2015, Um Balanço Sónico- Os Discos Nacionais

Agora por estas bandas, os discos nacionais que mais gostei de ouvir este ano. Também entra um ou outro EP:


1º Best Youth- Highway Moon


Eis que a dupla portuense faz a dobradinha nas canções e nos discos. Highway Moon nem teve que pedir licença para entrar porque há muito era aguardado - e este é decididamente o melhor conjunto de canções que os Best Youth poderiam ter reunido no seu disco de estreia, depois de quatro anos a apurar o seu som. A viagem celestial decorre serena e etérea em crateras dream pop com profundidade electrónica, guiada pela voz sempre sedosa de Catarina Salinas e pela sólida produção de Ed Rocha Gonçalves. Que a força esteja convosco, navegantes da lua. 

Pontos altos: "Mirrorball", "Mouth", "Fanatic" e "Ride"


2º Isaura- Serendipity


Parto para 2016 com a mesma esperança com que parti para 2015: ver Isaura a fazer coisas muito boas no panorama musical português. E se há doze meses só existia uma apaixonante "Useless" para medir a temperatura, agora há um punhado de canções de base electrónica e forte apelo pop, notavelmente tecidas, que nos contam de onde veio e para onde está destinada a ir. Estão aqui as fundações daquele que poderá ser um dos melhores discos de estreia do próximo ano.

Pontos altos: "Useless", "Lost" e "Change It"


3º The Glockenwise- Heat


Não costumava levar os Glockenwise muito a sério. Rock de garagem desempoeirado e aplicado em canções curtas e directas com bons ganchos, que teimavam em ficar na cabeça. Mas em 2014 aconteceu uma coisa chamada Duquesa. E quando há uns meses "Heat" estoirou, apercebi-me da quantidade de canções deles que conhecia e gostava, sem ter consciência. Chego ao novo disco e encontro-os ainda ligados à electricidade e na concisão do costume, mas com alguma roupagem new wave e indie rock da década de 80 e às voltas com dores de crescimento facilmente relacionáveis. Bem-vinda, afinidade.

Pontos altos: "Heat", "Eyes", "Time (Is a Drag)" e "Lasting Lies"


4º Thunder & Co.- Nociceptor


A rivalizar com Serendipity pelo título mais intrigante do ano, Nociceptor encontra os Thunder & Co. a explorar a paleta nu-disco/synthpop emocional apresentada no excelente EP de estreia de 2014. Nas lágrimas ou nos momentos de imersão instrumental, a ginga do corpo é sempre uma prioridade que a dupla lisboeta continua a assegurar com mestria. Um festim para os sentidos. 

Pontos altos: "N.I.K.", "Bodysnatcher", "S.A.N." e "O.N.O."


5º David Fonseca- Futuro Eu


Acompanho a carreira de David Fonseca desde que se estreou a solo e nunca dei por mim tão embrenhado num disco seu quanto neste Futuro Eu. Parece cliché afirmá-lo, mas a mudança de dialecto permite ouvi-lo num outro tom - as melodias continuam a soar tão bem como dantes, mas as palavras assumem uma importância fulcral e contribuem para que o disco se revele, tema após tema, em todo o seu esplendor. Mais entusiasmante que as canções que aqui moram, é mesmo a ideia do que poderá suceder a isto. 

Pontos altos: "Chama-me Que Eu Vou", "Deixa Ser", "Hoje Eu Não Sou" e "Mais do Mesmo"


6º Beautify Junkyards- The Beast Shouted Love


Dificilmente teria escutado este disco caso não me tivesse sido aconselhado. The Beast Shouted Love revelou-se uma das audições mais intrigantes do ano vinda de um grupo singular que muito possivelmente não conhecerá paralelo em solo nacional. Há em si uma firme e encantadora ideia de escapismo, inocência e ancestralidade aliados a um universo muito próprio em constante mutação que conjuga folk psicadélica, aromas tropicais e influências da dita kosmische musik germânica. Tão fácil e mágico que é perdermo-nos no infinito particular dos Beautify Junkyards. 

Pontos altos: "Sun Wheel Ceremony", "Pés na Areia na Terra do Sol", "Lake" e "Drop City"


7º Savanna- Dreams To Be Awake


Foi complicado desabituar-me a chamá-los Fancy Pants (quando o título da canção é erradamente tido como o nome da banda, parte 43). Bem mais fácil foi ficar cativo ao longa-duração de estreia do grupo lisboeta que apresenta aqui um caldeirão sónico de cozinhados prog rock com tempero psicadélico e sensibilidade pop. Dreams To Be Awake é galáctico, fresco e arrojado quanto baste. 

Pontos altos: "Fancy Pants", "Hot Winds", "Safari" e "Destruction Derby 2"


8º Francis Dale- Square


Penso que este foi o ano em que o público português finalmente começou a despertar para Francis Dale. E com razão. O segundo EP do músico explora as potencialidades da soul digital mais adormecidas no anterior registo e que o coloca agora na mesma liga de nomes como James Blake ou SOHN. Se o crescimento artístico e a ponderação que têm regido o seu percurso forem indicadores a ter em conta, pode-se esperar dele um disco de estreia incrível.

Pontos altos: "In the Elegy", "Poème Électronique" e "Eleanor"


9º Ana Moura- Moura


Por se tratar de um disco muito recente ou por não produzir o efeito pedrada no charco de Desfado, ainda não me consegui afeiçoar inteiramente a Moura. É o crescimento possível sem renegar o caminho percorrido com o disco anterior, mas sinto falta de alguns traços característicos que me cativaram em momentos passados da sua discografia. Gosto do arrojo e da crescente exploração de novos territórios (alô África e Brasil) mas acho que a globalização do seu som acaba por diluir um pouco a sua identidade. Seja como for, Ana Moura é agora do mundo, e isso só pode ser bom. 

Pontos altos: "Fado Dançado", "Dia de Folga", "Ninharia" e "Tens os Olhos de Deus"


10º Os Capitães da Areia- A Viagem dos Capitães da Areia a Bordo do Apolo 70


É impossível não ficar pasmado com o empreendimento musical que os Capitães da Areia levam a cabo neste megalómano segundo disco de originais. Quantas idas ao Centro Comercial Apolo 70 resultam numa aventura inter-galáctica? Cabe tudo aqui: interlúdios delirantes, humor a rodos, vénias aos Heróis do Mar ou New Order e encontros espaciais com gente tão díspar quanto José Cid, Toy, Bruno Aleixo ou as Adufeiras de Monsanto. Só os diálogos exaustivos ameaçam roubar alguma diversão à odisseia cósmica, mas no final a sensação que fica é que esta foi mesmo uma aventura do camandro. 

Pontos altos: "A Célebre Batalha de Cassiopeia", "Arco das Portas do Mar", "O Duelo dos Reis" e "Menina Bonita do Cinema"

Outros balanços já disponíveis:

-Melhores Canções Nacionais 2015
-Melhores Canções Internacionais 2015
-Melhores Discos Internacionais 2015
-Melhores Vídeos 2015

Sigam-me no facebook!

Comentários

Mensagens populares