2015, Um Balanço Sónico- As Canções Internacionais

O coração guia, eu escuto e a seguinte contagem acontece:


1º "Let It Happen"- Presumo que seja um padrão verificado em listas do género, mas é inevitável. Os 8 minutos mais transcendentes de 2015 resumidos num tema capaz de mudar vidas ou, quanto muito, expandir horizontes. Um estrondo de canção.

2º "Can't Feel My Face"- Era suposto isto continuar a bater forte como no primeiro dia? Faz sentido, ou não se tratasse de uma prosa ao consumo de ecstasy. Conteúdo lírico à parte, sobra uma infecciosa batida disco/funk cortesia de Max Martin que levou The Weeknd ao elevador da glória. 

3º "Daffodils"- Num universo paralelo, "Uptown Funk" gentilmente cederia o seu trono para "Daffodils" - a verdadeira pérola do último disco de Mark Ronson - poder brilhar e ser aclamada como tal. Kevin Parker tinha que estar envolvido, claro. 

4º "Loud Places"- A piada é que eu nunca gostei dos The xx. E dou por mim rendido a uma composição feita por 2/3 deles, que se dança enquanto se chora (ou será o contrário?). O final de uma amizade é uma memória que não queremos revisitar, mas que esta canção evoca de forma a que a tristeza não seja o único fim. Como um leve sorriso entre dois seres, outrora próximos, agora estranhos. 

5º "Without You"- Um homem, um piano e o seu coração destroçado. Basta dizer que é a canção de amor mais bonita que ouvi este ano. Ou talvez em toda a minha vida. Clássico instantâneo.

6º "Elastic Heart"- É um testemunho de resiliência, força interior e graciosidade - sentem-se as fibras, os tecidos e artérias deste coração guerreiro. Sia a fazer pop grandiloquente e comovente. O costume, portanto.

7º "FourFiveSeconds"- Ainda triste pelo facto disto não ter originado um álbum até ao momento, ainda esperançoso que seja o ponto de viragem para a @badgalriri. Seja como for, é uma excelente canção. Improvável, mas excelente. 

8º "Coffee"- Ninguém melhor do que Miguel para cantar sobre sessões de luxúria carnal sem soar misógino ou depravado, antes o derradeiro romântico do séc. XXI. É isto o desejo?

9º "The Hills"- Mutante R&B com requintes de Frankenstein, é o êxito mais improvável de 2015, a demonstrar a relevância de Abel Tesfaye no mainstream actual não só enquanto ícone pop mas também como autor de novas dicotomias. Sinistro bom. 

10º "Love Me Like You Do"- Não se pode julgá-la pelo filme que lhe dá vida, até porque seria um hit com ou sem a ajuda dele. É, aliás, o primeiro rouba-corações de 2015 e como tal permanece no pensamento - a prestação vocal de Ellie entre a delicadeza e o êxtase fazem a canção, entregue como um conto de fadas. E não é preciso acreditar em finais felizes para reconhecer que é absolutamente magnífica. 

11º "Do You Remember?"- Instrumentação simples, mas certeira. Melodia entre o R&B e uma pop de margens. Voz aveludada que se digere como mel. Como poderia não resultar? Ainda tenho esperança que se torne num sleeper hit em 2016.

12º "Body Talk"- Uma canção que exige ao corpo a clareza que o espírito não sente e que definitivamente rotula Foxes como uma das melhores esperanças pop do nosso tempo.

13º "King"- Felizmente que as "maiores promessas de 2015" tinham guardada uma canção que não envergonhou o título que carregaram: synthpop caleidoscópica complementada pela voz pueril de treino R&B de Olly Alexander. Os últimos 20 segundos convidam ao dance breakdown mais suculento de 2015.

14º "Marks To Prove It"- A estrada que conduziu os Maccabees até ao quarto álbum foi para lá de tortuosa e esta canção representa o som de uma banda a recuperar as rédeas da sua carreira, alimentando-se do caos e projectando-o para seguir em frente. É para os bravos.

15º "Here"- Como a pior festa de sempre pode dar uma grande canção. Já todos estivemos lá, conhecemos a sensação. Honestidade lírica à parte, o que dá mesmo prazer é ver uma rapariga tão jovem a cantar tão bem sobre o beat de Isaac Hayes feito clássico pelos Portishead e Tricky. E agora por ela.

16º "Glass & Patron"- É uma obra audiovisual desde o primeiro dia, daí que não se consiga dissociar a canção da épica batalha de vogue do vídeo. Prodigioso pedaço de R&B alienígena, será o mais representativo possível daquilo que 2015 acha que 2074 soará.

17º "What Kind of Man"- Quantas cabeças não terá feito virar Florence Welch ao anunciar o aguardado regresso aos discos com o mais intempestivo e fulminante dos seus singles? As guitarras silvam, a bateria ribomba e a secção de sopro recorda-nos que a "máquina" ainda a sustenta (e bem) - um valente choque voltaico na veia.

18º "Doing It"- Imaginem um dia perfeito. Pensem agora numa canção que vos faça recordar esse dia perfeito e todas as memórias felizes que lhe estão associadas. Pode nem ser uma grande canção, mas para vocês será sempre especial porque vos devolve a esse lugar. Em 2015 esta foi "essa canção" para mim. Não é fantástico quando uma música nos transmite isto?

19º "Mountain At My Gates"- Por alguma razão o último álbum dos Foals não me caiu no goto, apesar de gostar bastante dos primeiros dois singles. Este então está um arraso de canção: voz, guitarra e bateria são soberbas. É a partir dos 2:20, no entanto, que o tema acontece - o melhor túnel sónico do ano.

20º "Talking Body"- Não sei o que gosto mais: se do facto de ser assumidamente descarada (cantar isto em praça pública deve equivaler a alguma coima, certo?) ou de não ter nenhuma referência/coordenada associada- é apenas um óptimo tema pop, em qualquer era ou lugar.

21º "Slumlord"- Estava muito indeciso entre esta e "Annie", uma das que mais marcou o meu Verão, mas entre uma e outra acho que mais vale optar por aquela que não se aproxima perigosamente do cancioneiro dos Ace of Base. Giorgio Moroder aprovaria.

22º "Magnets"- O refrão é capaz de ser a parte menos interessante da canção. A vocalização é espantosa e repleta de variâncias, a produção fluída e subliminar. Ninguém carrega ninguém: não podia existir sem os manos Lawrence, nem seria a mesma sem Lorde. E ambos transportam a sua identidade para a canção. Um verdadeiro esforço colaborativo.

23º "Ch-Ching"- Adoro o facto dos Chairlift terem trazido algumas influências da cultura urbana para este novo single, uma espécie de "Thrift Shop" em embrulho indie pop/R&B. É cómico, esquisito e muito viciante.

24º "Can't Keep Checking My Phone"- O melhor shuffling involuntário do ano. O mais engraçado é que os UMO nunca têm que se esforçar muito: parece sempre tudo uma sessão de jamming entre amigos para a qual temos a sorte de ser convidados. Nunca o funk lo-fi soou tão bem.

25º "Wildest Dreams"- Talvez por assinalar o (aparente) final de era de 1989. Talvez por nunca ter gostado realmente da canção até se tornar single. Só sei que cada audição do tema é uma oportunidade não desperdiçada de o cantar e dramatizar. Sem pecados na culpa.

Assim é a minha contagem. Partilhem também as vossas favoritas nos comentários!

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