O extraordinário caso de "Piece by Piece"
A pop é um lugar estranho, mas sobretudo ingrato, para os que gravitam em torno dela. Como uma amante cruel e temperamental, exige dedicação, afecto e rápida capacidade de reacção face a potenciais crises. Quando atinge o seu ponto de saturação, larga sem dó nem piedade quem tanto a fez feliz. Porque a próxima vítima é sempre mais apetecível.
Na música, como no amor, a química é essencial. E o encantamento do público com a maioria dos artistas que povoam o mainstream não dura para todo o sempre. Recordemos quem eram os titãs comerciais de há dez anos: Madonna, Beyoncé, Timbaland, Christina Aguilera, Black Eyed Peas, Nelly Furtado, Gwen Stefani e Kelly Clarkson. De quando datam os seus últimos grandes hits? Da década passada. Pois...
Mrs Carter e Kelly Clarkson serão as excepções à regra, mas com exemplos pontuais. Se Beyoncé continua a ser um ícone relevante e transversal a várias gerações, o mesmo não se pode dizer da American Idol original. O virar da década trouxe-lhe apenas um hit - o já pouco memorável "Stronger (What Doesn't Kill You)" em 2012 - e a perda da hegemonia comercial, mas em retorno deu-lhe uma série de coisas positivas, entre elas serenidade editorial, estabilidade e felicidade no plano familiar, com um marido, uma filha e um outro rebento a caminho.
Pode-se pensar que para tal suceder houve um abrandamento no ritmo discográfico, mas a verdade é que na primeira metade dos anos 10 Kelly editou 4 (!) álbuns que deram origem a 11 singles, dez deles de modesto (ou nenhum) sucesso. É sabido que é uma das artistas mais acarinhadas pelas massas, mas esse amor não se traduz necessariamente em êxito comercial. Os tempos (e as canções, na verdade) são dominados por outros: Taylor Swift, Justin Bieber, Adele, Ariana Grande, The Weeknd ou Meghan Trainor. Não necessariamente adversários, mas sintomáticos dos gostos e preferências das gerações actuais.
Kelly voltou a ter honras de destaque por estes dias, quando voltou à casa que a viu nascer - American Idol na FOX - para uma fabulosa actuação da canção-título do seu último álbum. Estima-se que perto de 9 milhões de americanos tenham assistido ao episódio daquela noite (uma ninharia comparada aos cerca de 40 milhões de tempos idos) mas o alcance foi global. Numa questão de horas, "Piece by Piece" correu disparada para o nº1 de várias lojas iTunes e o vídeo da actuação tornou-se viral.
Eis o que é caricato. Há um ano o tema foi um dos singles promocionais em antecipação ao álbum e foi alvo de uma remistura (muito duvidosa, convenhamos) ao tornar-se single oficial há coisa de quatro meses. O impacto? Zero. O tema não teve qualquer expressão comercial, quer nos EUA ou na Letónia. Bastou a Kelly voltar pela última vez (American Idol está na sua temporada final) ao programa que lhe deu visibilidade e comover a plateia e espectadores com uma releitura ao piano de uma canção muito pessoal e emotiva, para mudar o curso da história.
O momento singelo terá tocado nalgum ponto nevrálgico de uma América esquecida mas sempre orgulhosa das suas próprias glórias. O efeito é de tal modo arrasador que na primeira semana pós-actuação a canção entra para o 8º lugar da Billboard Hot 100 e devolve o respectivo álbum ao top 10 da tabela de álbuns, de onde não havia regressado desde a semana de estreia, em Março do ano passado. Tudo graças ao poder de uma só actuação.
É cedo para dizer se a canção se sustentará depois do burburinho ter acalmado, mas face à extraordinária reacção já foi disponibilizada a versão de estúdio da releitura ao piano, aclamada universalmente como sendo a melhor das três existentes. É muito bom ter de volta à primeira liga do mainstream uma artista que, por demérito alheio, perdeu o seu lugar na hierarquia pop. E ainda que por uma semana apenas, esta deixa de ser um lugar menos estranho e bem menos ingrato.
Na música, como no amor, a química é essencial. E o encantamento do público com a maioria dos artistas que povoam o mainstream não dura para todo o sempre. Recordemos quem eram os titãs comerciais de há dez anos: Madonna, Beyoncé, Timbaland, Christina Aguilera, Black Eyed Peas, Nelly Furtado, Gwen Stefani e Kelly Clarkson. De quando datam os seus últimos grandes hits? Da década passada. Pois...
Mrs Carter e Kelly Clarkson serão as excepções à regra, mas com exemplos pontuais. Se Beyoncé continua a ser um ícone relevante e transversal a várias gerações, o mesmo não se pode dizer da American Idol original. O virar da década trouxe-lhe apenas um hit - o já pouco memorável "Stronger (What Doesn't Kill You)" em 2012 - e a perda da hegemonia comercial, mas em retorno deu-lhe uma série de coisas positivas, entre elas serenidade editorial, estabilidade e felicidade no plano familiar, com um marido, uma filha e um outro rebento a caminho.
Pode-se pensar que para tal suceder houve um abrandamento no ritmo discográfico, mas a verdade é que na primeira metade dos anos 10 Kelly editou 4 (!) álbuns que deram origem a 11 singles, dez deles de modesto (ou nenhum) sucesso. É sabido que é uma das artistas mais acarinhadas pelas massas, mas esse amor não se traduz necessariamente em êxito comercial. Os tempos (e as canções, na verdade) são dominados por outros: Taylor Swift, Justin Bieber, Adele, Ariana Grande, The Weeknd ou Meghan Trainor. Não necessariamente adversários, mas sintomáticos dos gostos e preferências das gerações actuais.
Kelly voltou a ter honras de destaque por estes dias, quando voltou à casa que a viu nascer - American Idol na FOX - para uma fabulosa actuação da canção-título do seu último álbum. Estima-se que perto de 9 milhões de americanos tenham assistido ao episódio daquela noite (uma ninharia comparada aos cerca de 40 milhões de tempos idos) mas o alcance foi global. Numa questão de horas, "Piece by Piece" correu disparada para o nº1 de várias lojas iTunes e o vídeo da actuação tornou-se viral.
Eis o que é caricato. Há um ano o tema foi um dos singles promocionais em antecipação ao álbum e foi alvo de uma remistura (muito duvidosa, convenhamos) ao tornar-se single oficial há coisa de quatro meses. O impacto? Zero. O tema não teve qualquer expressão comercial, quer nos EUA ou na Letónia. Bastou a Kelly voltar pela última vez (American Idol está na sua temporada final) ao programa que lhe deu visibilidade e comover a plateia e espectadores com uma releitura ao piano de uma canção muito pessoal e emotiva, para mudar o curso da história.
O momento singelo terá tocado nalgum ponto nevrálgico de uma América esquecida mas sempre orgulhosa das suas próprias glórias. O efeito é de tal modo arrasador que na primeira semana pós-actuação a canção entra para o 8º lugar da Billboard Hot 100 e devolve o respectivo álbum ao top 10 da tabela de álbuns, de onde não havia regressado desde a semana de estreia, em Março do ano passado. Tudo graças ao poder de uma só actuação.
É cedo para dizer se a canção se sustentará depois do burburinho ter acalmado, mas face à extraordinária reacção já foi disponibilizada a versão de estúdio da releitura ao piano, aclamada universalmente como sendo a melhor das três existentes. É muito bom ter de volta à primeira liga do mainstream uma artista que, por demérito alheio, perdeu o seu lugar na hierarquia pop. E ainda que por uma semana apenas, esta deixa de ser um lugar menos estranho e bem menos ingrato.
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