12 Figuras Que Marcam a Pop do Séc. XXI (10º-Adele)


Corria o ano de 2008 quando a denominada vaga da nova soul britânica possibilitava a bem sucedida exportação de três intérpretes femininas: Amy Winehouse, Duffy e Adele. A primeira, como se sabe, desapareceu tragicamente do mundo terreno há quatro anos. A segunda viveu um efémero mas intenso período de fama com a qual não soube lidar, entregando-se a um hiato musical que perdura há cinco anos. Sobra Adele, que contra todos os vaticínios se tornou na única resistente e no maior caso de popularidade das três.

O arranque discográfico com o autobiográfico 19 (2008) não é particularmente memorável, apesar de bem recebido pela crítica e com alguma incidência a nível comercial. O big bang dá-se três anos mais tarde com a edição do seu sucessor, 21 - alusivo à idade da cantora no momento da composição e gravação do disco - no mesmo molde autobiográfico da estreia mas com um maior refinamento sónico: a exploração do blues e da country e a abertura a um leque mais variado de produtores. Pelo meio, um ingrediente fulcral - a narração de um desgosto amoroso, num assumido processo catártico.

O timing não poderia ser melhor. O panorama musical da época estava saturado de investidas dance pop e EDM que se multiplicavam como clones, numa tendência que havia despontado na Europa e já se alastrara aos Estados Unidos, e de uma Lady Gaga - à época a maior estrela planetária - a acusar os primeiros sinais de fadiga. Eis que Adele surge então como a próxima grande cena, com canções de lavra clássica e honestamente tecidas a causar fortes repercussões nos ouvintes e a deitar por terra dois pressupostos: o de que cantoras com formas roliças jamais poderão alcançar idênticos níveis de sucesso aos das suas colegas de profissão que se enquadram nos cânones de beleza ditados pela indústria musical, e que pequenas editoras independentes - Adele assinala pela britânica XL Recordings - não podem ousar ombrear com as majors ou sequer produzir um best-seller.

O álbum torna-se então no colosso de vendas que se conhece - 30 milhões de cópias vendidas em todo o mundo fazem de 21 o disco mais vendido no séc. XXI - sendo responsável pela reanimação da indústria fonográfica num dos seus períodos mais preocupantes de sempre. O mesmo acontece quando edita 25, o sucessor, no final de 2015, e cilindra praticamente todos os recordes anteriormente estabelecidos, despachando 15 milhões de cópias do registo em pouco mais de um mês e atenuando, desta forma, a queda acentuada das vendas físicas e digitais de discos. 

Adele consegue-o conservando as propriedades que a tornaram numa artista diferenciadora: uma grande voz explorada em grandes canções autobiográficas que ecoam nos ouvintes, aliada a uma tremenda personalidade, integridade artística e simplicidade que não é comum em estrelas do seu calibre. Dois milagres consecutivos são razão de sobra para uma futura canonização da santa padroeira dos milhões.



Nota: O texto (originalmente escrito em Junho de 2015) recebeu ligeiras modificações de modo a acompanhar os últimos acontecimentos na carreira da artista e ser agora publicado. Como tal, subiu também um lugar na lista face à posição original. 

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