12 Figuras Que Marcam a Pop do Séc. XXI (1º-Kanye West)


Egocêntrico. Megalómano. Imbecil. Penitente. Impertinente. Terror das cerimónias de prémios. Apontemos-lhe todos os defeitos mas não nos esqueçamos da sua maior virtude: génio. Por sinal, o maior que este século já conheceu. E automaticamente tudo o resto deve ser menosprezado ou, quanto muito, compreendido - porque com a genialidade vem também uma boa dose de loucura.

Na verdade, é mais fácil odiar Kanye West com justa causa do que idolatrá-lo com o mesmo propósito. Ele vocifera, contesta, aponta e insurge-se contra tudo em seu redor porque além de génio, é essencialmente incompreendido. Não há actos premeditados, um boneco forçado ou persona artística envolvida na sua conduta - apenas um homem e a sua arte, desejoso de fazer passar a sua mensagem, frustrado sempre que isso não acontece.

É uma figura do hip hop com profundo impacto na esfera pop. Onde mais do que pertencer, sempre quis ser respeitado. E é da sua maior ambição e realização que nasce a sua frustração - o mainstream gravita em seu redor quer pelos comentários inflamados que faz, pelo interesse mediático que gera o seu casamento com Kim Kardashian (não é que acaba caçado pela maior gold digger à face da terra?) ou pela simples necessidade de ter de alimentar um dos seus maiores vilões. Quase nunca pelas razões certas.

Onde fica a música no meio disto? Em 6 álbuns excelentes, influentes e à frente do seu tempo que apenas recolhem louvores da crítica especializada, raramente do público, ocupado que está a odiá-lo. Este é o homem que se autoproclama como divindade, sim, mas também aquele que melhor tem sabido aliar a visão ao engenho num percurso absolutamente ímpar. Vale a pena tentar perceber o porquê.

Ponto um. A trilogia baseada na educação que apresenta nos três primeiros álbuns. The College Dropout (2004) triunfa pelo derrubar da figura gangster então vigente no mundo do hip hop, através de uma colecção de canções que versam acerca da família, religião, materialismo ou do racismo institucional, e inova ao estabelecer a sua marca de produção sustentada em samples de clássicos soul. No sucessor Late Registration (2005), convoca Jon Brion, um compositor cinematográfico americano, inspirado pelos trabalhos deste com Portishead e Fiona Apple, a combinar os ritmos agressivos e pulsantes do hip hop com uma orquestra de cordas num antro de pop barroca em que são incorporados uma série de instrumentos pouco usuais na música popular moderna - desde celesta, cravo, berimbau, até marimbas ou vibrafones. Graduation (2007), a peça final, nasce da sua ambição de querer fazer hip hop hínico e inspiracional capaz de ressoar no público e à medida de grandes arenas, um desejo que surge ao abrir concertos para os U2 e aperceber-se do efeito que Bono e companhia surtem na multidão. Sonicamente inspira-se na música house da sua Chicago natal e expande-se a elementos de euro-disco, rock progressivo, dub, electrónica ou synthpop, optando também por um modelo de produção mais económico à imagem de bandas da cena rock alternativa que admira, como os The Killers, Keane ou Modest Mouse. Ponto da situação: 3 discos em apenas 4 anos, sempre a pensar para lá dos limites do hip hop.

Ponto dois. Dar um passo atrás para mais tarde dar três em frente. O mal-amado 808s & Heartbreak (2008) é contestado pela ruptura sónica, lírica e estética com o seu passado ou até mesmo para com as fundações do hip hop. É tido como um álbum maioritariamente electropop de recorte minimal. Com uma cadência vocal mais cantada do que derivativa do rap. Marcada pelo uso intensivo de auto-tune - infame processador de voz - e da mítica drum machine Roland TR-808, utilizados com o propósito de dar expressão ao coração destroçado do seu intérprete e conferir alguma frieza de carácter a um disco tão pessoal que nasce de vários dramas pessoais: a morte da mãe, o fim do noivado com a namorada de longa data e a dificuldade de adaptação à condição de estrela pop. Apesar de recebido com menos entusiasmo pela crítica e pelo público face às suas obras anteriores, o disco torna-se responsável pelo aparecimento de uma nova colheita de rappers/crooners R&B que fazem da introspecção e purga de emoções o seu ADN artístico - Drake, B.o.B, Kid Cudi, Childish Gambino, Frank Ocean ou The Weeknd. Uma vez mais, Kanye a mostrar o caminho.

Ponto três. A transcendência por via da genialidade. O aclamadíssimo My Beautiful Dark Twisted Fantasy (2010) é expressão maximalista do que fez no passado e um retrato opulento e meditativo de si mesmo tanto na esfera pop como no mundo que o rodeia - a fama, o consumismo, o "sonho americano", decadência, tópicos raciais e vícios como pinturas numa tela grandiosa à medida do seu génio rebuscado. Yeezus (2013), ainda o último capítulo discográfico, procura a transgressão e a ruptura dos costumes através da arte crua de acabamento minimalista com propósitos ruidosos, hostis e dissonantes onde cabe o drill de Chicago, dancehall, acid house e hip hop industrial. A história repete-se: a crítica aplaude, o público faz esgares de desagrado. Mas o tempo tratará de o revelar tão influente quanto 808s & Heartbreak o foi.

Daqui se conclui que Mr. West é a figura pop mais marcante do século XXI. Um visionário que questiona, baralha e instiga, a desafiar os limites do hip hop como ninguém - é deles que parte para criar a sua fantasia ora bela, ora obscura, ora retorcida, dando significado a um mundo que nem sempre lhe retribui a significância. Avé Kanye.



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