2015, Um Balanço Sónico- As Figuras

Porque 2015 não se conta sem estes seis:
Adele























Voltou, monopolizou e, em apenas setenta dias, tornou 2015 inteiramente seu. Não é a história a repetir-se - é esta a ser rescrita por alguém que salva pela segunda vez a indústria fonográfica do abismo.

Já não se vendiam muitos discos quando em 2011 Adele despachou 30 milhões de cópias de 21. Em 2015 vende-se muito menos, mas isso não impediu 25 de facturar logo à primeira semana, nos EUA, uns inéditos 3 milhões e 300 mil exemplares. Na verdade, nem foram precisos setenta dias, porque ao final de sete o ano já tinha sido ganho por ela.

Adele consegue-o conservando as propriedades que a tornaram numa artista diferenciadora: uma grande voz explorada em grandes canções autobiográficas de recorte clássico que ecoam nos ouvintes, aliada a uma tremenda personalidade, integridade artística e simplicidade que não é comum em estrelas do seu calibre. Amadureceu, foi mãe, tem uma relação estável e é o equivalente comercial aos Beatles ou Michael Jackson do nosso tempo, mas continua a levar uma vida modesta, a ter receio do palco e a saber resguardar a sua vida privada dos olhares do público. No fundo, igual a si própria.

Em cinco semanas apenas 25 já registou praticamente metade das vendas globais do disco anterior, quebrou e inaugurou múltiplos recordes e continua a desafiar os melhores prognósticos dos especialistas do mercado. E assim continuará, a todo o vapor, durante os próximos meses. Dois milagres consecutivos são mais que suficientes para uma futura canonização - abençoada santa padroeira dos milhões. 



Taylor Swift


Foi por uma questão de dias que o ano não voltou a ser de Taylor Swift, à semelhança do que aconteceu em 2014. 1989, editado há catorze meses para a aclamação geral da crítica e do público, continuou a reunir as preferências de várias tribos e faixas etárias, a esgrimir argumentos de peso ("Style", "Bad Blood" e "Wildest Dreams") e a vender a um ritmo bastante favorável. Até que Adele saiu da hibernação, deixando-a para segundo plano. Não esqueçamos, porém, as vitórias de Taylor Swift em 2015. Entre elas contam-se o finca pé feito ao sistema de não remuneração da Apple Music aos seus artistas durante o período experimental do serviço, levando a empresa a voltar atrás na sua decisão; o evento global que criou em volta do vídeo de "Bad Blood"; os múltiplos troféus conquistados em cerimónias de prémios ou a milionária digressão de suporte ao álbum que se tornou na mais rentável do ano. Termina o ano nomeada para sete Grammys e a possibilidade de ter ainda um belo primeiro trimestre em 2016.


The Weeknd


Juntamente com T-Swift é a figura mais omnipresente do ano, tendo atravessado ao longo de 2015 o mesmo processo metamórfico que transformou em 2014 a antiga estrela country num colosso da pop. Tudo começou com a inclusão da faixa "Earned It" na banda sonora do controverso mas mediático Fifty Shades of Grey, que expôs o trabalho do músico a uma nova audiência. Depois, bastou-lhe aproveitar a atenção gerada para dar continuidade à campanha promocional de Beauty Behind the Madness. Primeiro com "The Hills", objecto sinistro de R&B mutante, e depois com "Can´t Feel My Face", infecciosa investida disco/funk forjada por Max Martin, que catapultaram The Weeknd de vez para o mainstream e o mantiveram nas tabelas até hoje. Do álbum que os gerou, não renega as origens do R&B alternativo de onde emergiu, mas procura novas dicotomias entre esse espaço e aquele que agora quer ocupar - o de Prince ou Michael Jackson para a nova geração. 



Justin Bieber


Goste-se ou não da peça, é impossível não reconhecer que Justin Bieber teve em 2015 o melhor ano da sua carreira, protagonizando o segundo regresso mais triunfante dos últimos doze meses. Os primeiros sinais de recuperação foram dados ao lado dos Jack Ü - aliança entre Diplo e Skrillex - no single "Where Are Ü Now", um dos pilares do fenómeno tropical house em 2015, a que se seguiria uma espécie de reinvenção de carreira com o álbum Purpose, a devolvê-lo aos lugares cimeiros dos topes e a dar-lhe alguns dos maiores êxitos do seu percurso: de "What Do You Mean?" e "Sorry" (novas e bem-sucedidas investidas de tropical house) ao mais recente "Love Yourself", a sua presença massiva em tabelas de airplay, streaming e downloads foi uma constante, sobretudo neste último semestre do ano. Contrariamente ao que seria de esperar, o jovem Biebs está a transitar com sucesso de estrela teen para jovem adulto congregador de massas e a conquistar novos públicos de dia para dia. Confortável no papel de bad boy, ainda enche os tablóides com a narração dos seus excessos, o que só parece alimentar o fenómeno. Está para durar, pois, a Bieber fever.



Kendrick Lamar


Em ano de extraordinária colheita para o hip hop (com lançamentos de peso de Tyler, The Creator, Earl Sweatshirt, Dr. Dre, A$AP Rocky ou Drake), Kendrick Lamar ergue-se sobre todos os outros com To Pimp a Butterfly, obra a desafiar os limites do hip hop e declarada por esmagadora maioria como suprema do ano que chega agora ao fim. E a verdade é que ninguém define melhor 2015 que ele - traduz a ambição e genialidade que se espera de um revolucionário e retrata com espessura uma América a braços com crises de identidade social e uma série de conflitos internos e externos, que se misturam com os próprios dilemas de Kendrick, tão complexo quanto a obra que conseguiu alinhavar. Nem só do contexto social se retira o impacto de K-Dot ao longo deste ano: foi o trunfo de Taylor Swift na renovada versão de "Bad Blood", chegou às cerimónias de prémios da MTV e voltou a repetir a proeza de ser nomeado para uma catrefada de Grammys na edição do próximo ano. E, desta vez, é impensável que saia de mãos a abanar. 



Diplo


Estamos habituado a ver o seu nome associado ao trabalho de artistas de primeira água (Beyoncé, Usher, Chris Brown), mas nunca se ouviu falar tanto de Diplo como este ano. O DJ/produtor norte-americano esteve em três frentes. A solo, produziu uma mão cheia de temas de Rebel Heart, o último disco de Madonna, entre eles dois singles do registo - "Living for Love" e "Bitch I'm Madonna" - e assinou "Kamikaze" para a dinamarquesa MØ. Juntamente com Skrillex criou os Jack Ü, projecto através do qual lançou em Fevereiro um primeiro álbum de onde saiu o particularmente bem-sucedido "Where Are Ü Now", e onde se encontram colaborações com AlunaGeorge, 2 Chainz, Kiesza ou a já citada parceria com Justin Bieber. Por último, a faceta mais visível de todas foi a actividade nos Major Lazer, colectivo dancehall onde milita desde 2008 ao lado de Jillionaire e Walshy Fire, com o qual editou Peace Is the Mission e entregou o maior hit da temporada estival, "Lean On", oficialmente o tema mais ouvido de sempre no Spotify, com cerca de 600 milhões de streams globais. Em 2016 será só cavalgar a onda.



Agora sim, os balanços do ano estão por fim concluídos. Confiram-nos aqui.

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Comentários

  1. Alguém com juízo.

    Sim, porque segundo a M...TV os artistas de 2015 foram os One Direction e a Lady Gaga.
    WHAT?!

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    Respostas
    1. Então Lourenço, já deverias saber o que esperar de mim e do blog. Justiça e coerência, sempre :)

      Ha ha gostei dessa pausa a anunciar o nome do canal. One Direction ainda se pode perceber, agora a Lady Gaga esteve inactiva. Deve tê-los comprado como fez à Billboard, quando esta anunciou que era a "Woman of the Year". Errrrrr... sorry, but no.

      Admira-me que não tenha sido o Justin Bieber. Porque para os prémios europeus do canal (EMAs), desde 2010 que ele é o depositário do prémio de "Best Male" e consta até que é o artista mais premiado nos 22 anos de história do certame. Pelos vistos basta-lhe ter um ano mediano, porque quando está no topo do mundo não precisa de promoção.

      Enfim, toda esta cena dos prémios se baseia em subornos ou trocas de favores. Apenas os Grammys merecem validação, tudo o resto é para construir ou elevar carreiras.

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