12 Figuras Que Marcam a Pop do Séc. XXI (2º-Beyoncé)
Podemos estabelecer vários paralelismos entre o percurso de Justin e o de Mrs. Carter. A saber: à semelhança deste, também Beyoncé faz escola num dos maiores grupos norte-americanos do final de século XX e início do século XXI, as Destiny's Child, onde cedo se destaca como o elemento mais fulcral da banda. Tal como Justin, também se lança a solo com meses de diferença, almejando igual êxito, reputação e estatuto de ícone. Da mesma forma que o autor de "Cry Me a River" envereda pela Sétima Arte, também ela concilia a carreira na música com o cinema. Até na lealdade para com os seus respectivos parceiros revelam pontos de contacto: se Beyoncé tem em Jay-Z um companheiro para a vida, Timberlake tem em Timbaland - com as respectivas distâncias - um braço direito e suporte criativo em que se tem apoiado desde o início do seu percurso a solo. Derradeiro fio condutor, a apontar à saudade: são as últimas grandes estrelas nascidas e criadas sob a alçada da MTV, que melhor transportam os valores e a imagética do canal nas suas obras. Em termos mais simples: os maiores artistas da sua geração.
Beyoncé alicerça desde o primeiro instante as suas fundações na instituição do rhythm and blues e dali parte para uma bem-sucedida carreira em nome próprio que em 12 anos conheceu 5 álbuns de estúdio, quatro digressões mundiais de enorme sucesso e inúmeros louvores. Dangerously in Love (2003), o longa-duração de estreia lançado ainda em pleno hiato das Destiny's Child, faz-se pela obra e graça de uma canção apenas, "Crazy in Love" - com o seu loop de trompa recuperado a uma faixa dos anos 70 dos Chi-Lites - considerada pela crítica especializada como um dos melhores temas da década passada e a confirmar as mais promissoras suspeitas relativamente à sua intérprete. Há ainda tempo no ano seguinte para o último sopro de vida da banda que partilhava com Kelly Rowland e Michelle Williams com o derradeiro disco de originais, e depois, a chegada dos primeiros papéis de relevo no cinema, entre eles a personagem de Deena Jones desempenhada no drama musical Dreamgirls (2006) que lhe serve de inspiração à criação e composição do segundo álbum de estúdio, B'Day, editado no dia do seu 25º aniversário - a primeira obra de Beyoncé nitidamente marcada por ideais feministas e pelo conceito de fortalecimento da mulher, temas que dali em diante seriam sempre recorrentes no universo da cantora.
O contraste entre as suas facetas artísticas - a animalesca, transposta em palco, e a de mais recatada intérprete - dá o mote a I Am... Sasha Fierce (2008), com a primeira metade a manter-se fiel à sua herança de canções midtempo e baladas R&B e a segunda a reflectir ao espelho uma imagem mais carnal, traduzida em explorações uptempo de electropop. Novamente, uma canção a figurar na memória colectiva: "Single Ladies (Put a Ring On It)", cujo icónico vídeo a preto e branco e a sua mítica coreografia foram responsáveis pela primeira grande dancemania - um pouco à semelhança do que viria a acontecer com "Gangnam Style" ou "Harlem Shake" - da era digital, propulsionada pela explosão do YouTube.
Nos últimos dois lançamentos discográficos, Beyoncé torna-se essencialmente numa artista de álbuns - a valer pelo todo e não apenas pelos singles - e o que perde em termos comerciais ganha em fulgor criativo. Isso é particularmente notório com a edição de 4 (2011), um álbum R&B dos sete costados com ramificações soul, funk e hip hop a traduzir em formato disco aquilo que a sua intérprete é em palco, e com a última obra homónima, lançada no final de 2013 sem aviso prévio ou qualquer estratégia de marketing massiva e apenas em formato digital no iTunes, batendo recordes de vendas e revolucionando a indústria pelo caminho - não só era o movimento mais significativo desde a estratégia pague-o-que-bem-entender adoptada pelos Radiohead no lançamento de In Rainbows (2007), como ditava novas regras, inspirando lançamentos futuros no mesmo género (Drake, U2, Skrillex ou D'Angelo seguir-lhe-iam as pisadas). O disco torna-se também no primeiro álbum inteiramente visual da história da música ao ser distribuído com 17 vídeos ilustrativos das suas canções, que viram Beyoncé a colaborar com produtores de menor visibilidade, a abordar sem rodeios tópicos como a depressão pós-parto, desigualdade de géneros, emancipação sexual ou o culto excessivo da vaidade, e a explorar uma paleta de estilos musicais mais diversificada que as cores primárias do R&B.
Não há neste século outra figura tão congregadora de tribos e géneros - é idolatrada tanto por mulheres como por homens, agradando ora a hipsters, rockers ou hip hoppers - a dispensar títulos honoríficos ou epítetos. Assim é o poder de Beyoncé.
Comentários
Enviar um comentário