Reencontros

Algures em Montreal, Adele diz "olá" do outro lado da linha e ninguém perde a hipótese de aceitar a chamada. Milhas adiante, neste país a que chamamos casa, um milhão e picos de portugueses assistem à nova temporada do The Voice e dão de caras com uma antiga conhecida - um bom fim de semana para reencontros, está visto.



Filipa Azevedo diz muito a muita gente. Foi a vencedora de Família Superstar na SIC em 2007 quando contava apenas com 16 anos. Três mais tarde, representou Portugal na Eurovisão. Outros cinco sem notícia alguma dela e encontramo-la agora de volta à estaca zero, ainda com os mesmos sonhos e uma mão cheia de nada. Com a voz imensa que se lhe conhece, mas desiludida.

"Tive pouca sorte", diz quando uma das mentores que a reconhece a questiona sobre o porquê de estar ali. Não sem antes ter virado as quatro cadeiras e relembrado aos portugueses (se é que estes se tinham esquecido) o quão espantosa é, para logo de seguida os compadecer com a sua história inglória. 

Há muito que os talent shows portugueses deixaram de ser uma plataforma apenas para novatos, acolhendo cada vez mais veteranos nestas andanças para tentarem uma segunda, terceira ou 'n' oportunidade no mundo da música. Basta lembrarmo-nos dos bem-sucedidos casos de Berg (Factor X 2013), Rui Drumond (The Voice Portugal 2014) e Bruno Correia (Rising Star) que acabaram por vencer os respectivos programas. Nem precisamos de ir a outras paragens: nesta mesma edição do formato da RTP1 recuperámos Joana Melo, antiga "aluna" da edição inaugural da Operação Triunfo em 2003.

É curioso observar a mudança de paradigmas destes concursos. E, para bem de todos os intervenientes, é melhor tê-los como meros produtos de entretenimento onde não se constroem carreiras ou se traçam destinos. São oportunidades, como tantas outras na vida, que tanto podem dar a algum lado como a lado nenhum. O que cada concorrente faz depois com a projecção alcançada é que determina o seu êxito.

É inevitável olharmos para o caso da Filipa Azevedo e não constatarmos que espelha o estado de um país que todos os anos vê milhares de jovens qualificados e desiludidos a abandonar a pátria em busca de melhores oportunidades de vida noutro lugar, isto porque aqui encontram as portas todas fechadas. E, nesse sentido, os talent shows têm feito mais pelos jovens do que o próprio governo.

O dela é particularmente gritante porque vencer um concurso ido nos mesmos moldes e representar Portugal na Eurovisão (é ainda a detentora da melhor classificação lusa dos últimos 5 anos), nada lhe trouxe a não ser o regresso ao anonimato. Uma rapariga tão jovem, talentosa e que já tanto nos deu não se devia sentir assim nem ser abandonada à sua própria sorte. Mas a sua desgraça acaba por ser a mina de ouro deste The Voice. Que cadeia alimentar tão estranha é esta?

Não sei o que a espera depois disto, mas talvez este tenha sido o melhor recomeço possível. Será preciso muita cabeça e integridade para seguir viagem, mas é essa também a mais-valia de um retornado - saber evitar os erros da primeira vez. Que seja desta que a sorte lhe sorria.

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Comentários

  1. E quais as razões para isto? São muitas e certamente páginas como esta podem contribuir para melhorar as coisas.

    São os programas das tardes de fim de semana dos canais generalistas que passam horas a transmitir música de 5.ª categoria, sem ofensa para ninguém.

    São as editoras nacionais, que muitas vezes em vez de produzirem um produto com qualidade preferem produzir 20 sem qualidade nenhuma. Os tais que depois alimentam os referidos programas.

    É a propensão de muitos portugueses para consumirem tudo o que vem de fora, por pior que seja.

    Além da música "pimba" portuguesa, temos também agora a música brasileira e angolana. Não que não haja boa música brasileira e angolana, ou pelo menos brasileira porque angolana não me lembro de ter ouvido nada de jeito, mas muita da que aqui é consumida certamente não o é.

    Depois ainda vemos em Portugal uma especial queda para apoiar artistas dos Estados Unidos ou Reino Unido que não fazem sucesso em mais lado nenhum. Ainda há pouco tempo vi uns tais de R5 no 2.º lugar do Top 30 nacional de álbuns, ao consultar vi que se tratam duma banda mista, ouvi um pouco e não quis ouvir nunca mais. Mas o que me surpreendeu mais foi ver que o disco em questão só figurava em mais meia dúzia de tabelas de vendas de álbuns e em quase todas lá para os 70 e tal ou 100 e tal.

    Era bom que um dia se conseguisse construir uma indústria da música a sério em Portugal, como melhor ou pior se conseguiu com a teledramaturgia.

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    1. Acredito que enquanto povo evoluímos muito na forma como olhamos para a música que se faz cá dentro. O argumento já não é de agora e faz cada vez mais sentido: nunca se produziu tanta e boa música em Portugal.

      A televisão é que parece ainda não ter descoberto uma maneira de se reconciliar com os músicos nacionais. É verdade, os programas de música que temos são exclusivamente feitos para os bolsos da estação que os transmite. Até nestes talent shows procuram-se produtos e histórias de vida, o talento fica para segundo plano.

      O último bom programa de música feito em Portugal foi o Top + e esse a determinada altura deixou de fazer sentido porque a indústria fonográfica portuguesa entrou em colapso. Há ainda alguns que acolhem e divulgam o trabalho de músicos (5 Para a Meia Noite, CC na SIC Radical) mas é preciso mais, muito mais.

      Há sinais de mudança a nascer no plano digital, como o Tradiio, uma plataforma criada por portugueses que permite a descoberta e investimento (virtual) em músicos nacionais. Se estes reunirem bastante apoio, podem mesmo vir a assinar por uma editora. Estou para aqui a falar sem saber se conheces, mas caso não fica o convite à descoberta: http://tradiio.com/

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    2. Não fazia ideia que a Tradiio tinha sido criada por portugueses.

      Por acaso acho que é um conceito muito interessante. Mas não gosto especialmente da banda que de lá saiu em Portugal: Àtoa.

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    3. I see what you're doing here! Estás a ver se quebras novamente o recorde de comentários :P *Com este meu igualamos a marca anterior, it's up to you now*

      Yap, se não estou em erro é feito por malta do Porto. E todos bastante jovens. Está não tarda a completar dois anos e tem sido sistematicamente alimentada com novas versões. Começou por ter apenas músicos portugueses, mas agora já está disponível em vários países e alberga artistas de várias nacionalidades.

      Os Àtoa (sempre os tive com uns D.A.M.A de segunda categoria) são o exemplo mais flagrante, mas não o único. Também tens os casos do Captain Boy e Cut Slack que assinaram contratos com a Universal, e uma série de artistas que beneficiaram com a sua presença na plataforma, tanto a nível de mediatismo como de recompensas materiais: Isaura, D'Alva, Savanna, Francis Dale, Golden Slumbers, Ostra, Vaarwell, Pista, e outros tantos...

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    4. Lembrei-me de voltar a ver este tópico e reparei que havia algo de interessante aqui em cima, que não tinha comentado :-)

      Depois dos Imagine Dragons, vejo que concordamos criticamente em relação a outra banda. É exactamente assim que sempre vi os Àtoa, os DAMA mas em pior, sendo que também sempre achei os DAMA uma banda de 2.ª categoria (tenham eles sido plagiados na Holanda ou não).

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    5. Tenho a certeza que estamos de acordo quanto a outros artistas, mas negativamente estes serão os mais flagrantes.

      Versões pouco inspiradas de projectos já por si insípidos não poderão ter um futuro auspicioso. A menos que evoluam e adoptem outro som. Acho que das várias músicas que ouvi dos D.A.M.A só houve uma que não achei ridícula, que é este último single com Gabriel o Pensador. O episódio de plágio na Holanda foi bastante cómico, acho que mais do que insultuoso deveria era ter sido encarado como um elogio pelo facto do artista em questão ter-se dado ao trabalho de plagiar uma coisa tão má e ter conhecimento da sua existência XD

      E chegámos ao 20º comentário! Mais outro feito para gravar no livro de recordes, obrigado :)

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    6. O melhor e mais certeiro comentário que vi sobre isso foi "plagiar os DAMA é o mesmo que copiar num teste pelo aluno deficiente".

      Mas independentemente do que pensemos sobre a música, o facto é que o holandês plagiou mesmo à cara podre. Simplesmente, em ver de ir fazer queixeinhas para o Facebook como putos mimados, estes monos deviam ter resolvido as coisas pela via legal.

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  2. Vi alguns episódios desta série do The Voice. Felizmente tenho-o feito de forma despreendida, porque senão já estaria a subir pelas paredes com aquele Pedro "sou-um-cantor-medíocre-mas-a-minha-mãe-faleceu-e-eu-falo-nisso-em-todos-os-programas-votem-em-mim-sou-um-coitadinho-com-covers-no-Youtube" Gonçalves.

    Para o talento enorme mostado nas provas cegas é muito triste ver os finalistas. Algo correu bastante mal.

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    1. Escolheste mal a temporada para te estreares, esta é a mais fraca e absurda de todas.

      Estou em processo de divórcio do formato, daí nem sequer a ter referido no blog para além deste post. É cruel, anti-climático e começa a transformar-se mais num reality do que num talent show. E entristece-me um bocado pensar que os formatos musicais se tenham reduzido a isto.

      Não diria que algo correu bastante mal, é mesmo assim a mecânica do programa. É feito para os mentores e apresentadores, os concorrentes são meros figurantes.
      Não permite que estes evoluam, atira-os para a arena e estilhaça os seus sonhos em menos de um segundo.

      O top 4 da segunda série estava ao mesmo nível e perderam-se excelentes cantores pelo caminho. Esta terceira temporada foi a pior em matéria de talento. Bastante razoável, mas abaixo das duas primeiras.

      O caso do Pedro é mais gritante porque é o menos apto, mas se reparares a produção incentiva a que todos os candidatos partilhem a sua história de vida. O Sérgio também tem a história da mãe, a Deolinda tem a ausência dos pais e a distância da sua terra, enquanto a Patrícia é repetente (assim como o Pedro) e bate na tecla da superação. Tenho saudades dos tempos em que bastava dizerem que estavam lá para tentar uma carreira na música. Só. E o verdadeiro teste de forças se media no palco.

      Felizmente continuam a existir grandes momentos musicais (e talvez por isso ainda valha a pena fazer um post), mas chegou a um ponto em que se tornou intolerável assistir a tanto pretensiosismo e choradinhos.

      Já há uma 4ª edição confirmada para Setembro, mas vou abandonar o comboio. E ficar a aguardar o regresso do Factor X, venha ele quando vier.

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  3. Realmente este formato é um pouco estranho, sobretudo com tão poucas galas ao vivo e a ter sempre de passar alguém de cada equipa. No fundo a escolha de mentor afecta a longevidade no programa não tanto por aquilo que o mentor consegue fazer para ajudar o concorrente, mas mais pela concorrência interna dentro da equipa.

    Eu não conheço bem o formato, mas lembro-me de ver a dar o The Voice USA num dos canais do cabo uma vez e pareceu-me diferente nas galas, mais ao estilo do Factor X. Tanto que ainda haviam uns 7/8 concorrentes em concurso e a Christiana Aguilera perdeu o seu último candidato nessa gala (Sónia Tavares, és tu?)

    O Pedro é o pior porque está muito longe de ter talento para chegar onde chegou e parece-me o que repete mais a história, que é também a mais triste. Na última gala também fingiu tocar guitarra, o que a mim me fez corar de vergonha.

    Mas também não gosto particularmente de nenhum finalista. Antipatizo também com a Deolinda porque é vencedora anunciada (nunca gosto desses) e muito sobrevalorizada, falam como se fosse sempre perfeita, mas embora tenha uma voz muito potente e com potencial, também tem ali grandes falhas. Também não percebo muito bem como é que pode ser eleita a "voz de Portugal" uma estrangeira que não vive no país e só veio cá para isto, mas enfim.

    Vou-me rir tanto se ganhar o Pedro Gonçalves que se calhar até melhor acontecer mesmo isso.

    Falando dos mentores, a actuação da Marisa Liz com os seus dois concorrentes na última gala foi soberba. Ela e a Áurea merecem mesmo todos os aplausos. Pelo contrário, o Anselmo mostrou como é limitado e o Mickael é simplesmente uma nulidade.

    Mas a interação e química entre os jurados é óptima. Muito diferente do Factor X, com todas aquelas peixeiradas e baixo nível.

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    1. No The Voice norte-americano as coisas não se processam assim. Aquilo lá é um verdadeiro fenómeno com direito a várias emissões semanais. A 9ª temporada, por exemplo, teve 27 episódios e a duração da nossa, cerca de três meses. E como bem dizes, a regra da expulsão por mentor não se aplica. Sai quem tem menos votos, simples.

      Nas três edições nacionais as coisas sempre se processaram assim. E não sei em que país se basearam para tomar essa decisão, visto que nem no UK (onde o nº de programas vai de encontro aos nossos) essa regra existe. E estraga completamente o formato, porque os finalistas não se decidem pelo talento mas por um sistema totoloto. O protagonismo dado aos mentores chega a ser ridículo.

      Relativamente às galas esta temporada sofreu um corte. Qualquer formato destes tem sempre 18/19 emissões e esta série terá apenas 14. Daí afirmar que é anti-climático porque a emoção esteve toda nas Provas Cegas. As batalhas perderam uma emissão e as galas quatro. Já achava poucas quando eram seis, mas ainda se compreendia. Aqui o desinvestimento foi por uma questão de rentabilização de audiências. Oops, lá se vai o serviço público.

      Engraçado é que tanto o Ídolos como o Factor X são melhores nesse sentido. Desastres de audiências, mas respeitam o formato e permitem que os candidatos evoluam.

      Estou como tu, sem favoritos. Gostava muito da Filipa, do Ricardo e da Soraia, o resto é convencional. A Deolinda tem de facto uma grande voz, mas ainda não está no ponto. Quem lhe ergue estátuas é porque não anda nestas andanças há muito. Basta ouvires a sua versão de "Hero" e teres ainda presente na memória a que a Kika cantou no Factor X II e não dá nem para ficar impressionado. Pelo que me lembro da sua VT, ela disse que estava no nosso país há dois anos, tem toda a legitimidade para concorrer. Esse apontar de dedo faria mais sentido ao caso do Rúben que veio de Itália para entrar no Factor X. Aliás, li também algures que ele tinha concorrido a esta edição, não sei se se tratou de um boato ou se ficou pelo caminho no pré-casting.

      Nos mentores estamos como nos talentos. Da segunda vez foi melhor. Primeiro porque era novidade e a dinâmica entre todos era mesmo muito boa, e depois porque ainda estava lá o Rui Reininho. A entrada da Aurea veio de alguma forma tornar essa dinâmica mais artificial. Gosto dela e há muito que a via num papel destes, mas acho que não funciona naquele leque de mentores. Continuo a preferir a interacção dos jurados do Factor X, com toda a peixeirada e baixo nível como dizes, mas pelo menos era natural, honesta e aguerrida. Aqui há muita encenação e elogio gratuito.

      A Marisa é apaixonante, continua a ser uma mais valia para o programa e para os espectadores. Se gostaste dessa, então trata de ver a que fez ao lado do seu finalista na temporada passada. É só um dos momentos musicais mais bonitos alguma vez vistos na televisão portuguesa.

      https://www.youtube.com/watch?v=Tp5yMp3QqxY

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  4. Não se entende o desinvestimento. O programa é líder no horário pela primeira vez, outro canal tê-lo-ia até prolongado, nunca reduzido.

    Tinha a impressão que a Deolinda tinha vindo especificamente para o programa. Assim faz mais sentido.

    A Kika era muito superior. Aí tanto elogio, mesmo tendo-se rapidamente tornado cansativo, era mais justificado.

    O melhor neste programa acaba mesmo por ser a Marisa. O talento, a entrega, as emoções, a forma como vive tudo aquilo, a própria imagem. Também gosto da Áurea, mas não tem o mesmo va va voom.

    E por decisão da Marisa o "sofrido" tinha ido logo na 2.ª volta. Bom senso!

    Uma coisa que me esquecei de referir no post anterior foi que a fase das batalhas correu bastante mal também na junção dos concorrentes. Houve duplas em que ambos eram muito fortes e outras em que ambos eram muito fracos. Por causa disso, por exemplo a pseudo-rapper (que pragas!) ainda se manteve uns tempos.

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  5. Bem, se olharmos para as audiências destes formatos, a tendência é a de registar-se uma valente quebra de auditório entre as audições e as galas ao vivo. A direcção de programas da RTP tomou uma decisão demasiado astuta e sanguinária para um canal que não devia ter como prioridade as audiências, ao encurtar o formato e antecipando desde logo o desinteresse dos espectadores.

    Estrategicamente é fabulosa (veja-se que pelo menos 10 das suas 13 emissões ganharam à concorrência), mas expõe ainda mais a crueldade e pretensiosismo do concurso. É incrível como ainda dizem que é o mais justo da televisão portuguesa. Será que respeitar os concorrentes, dizendo-lhes aquilo que querem ouvir (fomentando o elogio barato) e iludi-los com sonhos e esperanças é melhor do que ser franco, ainda que brusco e sarcástico, por vezes?

    Como raio se pode descobrir uma nova voz de Portugal se os candidatos concorrem por núcleos (mentores, neste caso) e não em pé de igualdade? Os mentores assumem um protagonismo exagerado porque estão mais interessados em ganhar do que em aconselhar e treinar os candidatos, coisa que, aliás, nunca mostraram nas VTs das galas (Factor X e Ídolos de novo a mostrar como se faz). Estão lá para se promover, o que é legítimo, e polir o ego, um tanto mais desprezível.

    Nota-se também bastante a mão da produção nas decisões referentes ao destino dos candidatos. Acredito que algumas vezes estes escolham os mentores por indicação superior (a Deolinda tem tanto a ver com o Mickael como a Filipa tinha em comum com o Anselmo) e que as próprias decisões dos mentores sejam condicionadas pela produção (de outra forma o Pedro nunca teria sido salvo nas batalhas, tirando essa hipótese a quem merecia mais).

    Correu tudo mal, em todas as fases. E desta vez não houve tanto talento para compensar. Tenho pena que não tenhas acompanhado as duas primeiras edições, caso contrário o teu balanço iria ser tão mau ou pior que o meu.

    Btw, adorei o uso da expressão "va va voom" e aproveito para te dizer que gosto tanto da Marisa como da Sónia no papel de mentoras. São as duas um portento de originalidade (quão fantástico seria uma fashion battle entre as duas), carismáticas e frontwomans incríveis. Só me parece que a Marisa seja um bocadinho mais intensa e lógica nas suas escolhas, ainda que esta temporada se tenha perdido de amores pelo Alfredo e esquecido que os restantes elementos da sua equipa valiam tanto ou mais que ele.

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  6. Acho que a Marisa Liz não merece essa comparação.

    Começa logo pela imagem. Ambas são arrojadas e criativas no visual, mas a Marisa consegue estar (quase) sempre bem, tem boa imagem, é bonita, feminina e elegante. A Sónia algumas vezes também esteve bem, mas em regra parecia ou uma vilã da Disney ou uma drag queen. Sem surpresa são muitas as piadas que se ouvem ou lêem sobre ela e a sua "masculinidade".

    Como juradas ambas defendem os seus como leoas, mas nunca vi a Marisa para o fazer rebaixar outros concorrentes, jurados ou o público. E isso eu não perdoo à Sónia, not now not ever.

    As decisões da Marisa também nunca chegaram ao cúmulo do ridículo de muitas da Sónia.

    Por isso, para mim a Marisa ganha isto com uns 300-0.

    Quanto ao programa, o reduzido número de galas torna difícil criar laços com concorrentes e beneficia candidatos já com fãs antes do programa (Pedro Gonçalves) ou objecto de promoção intensa pela própria produção (Deolinda).

    No fim, embora não tenha particular gosto pelo Sérgio, preferia sem dúvida a classificação estupidamente revelada no início do programa. Óbvio que iam chover votos para mudar aquilo, não fossem a pitalhada e as minorias étnicas quem mais vota nestes programas.

    Entre uma concorrente sobrevalorizada e outro que nunca devia ter chegado às galas, a escolha, ainda assim, era óbvia.

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    1. Só disse que ambas eram originais na forma como se apresentavam publicamente, o bom gosto fica para quem se veste. Se se sentem confortáveis assim, óptimo.

      Se a visses na temporada anterior terias assistido a alguns despiques com o Rui Reininho. Em termos de temperamento, obviamente que leva a melhor sobre a Sónia, mas também tens que ver que se a Marisa tivesse um Ventura e um Junqueiro à perna, iria reagir de maneira semelhante, eles espicaçavam-na a valer.

      Recordo-te também que no The Voice o painel de mentores é composto por músicos, enquanto que no Factor X, pelo menos na 1ª edição, a Sónia era a única artista ao pé de dois homens de negócios. A convivência e partilha de opiniões será naturalmente diferente entre grupos homogéneos e heterogéneos. E a verdade é que ela amenizou quando o Miguel Guedes se juntou à comitiva.

      Mas não vale a pena continuar a discutir isto, ambos os programas ganham com a sua presença.

      Nem mais, interessa-lhes também vender ao espectador uma história de sucesso. Vencedor justo e inesperado? Não o encontraremos no The Voice. Na primeira não aconteceu isso pois foi tudo numa base de ingenuidade, mas nestas duas últimas isso verificou-se. E continuará a ser assim enquanto o programa durar.

      A revelação anti-climática da votação logo ao início da gala é algo que vem desde a primeira série e que realmente é muito estúpida. Primeiro porque (estranhamente ou não) as posições alteram-se sempre e depois porque é utilizado como um incentivo extra ao voto. Enfim, é só mais uma para acrescentar à lista de absurdos.

      Concordo que a Deolinda foi sobrevalorizada ao longo do programa, mas tens que reconhecer que na final fez por merecer o título. Nela notou-se uma evolução maior do que nos restantes candidatos (imagina onde teria chegado com mais umas cinco galas) e a forma como entregou as canções à plateia foi bestial, não é algo que vejas todos os dias num candidato. Dá-lhe mais uns aninhos (não esquecer que ainda agora chegou aos 20) e estará uma profissional incrível.

      Lourenço, já te avisei no passado para seres mais cauteloso na forma como abordas certos assuntos. "Pitalhada" não, por favor. E não percebo em que medida as "minorias étnicas" são utilizadas neste contexto (é ofensivo para elas e para quem vota, categoria na qual já me incluí). Também não quero dar azo à discussão do assunto, apenas relembrar-te que apesar de ser uma conversa a dois, há mais quem leia. Tens bons argumentos, mas perdes coerência quando resvalas para o insulto. E isso não posso cultivar aqui. Troca de ideias sim, mas sem ofensas à mistura.

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  7. Peixeiradas entre jurados é naquela. Mas acho que não há desculpas para rebaixar outros concorrentes e passar atestados de inferioridade ao público. Como cantora, sim, a Sónia tem mérito, mas como jurada, para mim, espero que nunca mais. (Como é que ela veio parar a este tópico, mesmo?)

    Peço desculpa pelo uso da palavra "pitalhada", nem pensei. É um facto que a maior parte dos apoiantes do Pedro Gonçalves são meninas adolescentes ou ainda crianças, mas devia ter escolhido outra palavra.

    Já sobre as "minorias étnicas", não vejo onde está a ofensa ou o insulto. Em todo o lado estas comunidades apoiam os seus candidatos, vendo como uma espécie de auto-afirmação. Não quer dizer que sejam todos, mas o fenómeno existe com alguma escala. Já vimos isso também em vários programas portugueses. O mesmo acontece também com concorrentes de cidades mais pequenas ou regiões insulares, há esse apoio regional, que por exemplo alguém de Lisboa já não recebe. Não acho que isso alguma vez devesse ser critério, mas é um motivo de identificação com um concorrente como qualquer outro, é legítimo e não o referi em tom crítico, apenas reconhecimento de um facto.

    Confesso que não segui a final com grande atenção e só vi algumas partes. Mas já ouvi comentários muito positivos sobre a Deolinda na gala final até de pessoas que a criticavam, por isso quero ver os vídeos para tirar isso a limpo.

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    1. Acabamos sempre a falar dela, right? Primeiro veio à baila numa das tuas alfinetadas, e depois ainda caio no erro de a comparar à Marisa. É um tópico proibido nas nossas conversas, está visto.

      Ok, daí aconselhar-te a leres e releres os comentários antes de publicares.

      Continuo sem perceber onde foste arranjar essa ideia. É sabido que são as adolescentes e mulheres quem vota massivamente nestes programas, daí existirem tantos vencedores do sexo masculino. Não podes generalizar o caso da Deolinda, que por ser angolana teve todo o apoio da comunidade africana dentro e fora de portas. Que eu saiba nunca tivemos candidatos indianos, chineses, japoneses, russos e afins a concorrer. Lá fora até poderá ser verdade, cá a realidade é outra.

      A questão do apoio regional, pelo contrário, faz todo o sentido. Concorrentes do Norte e das ilhas têm sempre um apoio massivo. Mas também não é por isso que ganham os programas. Ajuda, mas continuo a acreditar que no final o talento ainda faz a diferença.

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    2. Sinceramente os meus talent shows favoritos em Portugal foram aqueles em que não houve um vencedor antecipado e as votações eram sempre imprevísiveis. Lembro-me sobretudo do Ídolos 4.

      Sobre a questão das minorias, óbvio que não têm o apoio de toda a comunidade africana, mas o fenómeno existe. Vejo isso directamente com amigos/conhecidos, se não é apoio, são acusações de racismo de cada vez que algo não corre de feição. Se a Deolinda não tivesse ganho, certamente que as iríamos ouvir e muito.

      Mas a principal demonstração do fenómeno remonta à primeira série da Operação Triunfo, em que a RTP teve a triste ideia de abrir a votação na final também aos PALOP. Resultado: Joana Melo (que também esteve neste The Voice) teria ganho com os votos de Portugal, mas acabou relegada para o 3.º lugar porque Cabo Verde elevou a causa nacional, com direito até a chamadas de valor reduzido subsidiadas pelo Estado, o voto no concorrente descendente de cabo-verdianos Filipe Gonçalves (ainda activo no meio) e sobretudo na cabo-verdiana Sofia (MIA desde a vitória no programa). Por isso, sim, acabo por me lembrar sempre disso quando vejo supostas minorias neste tipo de programas. Há muito racismo invertido mas não se pode dizer nada por medo de não ser politicamente correcto.

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    3. Acho que não há nada de mal em haver um vencedor antecipado quando este evolui ao longo do programa e tem prestações espectaculares semana após semana. Não foi o caso da Deolinda porque não lhe foi dado tempo nem condições para isso. Saber de antemão que a Kika ia ganhar o Factor X II tornou o programa menos emocionante? Não para mim.

      Foste logo buscar o Ídolos 4, possivelmente a pior temporada do formato. Eram imprevisíveis porque poucos candidatos se destacavam. Acho que dava para ver que a Carolina Deslandes, Sandra e Martim iam formar o top 3, caramba. E a Carol só não ganhou porque quis que os colegas lutassem pelo título, já que ela tinha um contrato quase garantido. E resultou, porque hoje tem uma carreira praticamente consolidada. Esta última temporada foi tão ou mais imprevisível que essa. E decididamente muito melhor.

      Agora sim, deste um exemplo válido. Tenho poucas memórias das duas primeiras edições da OT, via-as mas ainda estava longe de perceber essas questões. Nem sabia que isso tinha acontecido dessa forma. Mas pelo que vejo na wikipédia, as percentagens da votação foram muito próximas umas das outras. Deve ter rendido aos cofres da RTP uma boa pipa de massa.

      Se vamos pela via do racismo, então teremos que falar também da inexistência de equidade de géneros nestes programas. Felizmente que cada vez menos existe, mas muitas edições foram dominadas por homens. Não só no palco como no painel de jurados. Esta edição do The Voice foi a primeira em que duas mulheres estiveram representadas na final e em que o leque de mentores contou com duas mulheres. Por isso antes do tópico das minorias étnicas/racismo tem que estar sempre o da (falta) de igualdade de género.

      Percebo o que dizes, mas acho que as coisas mudaram desde então. Isso aconteceu há 13 anos. Hoje enquanto povo estamos mais tolerantes e receptivos a todo o tipo de candidatos. Só para citar os casos mais recentes, a Kika e a Deolinda não ganharam por representarem uma nação ou raça, mas porque eram efectivamente as melhores. Ainda que uma batesse o top 15 todo e a outra mais facilmente só o adversário directo.

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    4. O Ídolos 4 foi um valente passo atrás a nível de qualidade em relação à temporada anterior. Mas a imprevisibilidade tornou-a interessante e como nunca vibrei com nenhum concorrente também não me incomodaram eventuais injustiças. Não achei que o Top 3 nessa temporada fosse assim tão previsível, do que me lembro o Martim esteve quase a sair na 1.ª gala e outro (Gerson?) tido como potencial vencedor saiu na 2.ª.

      Ultimamente tem havido mais mulheres a ganhar estes programas, está-se a esbater um bocadinho essa diferença por género.

      A nível rácico, não tenho a menor dúvida que enquanto povo em geral estamos mais tolerantes e abertos a tudo. Aplaudo isso, mas acho que o contrário não acontece muito e isso é grave. Numa situação idêntica, não duvido que mesmo agora voltassem a chover votos de África.

      A Kika foi a justa vencedora, embora "cá fora" esteja a ser flop, lançou um single e ninguém quis saber.

      Já a Deolinda na globalidade não achei justo, acho que ela simplesmente foi promovida como vencedora desde o início, embora houvesse concorrentes superiores eliminados prematuramente. E sinceramente também não acredito que dê em grande coisa pós-programa, mas nunca se sabe. Claro que ela era muito melhor do que o Pedro Gonçalves (mas em bom Português, porra quem não era?).

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    5. Claro que foi, uma vez que aconteceu com 7 meses de diferença da edição anterior. Uma das razões para o Ídolos 3 ter corrido tão bem foi por terem adormecido o formato durante quatro anos e tal e o terem reavivado com concorrentes talentosos e carismáticos que apaixonaram a nação. Para mim continua a ser a melhor edição de um talent show feita no país.

      Lembro-me de existir algum hype à volta do Gerson, mas nunca esteve verdadeiramente na corrida ao título. Foi sempre entre a Sandra e a Carolina, mas por serem mulheres ninguém acreditava que uma delas ganhasse. No Ídolos 3 a Diana também chegou a estar em risco de sair na terceira gala e chegou à final. Já tinhamos discutido em posts passados que quando as audiências são baixas, as votações têm tendência a ser imprevisíveis. Alô Ídolos 4 e Factor X II.

      Está a melhorar sim, mas ainda não estamos lá. Na penúltima edição do The Voice os 4 finalistas eram todos rapazes. Na última de Ídolos o top 4 só tinha uma rapariga. Antes da Kika ter ganho o Factor X, a última vencedora tinha sido a Sandra no Ídolos 4 há quatro anos.

      Falando da Kika, soube que ela tinha um single mas nem sequer consegui ouvir. Tentei procurar no YouTube, mas sem sucesso. Não me lembrei de tentar no Spotify. O problema é mesmo o facto das pessoas nem saberem, falta-lhe o tal suporte promocional - divulgação na imprensa, airplay, televisão e, sobretudo, social media. Sem isso é complicado.

      Não vejo a Deolinda a fazer carreira cá, acho que vai voar para longe. Se bem que ela cantou um tema em português na final e quase que posso jurar que foi a sua melhor prestação no programa.

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