O streaming e o futuro da música

 Este post foi originalmente publicado no Notas à Solta.


O streaming já não é o futuro, é o agora. E os seus efeitos já se fazem sentir tanto no nosso dia-a-dia como na indústria.

Na óptica do consumidor, acho que todos beneficiámos com a disseminação e liberalização deste tipo de serviços – temos, praticamente, toda a música feita no mundo disponível (Taylor Swift, é a deixa para saíres da sala) na palma da mão. Para as editoras também deverá ser rentável, de outra forma não disponibilizariam os catálogos dos seus artistas nestas plataformas. Mas para estes não sei se será assim tão justo, atendendo aos constantes relatos de quem lá perde mais dinheiro do que aquele que faz. E isso é especialmente danoso para os pequenos artistas, que assim deixam de vender poucos discos para passarem a vender nenhum.
Mas mais prejudicial do que estar disponível para streaming, é correr o risco de não estar. Algumas vezes – poucas, mas ainda assim algumas – acontece-me não conseguir encontrar nessas plataformas um ou outro artista que queira ouvir. Perdas de dinheiro à parte, estes serviços são ferramentas fundamentais de descoberta e partilha de música, muito mais quando falamos de artistas com pouca expressão de mercado e notabilidade. É possível que alguns sejam contra o modelo, mas infelizmente nem todos têm o livre arbítrio (e poder) de Taylor Swift.
Ao nível da indústria constata-se que as receitas de música têm aumentado por via do streaming e é interessante perceber que os topes se têm esforçado por acompanhar essa mudança de hábitos de consumo. Em Janeiro de 2013 os EUA foram pioneiros ao permitir a inclusão do streaming como método de cálculo da Billboard Hot 100 – a tabela de singles norte-americana – às já existentes componentes de airplay, downloads e vendas físicas. Em Junho do ano passado, a política estendia-se à tabela de singles britânica. Mais recentemente a metodologia foi adaptada, de forma algo controversa, ao top de álbuns norte-americano, permitindo que 1500 streams de uma canção sejam considerados o equivalente à venda de um disco, o que naturalmente distorce as vendas reais deste e a posição que o disco ocuparia na tabela de acordo com a antiga metodologia. A partir de Março será a vez do Reino Unido aplicar a mesma medida na sua tabela de álbuns.
Outro aspecto muito importante inerente a este método será a noção de desvalorização da música. Esse livre acesso e omnipotência abordado no segundo parágrafo transforma a percepção que o consumidor tem acerca dela – para quê pagar por algo que lhe chega de graça e que pode ouvir sempre que quiser? É necessário retribuirmos de alguma forma, seja subscrevendo a versão paga destes serviços, comprando os discos, indo aos concertos, promovendo os artistas em blogs (tarefa para os melómanos desta vida) ou nas redes sociais.
Mudem-se paradigmas da indústria e hábitos de consumo mas que nunca se perca a noção de que a arte é alimento para a alma. E se nós nos deleitamos de estômago cheio, porquê continuar a dar migalhas aos que por ela são responsáveis?

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