A incrível terceira vida de Dawn Richard


O nome dificilmente diz algo a alguém. Mas todos nós já nos cruzámos com Dawn Richard pelo menos uma vez na vida.

A primeira foi exactamente há 10 anos num certo programa da MTV intitulado Making the Band 3, aquele tal em que P. Diddy se esfalfava por encontrar um grupo musical que fosse a próxima grande cena. A peculiaridade dessa terceira série era que Diddy estava à procura de uma girlsband que pudesse competir num nicho em que as Destiny's Child diziam adeus e as Pussycat Dolls acenavam. Não o conseguiu logo à primeira tentativa, mas na segunda temporada o grupo ganhou forma e nasceram as Danity Kane.

Ainda que na memória colectiva esta girlsband não passe de um borrão, há registos que comprovam a sua existência. Enquanto quinteto estiveram juntas de 2005 a 2009 e nesse período editaram dois discos que se estrearam no nº1 da tabela de álbuns norte-americana. E dos poucos singles que lançaram, dois deles estiveram no top 10 da Billboard Hot 100 ("Show Stopper" e "Damaged").

Digamos que foram as Fifth Harmony da década passada. E, saliente-se, Dawn nem era dos elementos mais reconhecidos da banda. Mas foi a única que Diddy decidiu manter na sua Bad Boy Records quando esta terminou em 2009 (com todo o drama televisivo inerente) e os seus membros se dispersaram. E assim surgiu o colectivo Diddy - Dirty Money

Formado pelo próprio Sean Combs, Dawn Richard e Kalenna Harper, foi através dessa designação que editaram em 2010 Last Train to Paris - ainda o último lançamento discográfico do rapper - recebendo rasgados elogios da crítica pela incorporação das novas tendências eurodance, techno e house ao núcleo hip hop de Diddy. Dali resultou algum do seu melhor trabalho nos últimos anos e pérolas como "Hello Good Morning" ou a triunfante "Coming Home".

O colectivo eventualmente esmoreceu e dissipou-se em meados de 2012, mas Dawn continuou a desenvolver a sua identidade musical a solo enquanto artista independente, estando actualmente a braços com um projecto conceptual que desafia rótulos, estéticas visuais e sónicas - e assim chegamos à sua incrível terceira encarnação

A caminhada começa com o EP Armor On (2012), o primeiro indício de corte com o passado e o compromisso para com novas linguagens, lançado pelo seu próprio selo Our Dawn Entertainment. Em 2013 embarca numa trilogia de álbuns acerca de amor, perda e redenção que já conheceu dois capítulos: o inaugural Goldenheart (2013) que faz o luto do coração em ambientes medievais com canções midtempo que combinam texturas dream pop com R&B alternativo, e o aclamado Blackheart em Janeiro último (do qual a Pitchfork é fã), a lidar com perdas pessoais em produções mais negras e de tónica electrónica acentuada. Para 2016 está prometido o derradeiro capítulo, Redemption Heart, que deixa antever um caminho mais luminoso e apaziguador. 

Pelo meio da trilogia houve ainda uma tentativa falhada de reactivar as Danity Kane em 2014, já sem o aval de Diddy e reduzidas a trio, que resultou numa autêntica salganhada laboral com uma tremenda catfight a ditar o fim definitivo do grupo. Aliás, nem se percebe o porquê de Dawn ter decidido voltar à banda, visto que nada de bom esta tinha para lhe oferecer. Apenas natureza morta e um claro retrocesso criativo. 

Dito isto, podemos colocar Dawn na mesma liga de FKA twigs ou Kelela, artistas com pulso, identidade particular e um intelecto muito desenvolvido, à frente do seu próprio tempo. Mas nenhuma das duas possui uma história tão preenchida, inusitada e cheia de sobressaltos quanto a de Dawn Richard, que do mainstream e da alçada de um rapper empresário famosíssimo, migra para as profundezas do R&B, rodeia-se de um conjunto de indivíduos talentosos que ajudam a erguer a sua visão e joga o jogo de acordo com as suas próprias regras, custeado por si mesma. 

Vale a pena conhecerem melhor o seu trabalho:



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