REVIEW: Lea Michele- Louder
O mundo conhece-a como Rachel Berry, personagem basilar de Glee, série onde ao longo dos últimos 5 anos é capaz de ter interpretado o equivalente à lista telefónica do cancioneiro da língua inglesa que compreende desde hits do top 40 a musicais da Broadway ou até a canções do arco-da-velha. Sempre através das palavras dos outros, mas com um irrepreensível aparelho vocal que era seu e de mais ninguém. Agora é a vez de Lea Michele brilhar em nome próprio nesta que é a sua tão aguardada estreia a solo. Vejamos de que massa é feito este Louder:
1) Cannonball- É a canção perfeita para dar a conhecer Lea, a artista, ao mundo. É um tremendo hino inspirador acerca de ultrapassar uma fase menos boa, dar a volta por cima e começar de novo, que ganha um especial significado se tivermos em conta que a própria Lea sente na pele os versos que canta, versos esses que de certo ajudaram a sarar uma ferida que nunca desaparecerá por completo. É também o único tema do disco produzido por "bestas" consagradas do meio - Stargate e Benny Blanco. (8/10)
2) On My Way- Depois de disparada que nem uma bala de canhão por esse céu fora, Lea aproveita o balanço do disparo e lança-se a uma eufórica feel-good song a roçar o upa-la-la-mais-uns-pós-e-isto-tornava-se-numa-rave-techno. Podia perfeitamente ser um tema de Katy Perry, não fosse cantado por alguém que lhe dá 10-0 nisto das cantorias. Daria, por isso, um óptimo single. (8/10)
3) Burn with You- Uma espécie de balada synthpop com sangue na guelra que associo mais ao perfil de Demi Lovato (quase que podia jurar que é ela que canta isto) do que ao de Lea Michele. É satisfatória, mas não me atrai tanto quanto os dois temas anteriores. Ainda assim tem uns versos que merecem destaque: "I don't wanna go to heaven/If you're going to hell/I will burn with you". Romantismo trágico no seu melhor. (7/10)
4) Battlefield- O grande momento do disco - a nível vocal e lírico - que evoca Rachel Berry nas suas melhores interpretações dramáticas. Faz-me lembrar a tempos as baladas de Celine Dion, ainda que nunca atinja as proporções épicas das ditas cujas. Aliás, o seu poder não reside numa estrutura em crescendo, mas sim na intensidade das palavras cantadas por Lea, que aqui usa a seu favor a experiência adquirida nos palcos da Broadway. A dor chega a ser palpável, nomeadamente quando canta "we seemed like a good idea". Devastadora. (9/10)
5) You're Mine- É uma das duas canções dedicadas a Cory Monteith e outro dos meus momentos favoritos do disco. É também uma das mais elaboradas do alinhamento - piano, percussão a rodos e um refrão orquestral que sampla "You Only Live Twice", por sinal a mesma secção de cordas presente em "Millennium" de Robbie Williams. Conta, uma vez mais, com uma fabulosa entrega vocal por parte de Lea, e um refrão larger-than-life que me faz, inclusivé, querer bradá-lo a plenos pulmões. Desculpem lá, vizinhos. (9/10)
6) Thousand Needles- Podia ser um hino à acupuntura. Mas não é. Isto porque as agulhas lhe estão cravadas no coração e, como tal, "she keeps bleeding, keeps, keeps bleeding love" (oi Leona). É uma balada imensa e Lea canta desalmadamente, como se esta expressão de dor fosse a última coisa que fizesse antes de emanar o derradeiro sopro de vida. É dramático, intenso e estrondoso - ninguém melhor do que ela para fazer justiça a isto. (8/10)
7) Louder- "Come out of the shadow/step into the light/this could be the moment/are you ready to fight?", canta Lea naquele que é o tema-título do disco, mais um valente hino de superação para ser bradado a plenos pulmões a alto e bom som. Tem, novamente, traços das canções de Katy Perry e um pouco de "Titanium" na parte instrumental. É um óbvio hit à espera de ser transformado em single. (8/10)
8) Cue the Rain- Parece ter saído directamente do universo Disney, mais concretamente de um daqueles bailes régios em que a princesa encontra o seu príncipe e foge antes das 12 badaladas. Hum? Cinderela? Pois, é por aí. É a mais fraquinha do alinhamento e não fosse pela prestação vocal de Lea, que salva sempre o dia, isto tornava-se muito mas muito aborrecido. (6/10)
9) Don't Let Go- Faz-me lembrar as performances colectivas de Glee, aquelas em que, durante 3 minutos e tal, se esquecem as rivalidades e quezílias e todos cantam e dançam de mãos dadas. Deve ser por isso que de repente fui invadido por uma vontade enorme de sair para a rua, pegar em todas as pessoas que me apareçam pela frente e liderar um flash mob colectivo. Quem está comigo? É a 4ª feel-good song que por aqui encontro, e se antes Lea queria voar que nem uma bala de canhão, agora incita a "flying high as a kite". Desafiar a gravidade é com ela, está visto. (7/10)
10) Empty Handed- À primeira audição torci o nariz a esta balada que se assemelha a um mash-up entre "Yellow" dos Coldplay e "A Thousand Years" de Christina Perri. Eventualmente lá acabei por me render à sua estrutura melódica e à interpretação de Lea Michele, aqui num registo bastante terno e luminoso. Daria um inesperado mas bonito single. (8/10)
11) If You Say So- É, a par de "Cue the Rain", um dos dois temas com assinatura de Lea e o outro dedicado a Cory. Supostamente deveria ser o mais importante do alinhamento e um dos mais memoráveis, mas não consegue igualar a imponência de "Battlefield", "Thousand Needles" ou "You're Mine", que é uma forma mais singela de homenagear o seu ex-noivo. Ainda hoje sou da opinião que nada supera a rendição emotiva de "Make You Feel My Love" que fez no episódio de Glee a ele dedicado. E assim termina Louder. (6/10)
Directamente da Broadway para uma série musical, onde tem sido a estrela principal da companhia, era apenas uma questão de tempo até lhe ser dada a oportunidade de gravar um disco - e não me lembro de outro alguém que merecesse tanto isto como ela. É uma evolução natural, portanto.
Antes de mais, convém esclarecer que Lea Michele não está a concorrer para estrela pop no campeonato onde figuram nomes como Katy Perry, Miley Cyrus ou Lady Gaga. Nem me parece que seja esse o seu objectivo, pelo contrário, Lea surge como uma óbvia alternativa a todas elas. A voz é o seu chamariz principal. Pujante e gloriosa, de soprano eximiamente treinada, com um alcance verdadeiramente impressionante. Mas isso já sabíamos nós. Não sabíamos, porém, o que aconteceria no momento em que desse a conhecer os seus primeiros originais.
Louder é um disco pop que longe de ser fulminante, não é de modo algum decepcionante. Cabe lá de tudo um pouco - dance pop, synthpop, pop de estádio, R&B, baladas de fazer chorar as pedras da calçada e canções que poderiam figurar num qualquer espectáculo da Broadway. A primeira metade do álbum é relativamente mais interessante que a segunda, que se esvai em derivações líricas e se esbate numa tela sonora algo monótona e repetitiva. O amor, a perda e a superação de obstáculos são as principais temáticas aqui exploradas, mas preocupa-me o facto de Lea ter composto apenas 2 temas, algo que pode ser explicado pelo tempo que Glee lhe ocupa (também só falta mais uma temporada e depois fica livre). Saliento também o facto do disco ser produzido por nomes pouco sonantes (Stargate, Benny Blanco e Sia são a excepção) o que não deixa de ser bem-vindo numa indústria tão saturada de nomes como Dr. Luke, Max Martin, David Guetta e afins. E o resultado é igualmente bom...
Em suma, é um óptimo primeiro capítulo que demonstra que há espaço para alguém como Lea Michele no panorama musical, existindo também a capacidade para fazer trabalhos superiores a este no futuro. Se para ela isto foi a concretização de um sonho, para mim foi um prazer enorme escutá-la, por fim, em nome próprio. Que isto seja apenas o início.
Classificação: 7,6/10
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