REVIEW: Disclosure- Caracal


Ao segundo álbum os manos Lawrence desaceleram os bpm e incidem o foco na escrita das canções e nas vozes que as cantam. A quebra de energia não se reflecte nas ideias - a dupla cresce no sentido certo. 

Quando se fizerem os balanços de final da década o disco de estreia dos Disclosure terá seguramente lugar cativo na lista dos mais influentes. Settle (2013) mostrou o caminho a seguir para a electrónica dos anos 10, tornou possível o diálogo entre linguagens house/garage na esfera pop e contribuiu para que toda uma geração não se tornasse refém da EDM de rápido consumo.

Tudo obra de duas jovens cabeças pensantes que pelo caminho ainda deram ao mundo um então desconhecido Sam Smith e ajudaram a impulsionar as carreiras de nomes como AlunaGeorge ou London Grammar, também eles a dar os primeiros passos.

Pouco mais de dois anos depois, Guy (24) e Howard (21) estão de volta com um segundo disco que não pretende repetir a fórmula mágica, antes pensar para lá da cultura clubbing que os viu nascer. A rede de contactos e as ambições da dupla cresceram e hoje os Disclosure fazem essencialmente música pop com electrónica dentro. 



As canções estão mais polidas e aprumadas, mais tranquilas e menos suadas, sem azo para o mesmo entusiasmo da estreia. Mas a missão continua a ser a mesma: levar a música de dança para outras paragens, ainda que tal aborreça os fãs de longa data e se torne incompreensível para outros tantos. Não precisamos de um novo Settle, mas sim de um trabalho que ajude a compreender a identidade sonora de 2015. Ei-lo.

The Weeknd revela a sua atracção pela escuridão num "Nocturnal" que não destoaria no seu Beauty Behind the Madness, com a passada da drum machine a fazer-nos crer que atracámos em "Hold On, We're Going Home" de Drake; o mesmo ambiente funky-R&B desenrola-se em "Omen", com Sam Smith a lamentar-se pela oportunidade desperdiçada de estabelecer uma ligação amorosa; "Willing & Able" com um seguríssimo Kwabs traz soul e deep house em lume brando ao disco, serpenteando suavemente até "Magnets" de Lorde, numa das mais compelativas vocalizações do álbum, a pedir o compromisso total para com "o ponto sem retorno".



Há também à solta o pecaminoso Miguel num "Good Intentions" que passava por uma remistura de algum dos temas de Wildheart e um promissor Jordan Rakei na sedutora slow jam "Masterpiece", a canção que deita por terra os cânones da house music e apresenta os Disclosure como estudiosos da cartilha de Prince ou Frank Ocean. Também o mais novo dos irmãos Lawrence ganha protagonismo face a Settle, com vocalizações presentes em "Jaded" (a apontar o dedo aos produtores de fachada do circuito EDM) e no two-step de "Echoes", ambos temas com o corte clássico do duo.

Os melhores momentos ficam reservados para o pujante "Holding On" de Gregory Porter, pouco dado a estas (an)danças mas inteligentemente pescado pelos manos; no four on the floor estonteante de "Hourglass" com Jillian Hervey dos Lion Babe em diálogos com uma bassline ziguezagueante e no exercício de house alienígena de "Superego" pela voz da londrina Nao a canalizar a interpretação de Aluna Francis em "White Noise".



Se 11 temas não chegarem para fazer um balanço positivo, há sempre a química-disco de "Molecules" e o não menos excelente "Afterthought", ambos com Howard na voz e quase a pedirem a substituição de "Jaded" e "Echoes". Mas Caracal vale pelo todo e está muito bom como está. Seriam menosprezados por tentarem repetir Settle e estão a sê-lo de qualquer forma por evitarem fazê-lo e evoluírem de acordo com a sua envergadura. Só vem quem quer, a festa continua.

Classificação: 8,3/10

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