresso ao universo caleidoscópico e à sonoridade garrida e extasiante de Mylo Xyloto (2011), que é na verdade o disco em que os Coldplay começam a acusar algum cansaço criativo.
Esta é talvez uma postura que se impunha depois do registo mais introspectivo do anterior Ghost Stories (2014), crónica da "separação consciente" entre o vocalista e Gwyneth Paltrow, modesto na recepção por parte do público. Contrariando a norma de se fazer à estrada após o lançamento de um novo trabalho, o grupo optou por voltar ao estúdio, embalado pelo efeito pós-catarse que as novas canções haviam produzido.
Chamando a si o colaborador de longa data Rik Simpson, a dupla norueguesa Stargate (associados ao catálogo de artistas como Rihanna ou Beyoncé) e uma série de convidados ilustres para desempenhar papéis secundários, os Coldplay erguem em A Head Full of Dreams uma obra francamente optimista, mas repleta de lugares comuns.
No bamboleante tema-título regozijam-se por verem restabelecida a capacidade de sonhar a cores e acordados, num ímpeto instrumental que tanto deve a uns certos senhores irlandeses que há décadas esgotam estádios. Em "Birds" apropriam-se desavergonhadamente do padrão rítmico de "Close to Me" dos Cure, primeiro, e do esquema instrumental de "Under Cover of the Darkness" dos Strokes, logo depois, o que é tanto um atentado à inteligência dos ouvintes como à sua própria capacidade criativa. No celestial "Hymn for the Weekend" convocam Beyoncé para fazer segundas vozes (claro, porque um ferrari foi feito para estar na garagem) na tentativa de recriar "Princess of China" que deverá resultar em futuro single.
"Everglow", a peça esquecida de Ghost Stories, reune Martin à ex-mulher (quase imperceptível, nos coros) para a típica balada ao piano que os Coldplay já fizeram vezes sem conta. Só o pormenor de ter os dois cônjugues a cantar sobre o fim do casamento é que lhe confere alguma legitimidade. E "Adventure of a Lifetime", garrida explosão de cor em ambientes disco/funk, é o evidente ponto alto - funciona como a "Clocks", "Viva la Vida" ou "Paradise" deste disco. "Fun" junta os ingleses à sueca Tove Lo para mais um dueto disfuncional que soa - adivinhem - a "Princess of China, pt. III". É questionável a presença de uma segunda voz que não faz mais do que harmonizar com a de Chris Martin, talvez a reflectir sobre o caso passageiro que manteve com Jennifer Lawrence.
A segunda metade do disco traz o díptico "Army of One", construída sob bateria, dinâmicos loops vocais e o positivismo romântico do vocalista, que se expande depois em "X Marks the Spot", faixa escondida que se apresenta como a versão after dark de "Magic" - é o único momento em que os Coldplay se aventuram para fora do seu território, com resultados até bastante interessantes. "Amazing Day" sugere escapismo e gratidão divina, devolvendo-nos à era de A Rush of Blood to the Head, enquanto "Up&Up", assistida à guitarra por Noel Gallagher, nos aproxima das nuvens a cada novo batuque, acorde e cântico gospel. Na despedida, fica o conselho: "don't ever give up, believe in love".
E é isto que se retira de A Head Full of Dreams - os Coldplay recuperaram o optimismo e a capacidade de sonhar e compôr hinos que inspirem multidões, mas esqueceram-se definitivamente de como fazer grandes álbuns. E isso é algo que acontece com todas as grandes bandas do seu tempo: a dada altura deixam de resultar em disco e passam a fazer sentido e a mover milhões apenas em palco. Esperava-se que aguentassem o título por mais uns anos, mas por agora há que reconhecer que os Coldplay perderam o lugar na hierarquia pop.
Classificação: 6,1/10
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O álbum anterior deles foi das maiores banhadas.
ResponderEliminarDeste ainda só ouvi "Adventure of a Lifetime" e até gosto da sonoridade, para mim supera qualquer tema que ouvi do álbum anterior.
Em todo o caso, não deixa de ser deprimente pensar no que eles já foram e no que são agora. How the mighty have fallen.
O Ghost Stories ainda se tolera, apesar da inconsistência. Tem alguns bons momentos e apresenta-os sob um prisma mais reflexivo e intimista.
EliminarEste também tem os seus bons momentos, mas no geral é uma revisitação do Mylo Xyloto. E isso não tem perdão. Não para uma banda do estatuto deles. A "Adventure of a Lifetime" é de facto a melhor que encontrarás no disco.
É ver quem pega no trono, agora.