21 de Adele: O Blockbuster do Milénio
Passam cinco anos do lançamento do mítico segundo álbum de Adele que à época salvou a indústria fonográfica do abismo. Recordemos como uma simples rapariga do norte de Londres e um disco autobiográfico mudaram o curso da história e se tornaram no maior (e inesperado) fenómeno de vendas do milénio.
Os antecedentes
Um par de singles de moderado sucesso, um disco de estreia que havia chegado a nº1 em Inglaterra e o rótulo de maior promessa atribuída pela BBC e pelos BRIT Awards, era tudo o que Adele tinha antes do virar da década. O que já não é pouco, convenhamos, mas ninguém poderia ter imaginado ou adivinhado sequer que ali estaria a obreira do maior milagre que a indústria musical conheceu em tempos recentes. Duffy e Amy Winehouse, nomes maiores da vaga soul britânica dos anos 00, tornaram possível o despontar de Adele, mas não teria acontecido o que aconteceu se a seguinte situação não se tivesse passado.
A premissa
Adele iniciou as gravações do seu segundo álbum em meados de 2009, convencida que conseguiria fazer canções mais ritmadas e contemporâneas que aquelas que se escutavam no disco de estreia. Como inspiração para as novas composições trazia o relacionamento amoroso que mantinha com um homem mais velho, a sua primeira relação séria da vida adulta. As sessões iniciais foram um fracasso, delas resultando uma só canção - "Take It All" - escrita durante um período menos bom do relacionamento. Com ela veio a dissolução do namoro. Estava então encontrada a fonte de inspiração para o disco - o universal, musicalmente produtivo e infalível desgosto amoroso.
Os produtores
Arrancar páginas do diário e registá-las em disco não teria o mesmo efeito se Adele não tivesse uma equipa de músicos experientes a guiá-la. O conterrâneo Paul Epworth foi o primeiro a ser convocado. E da ressaca da separação nasceu, sem freios, "Rolling in the Deep". Com Fraser T Smith escreveria "Set Fire to the Rain". Ryan Tedder, o frontman dos OneRepublic, foi o primeio colaborador fora do círculo habitual a quem Adele recorreu. Juntos compuseram "Turning Tables" (alinhavada depois por Jim Abbiss) e, mais tarde, "Rumour Has It". Adiante no processo de gravação juntaram-se a eles o lendário Rick Rubin, que deixou a sua marca em três dos temas que figuram no alinhamento, Greg Wells e Dan Wilson, este último o homem por detrás de "Someone Like You".
A obra
21 - idade da cantora à época da gravação do disco - surgia como único título possível para uma obra tão pessoal e que ao mesmo tempo atestava o crescimento musical face à estreia. Da escola soul cultivada em 19 acrescia agora uma maior paleta de influências a que havia sido sujeita aquando da sua digressão em terras americanas - a descoberta e enamoramento pela country, bluegrass e rockabilly - que se traduzem em alguns dos melhores momentos do disco.
Mais do que um trabalho conceptual, 21 assume-se como processo catártico para a voz que o canta e tela preenchida pelas diversidas tonalidades emocionais que tamanho rombo sentimental induz no ser humano. São canções que partem da sua experiência pessoal, mas com que qualquer um se pode identificar. Potencialmente "depressivas", mas comercialmente infalíveis. Sublimemente produzidas e interpretadas. Intemporais e universais. Assim é de "Rolling in the Deep" a "Someone Like You".
O nascimento do fenómeno
O álbum é um êxito de vendas a partir do momento em que é editado, mas há um acontecimento em particular que contribui para a sua resistência comercial e propagação à escala global. O vídeo da emotiva performance de "Someone Like You" nos BRIT Awards 2011 torna-se viral, faz disparar as vendas do álbum e da canção, e durante meses a fio serve de único veículo promocional ao tema que só ganharia um vídeo em Setembro desse ano. A noite de 15 de Fevereiro é então catalisadora dos eventos que se seguiriam no percurso de Adele.
Os singles
"Rolling in the Deep"
- Lançado a 29 de Novembro de 2010
- Produzido por Paul Epworth
- nº1 nos EUA (8x platina), Bélgica (2x platina), Brasil (platina), Canadá (9x platina), Finlândia, Alemanha (platina), Islândia, Itália (4x platina), Holanda, Coreia do Sul e Suíça (3x platina); nº2 em Portugal e UK (platina)
- Vencedor de 3 Grammys em 2012: Record of the Year, Song of the Year e Best Short Form Music Video
"Someone Like You"
- Lançado a 24 de Janeiro de 2011
- Produzido por Adele e Dan Wilson
- nº1 nos EUA (6x platina), UK (2x platina), Austrália (7x platina), Bélgica (platina), Brasil (platina), República Checa, Finlândia, França, Irlanda, Itália (7x platina), Nova Zelândia (2x platina), Polónia, Portugal, Escócia, Espanha (2x platina) e Suíça
- Vencedor de um Grammy em 2012: Best Pop Solo Performance
"Set Fire to the Rain"
- Lançado a 4 de Julho de 2011
- Produzido por Fraser T Smith
- nº1 nos EUA (4x platina), Bélgica (platina), Brasil (platina), República Checa, Israel, Holanda, Polónia, Eslováquia; nº2 no Canadá (5x platina), Finlândia e Portugal; nº11 no UK (platina)
- Vencedor de um Grammy em 2013: Best Pop Solo Performance
"Rumour Has It"
- Lançado a 5 de Novembro de 2011
- Produzido por Ryan Tedder
- nº7 na Bélgica e Israel; nº16 nos EUA (2x platina) e Canadá (2x platina); nº85 no UK
"Turning Tables"
- Lançado a 5 de Novembro de 2011
- Produzido por Jim Abbiss
- nº2 na Bélgica; nº3 em Israel; nº8 em Itália (platina); nº62 no UK e nº63 nos EUA
Os números
O impacto
O sucesso de 21 não se explica só pela concisão da obra, mas também pela capacidade de se impôr numa era fortemente dominada pela EDM e de estrelas pop artificiais e hipersexualizadas. Ou como Tris McCall do The Star-Ledger tão bem explica:
"21 appealed to Baby Boomers nostalgic for Etta James, Carole King and 'Dusty in Memphis.' It also appealed to teens struggling with the first sting of heartbreak, hipsters who missed Amy Winehouse, traditionalists weary of synthesizers and vocal effects, and non-pop fans who simply found it refreshing to hear a singer belt out her blues with conviction. By singing almost exclusively about a relationship gone wrong, Adele made songs that anyone could identify with ... 21 wasn't niche-marketed. It was made for everyone and ... everyone listened."
O seu sucesso permitiu que artistas como Emeli Sandé e Sam Smith encontrassem aclamação comercial mais facilmente, inspirou uma série de outros a acrescentar baladas confessionais ao piano ao seu repertório ("Stay" de Rihanna, "When I Was Your Man" de Bruno Mars, "All of Me" de John Legend ou "Say Something" dos A Great Big World e Christina Aguilera serão as mais evidentes) ou a inventar títulos numéricos para os seus trabalhos (4 de Beyoncé, V dos Maroon 5 ou 1989 de Taylor Swift).
A maior vitória, no entanto, será mesmo ter alcançado isto tudo numa época em que supostamente já não se vendem discos e em que fenómenos destes não estão sujeitos a acontecer. Talvez por isso este tenha acontecido.
Com isto, 21 ganhou também a sua etiqueta. Explorem-na e recordem como tudo aconteceu.
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Os antecedentes
Um par de singles de moderado sucesso, um disco de estreia que havia chegado a nº1 em Inglaterra e o rótulo de maior promessa atribuída pela BBC e pelos BRIT Awards, era tudo o que Adele tinha antes do virar da década. O que já não é pouco, convenhamos, mas ninguém poderia ter imaginado ou adivinhado sequer que ali estaria a obreira do maior milagre que a indústria musical conheceu em tempos recentes. Duffy e Amy Winehouse, nomes maiores da vaga soul britânica dos anos 00, tornaram possível o despontar de Adele, mas não teria acontecido o que aconteceu se a seguinte situação não se tivesse passado.
A premissa
Adele iniciou as gravações do seu segundo álbum em meados de 2009, convencida que conseguiria fazer canções mais ritmadas e contemporâneas que aquelas que se escutavam no disco de estreia. Como inspiração para as novas composições trazia o relacionamento amoroso que mantinha com um homem mais velho, a sua primeira relação séria da vida adulta. As sessões iniciais foram um fracasso, delas resultando uma só canção - "Take It All" - escrita durante um período menos bom do relacionamento. Com ela veio a dissolução do namoro. Estava então encontrada a fonte de inspiração para o disco - o universal, musicalmente produtivo e infalível desgosto amoroso.
Os produtores
Arrancar páginas do diário e registá-las em disco não teria o mesmo efeito se Adele não tivesse uma equipa de músicos experientes a guiá-la. O conterrâneo Paul Epworth foi o primeiro a ser convocado. E da ressaca da separação nasceu, sem freios, "Rolling in the Deep". Com Fraser T Smith escreveria "Set Fire to the Rain". Ryan Tedder, o frontman dos OneRepublic, foi o primeio colaborador fora do círculo habitual a quem Adele recorreu. Juntos compuseram "Turning Tables" (alinhavada depois por Jim Abbiss) e, mais tarde, "Rumour Has It". Adiante no processo de gravação juntaram-se a eles o lendário Rick Rubin, que deixou a sua marca em três dos temas que figuram no alinhamento, Greg Wells e Dan Wilson, este último o homem por detrás de "Someone Like You".
A obra
21 - idade da cantora à época da gravação do disco - surgia como único título possível para uma obra tão pessoal e que ao mesmo tempo atestava o crescimento musical face à estreia. Da escola soul cultivada em 19 acrescia agora uma maior paleta de influências a que havia sido sujeita aquando da sua digressão em terras americanas - a descoberta e enamoramento pela country, bluegrass e rockabilly - que se traduzem em alguns dos melhores momentos do disco.
Mais do que um trabalho conceptual, 21 assume-se como processo catártico para a voz que o canta e tela preenchida pelas diversidas tonalidades emocionais que tamanho rombo sentimental induz no ser humano. São canções que partem da sua experiência pessoal, mas com que qualquer um se pode identificar. Potencialmente "depressivas", mas comercialmente infalíveis. Sublimemente produzidas e interpretadas. Intemporais e universais. Assim é de "Rolling in the Deep" a "Someone Like You".
O nascimento do fenómeno
O álbum é um êxito de vendas a partir do momento em que é editado, mas há um acontecimento em particular que contribui para a sua resistência comercial e propagação à escala global. O vídeo da emotiva performance de "Someone Like You" nos BRIT Awards 2011 torna-se viral, faz disparar as vendas do álbum e da canção, e durante meses a fio serve de único veículo promocional ao tema que só ganharia um vídeo em Setembro desse ano. A noite de 15 de Fevereiro é então catalisadora dos eventos que se seguiriam no percurso de Adele.
Os singles
"Rolling in the Deep"
- Lançado a 29 de Novembro de 2010
- Produzido por Paul Epworth
- nº1 nos EUA (8x platina), Bélgica (2x platina), Brasil (platina), Canadá (9x platina), Finlândia, Alemanha (platina), Islândia, Itália (4x platina), Holanda, Coreia do Sul e Suíça (3x platina); nº2 em Portugal e UK (platina)
- Vencedor de 3 Grammys em 2012: Record of the Year, Song of the Year e Best Short Form Music Video
Realizador: Sam Brown
821 milhões de visualizações no YouTube
- 30º vídeo mais visto de sempre -
Vencedor de 3 VMAs e um Grammy Award
"Someone Like You"
- Lançado a 24 de Janeiro de 2011
- Produzido por Adele e Dan Wilson
- nº1 nos EUA (6x platina), UK (2x platina), Austrália (7x platina), Bélgica (platina), Brasil (platina), República Checa, Finlândia, França, Irlanda, Itália (7x platina), Nova Zelândia (2x platina), Polónia, Portugal, Escócia, Espanha (2x platina) e Suíça
- Vencedor de um Grammy em 2012: Best Pop Solo Performance
Realizador: Jake Nava
632 milhões de visualizações no YouTube
"Set Fire to the Rain"
- Lançado a 4 de Julho de 2011
- Produzido por Fraser T Smith
- nº1 nos EUA (4x platina), Bélgica (platina), Brasil (platina), República Checa, Israel, Holanda, Polónia, Eslováquia; nº2 no Canadá (5x platina), Finlândia e Portugal; nº11 no UK (platina)
- Vencedor de um Grammy em 2013: Best Pop Solo Performance
"Rumour Has It"
- Lançado a 5 de Novembro de 2011
- Produzido por Ryan Tedder
- nº7 na Bélgica e Israel; nº16 nos EUA (2x platina) e Canadá (2x platina); nº85 no UK
"Turning Tables"
- Lançado a 5 de Novembro de 2011
- Produzido por Jim Abbiss
- nº2 na Bélgica; nº3 em Israel; nº8 em Itália (platina); nº62 no UK e nº63 nos EUA
Os números
O porquê de ser o maior blockbuster do milénio:
30,000,000
milhões de cópias vendidas a nível mundial, fazem de 21 o disco mais vendido do séc. XXI
11,370,000
milhões de cópias registadas nos EUA; é o 10º álbum mais vendido em solo americano desde que a Nielsen Music começou a monitorizar as vendas em 1991
4,800,000
valor alcançado no Reino Unido; é o 4º disco mais vendido de sempre em Inglaterra
16
platinas conquistadas no Reino Unido; é a certificação mais elevada alguma vez atribuída a um disco
24
nº de semanas que o álbum passou na liderança da Billboard 200, dez delas consecutivas. No Reino Unido foram 23.
38
é na Bélgica e Nova Zelândia, no entanto, que o disco tem a maior estadia a nível global no nº1. Nove meses e meio, mais precisamente. Também há registo de três dígitos na Irlanda (35), Austrália (32) e Holanda (30).
7
total de Grammys arrebatados com o disco, entre eles o de Melhor Álbum, Canção e Gravação em 2012.
O sucesso de 21 não se explica só pela concisão da obra, mas também pela capacidade de se impôr numa era fortemente dominada pela EDM e de estrelas pop artificiais e hipersexualizadas. Ou como Tris McCall do The Star-Ledger tão bem explica:
"21 appealed to Baby Boomers nostalgic for Etta James, Carole King and 'Dusty in Memphis.' It also appealed to teens struggling with the first sting of heartbreak, hipsters who missed Amy Winehouse, traditionalists weary of synthesizers and vocal effects, and non-pop fans who simply found it refreshing to hear a singer belt out her blues with conviction. By singing almost exclusively about a relationship gone wrong, Adele made songs that anyone could identify with ... 21 wasn't niche-marketed. It was made for everyone and ... everyone listened."
O seu sucesso permitiu que artistas como Emeli Sandé e Sam Smith encontrassem aclamação comercial mais facilmente, inspirou uma série de outros a acrescentar baladas confessionais ao piano ao seu repertório ("Stay" de Rihanna, "When I Was Your Man" de Bruno Mars, "All of Me" de John Legend ou "Say Something" dos A Great Big World e Christina Aguilera serão as mais evidentes) ou a inventar títulos numéricos para os seus trabalhos (4 de Beyoncé, V dos Maroon 5 ou 1989 de Taylor Swift).
A maior vitória, no entanto, será mesmo ter alcançado isto tudo numa época em que supostamente já não se vendem discos e em que fenómenos destes não estão sujeitos a acontecer. Talvez por isso este tenha acontecido.
And that is how I've done it, folks! |
Com isto, 21 ganhou também a sua etiqueta. Explorem-na e recordem como tudo aconteceu.
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