12 Figuras Que Marcam a Pop do Séc. XXI (4º-Britney Spears)


Representação máxima da dita bubblegum/teen pop em voga no final da década de 90, Britney Spears entra no novo milénio com o título de maior estrela pop planetária às costas, estatuto que mantém, pelo menos, durante os primeiros quatro anos do século XXI.

Durante esse período edita três álbuns de estúdio, todos eles de enorme sucesso: o não-tão-inocente-assim Oops!... I Did It Again (2000), ainda num reduto de teen pop, o homónimo Britney (2001) a reflectir a imagem de adolescente rebelde ao espelho, e a chegada à maturidade com In the Zone (2003) – morada desse monumento à pop dos anos 00 que é “Toxic” – a assumir o compromisso de expandir as fronteiras estilísticas e sónicas do seu tempo. Há lugar ainda para uma revisão em formato best of de 5 anos de carreira recheados de êxitos em Greatest Hits: My Prerogative (2004). E depois, o caos.

A intensa agenda profissional entra em rota de colisão com a vida pessoal da cantora – o casamento e a chegada dos dois filhos dão lugar ao divórcio, à perda da custódia dos rebentos e a sucessivas entradas em clínicas de reabilitação – num muito mediático meltdown que durou cerca de dois anos. Até na hora do colapso Britney é pioneira, tornando-se na primeira estrela da Disney – de 1993 a 1995 integrou o elenco do Mickey Mouse Club – a sucumbir em adulta aos efeitos nefastos de uma precoce e intensa exposição aos holofotes. Que o digam Miley Cyrus, Demi Lovato ou Justin Bieber – este estrela do YouTube – também eles antigos ídolos juvenis que descarrilaram (com menor ou maior aparato) em anos recentes.

Não deixa de ser curioso, porém, que tenha sido nesse período conturbado que Britney Spears edita o disco mais aclamado e influente do seu percurso, ainda que comercialmente abaixo dos seus antecessores. Blackout (2007) concentra o caos que era então a sua vida na pista de dança, num álbum dominado por sintetizadores de apelo urbano, experimentações underground (é das primeiras artistas pop a flirtar com o dubstep) e pelo recurso a ferramentas estilísticas pouco usuais à época, como o auto-tune, que nas suas mãos é mais do que um mero engenho: é expressão de hedonismo, amor e escárnio – uma fonte de vida.

Segue-se em 2008 um celebrado regresso das cinzas com o apropriado Circus, tentativa bem conseguida de voltar aos lugares cimeiros dos topes, ainda que numa conduta pop mais polida e menos ambiciosa que esforços anteriores. O regresso triunfante não deixa de espelhar uma América que parece ter um prazer mórbido na adoração, queda e ascensão dos seus ícones (sejam de que área artística forem) tudo em prol do puro espectáculo e dos cifrões que tais maquinações acarretam. Os anos seguintes acrescentam dois títulos à discografia: o festim electrónico de Femme Fatale (2011), ainda minimamente decente, e o imaginemos-que-nem-chegou-a-acontecer Britney Jean (2013), já sem qualquer relevância comercial e artística.

Olhamos para Britney Spears em 2015 e vemos uma cantora refém do seu próprio passado, impossibilitada de pôr fim a um sonho de criança germinado pelas expectativas parentais e que floresce ao ponto de se tornar num fardo. É, para todos os efeitos, uma princesa da pop cristalizada – em parte porque não tem (ou já não está interessada em ter) aquilo que é preciso para herdar o trono de Madonna, mas também porque nenhuma outra artista feminina surgida neste século conseguiu igualar os feitos, os milhões e a relevância geracional por ela alcançados.

Falar de si é falar dos produtores que ajudaram a construir a sua carreira – de Max Martin, Danja, Bloodshy & Avant ou Dr. Luke – das dezenas de intérpretes femininas que moldaram um percurso à sua imagem ou de um panorama musical que ficou mais rico/pobre (escolher consoante o ponto de vista) à sua passagem. O mito perdurará enquanto estiver ligada à máquina.

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