REVIEW: Pharrell Williams- G I R L
Com duas décadas de experiência - primeiro nos Neptunes, depois nos N.E.R.D. e mais recentemente a solo - é seguro afirmar que Pharrell Williams nunca antes foi tão omnipresente e omnipotente como agora. O rastilho foi aceso ao deixar a sua marca em "Get Lucky" e "Blurred Lines" - os dois grandes hits do Verão passado - e ameaçou explodir quando "Happy" se tornou num hino mastodôntico à escala planetária. Girl é o seu primeiro álbum em 8 anos, desde a estreia a solo com In My Mind, e poderá torná-lo um nadinha mais grandioso, se possível. Vejamos o que nos reserva:
1) Marilyn Monroe- A saraivada orquestral com que se inicia o disco transporta-me a "Pusher Love Girl", tema de abertura de The 20/20 Experience. Mas Pharrell trata logo de estabelecer as diferenças, ao exclamar um sonoro "different", e logo vem ao de cima a sua meticulosa produção de R&B sincopado e impregnado de funk que já deu origem a tantos hits. É um tema que retrata a sua busca incessante por uma rapariga peculiar e que, ao que parece, foi escolhido como 2º single. É bom, mas acho que a interpretação do próprio Pharrell é desinspirada. Felizmente que há bem melhor por esse disco fora. (7/10)
2) Brand New- E nem a propósito, eis que o homem que há pouco citei vem dar um ar da sua graça. Pharrell e Justin Timberlake - uma dupla de sonho que já fez excelentes parelhas no passado mas que nos últimos anos não tem colaborado, o que é lamentável. "Brand New" é um parente próximo de "Let the Groove Get In": contém o mesmo exotismo, exuberância instrumental e apelo divinal. É extremamente irresistível e exclama single por todos os poros. Fossem todos os duetos como este e o panorama musical estaria pleno de vida. (9/10)
3) Hunter- É a prova do quão infalíveis são as batidas de Pharrell, aqui numa deliciosa toada guitar funk. Quase que podia jurar que foi feita a partir de retalhos de "Work it Out" (Beyoncé) e "Boys" (Britney Spears), ambos temas com mais de 10 anos, mas nem por isso soa datada ou menos irresistível. Veja-se: os versos são fraquíssimos, mas essa é a menor das minhas preocupações, pois a batida atinge-me de tal forma que eu só quero dançar até cair para o lado. (8/10)
4) Gush- Aqui é o trono de Michael Jackson a que Pharrell aponta. Temos novamente aquela batida funky que pisca o olho aos Chic de Nile Rodgers, mas depois há ali muita líbido à solta - versos escabrosos a rodos que não me atrevo a citar - e uma prestação vocal muito mais confiante da sua parte, comparativamente ao que ouvi no primeiro tema. Pharrel brilha particularmente quando entoa "light that ass on fire". Falo muito a sério quando digo isto, apesar de não parecer. (8/10)
5) Happy- Ouvi-o pela primeira vez há uns 5 meses atrás e é incrível como desde então conserva a sua magia. Seja da mensagem univesal que transporta, do seu ritmo infalível ou do coro tão bem incorporado, o certo é que veio dar um novo significado à palavra perfeição. E acreditem quando vos digo que rara foi a vez em que a ouvi e não senti uma enorme vontade de dançar. Inquestionavelmente, é uma das melhores canções que os anos 10 já deram ao Mundo. E quem não a sente, não é filho de boa gente. (10/10)
6) Come Get It Bae- O facto da canção contar com préstimos vocais de Miley Cyrus activa desde logo as minhas resistências, mas tão depressa são destruídas como foram erguidas. Porquê? Porque isto é nada menos do que espectacular! E estou pasmado por gostar tanto dela, a sério que estou. É uma digna sucessora de "Blurred Lines", com uma forte secção rítmica deliciosamente funk, polvilhada por inúmeros "HEY!" by Miss Cyrus, uma bassline pulsante, palmas e uns "uuuuuuuuhhh" robóticos. O teor lírico, claro, é completamente depravado. Quando o Verão chegar e se isto for lançado como single, preparem-se, pois vai ser tiro-e-queda. (9/10)
7) Gust of Wind- Seria de pensar que quando Pharrell se juntasse novamente aos Daft Punk, sairía dali algo tão portentoso quanto "Get Lucky" ou "Lose Yourself to Dance", as faixas com que Mr. Williams contribuiu para Random Access Memories, certo? Mas não. "Gust of Wind" parece ser a criação mais desinspirada do tríptico e apenas ganha fulgor quando a dupla francesa entra em cena munida dos seus vocoders. Talvez porque agora seja Pharrell a conduzir os robots e não o contrário... É bastante boa, mas esperava algo mais assombroso, digamos. (8/10)
8) Lost Queen- É um dos temas mais ambiciosos deste Girl: os primeiros 3 minutos são constituídos por "Lost Queen", uma ode neo-soul feita em plena savana africana a uma "rainha perdida" de outro planeta que Pharrell se disponibiliza a servir com "hot sex and gold, shiny things". Segue-se depois uma quebra musical em que se ouve apenas o rebentamento de ondas e segue-se uma mutação sonora em modo "música ambiente", que me faz lembrar o mesmo tipo de transição que ocorre em "Strawberry Bubblegum", de JT - é o prelúdio "Freq" (lê-se freak), que conta com préstimos vocais de JoJo (bons ouvidos a escutem!) que se alia a Pharrell para uns notáveis ad-libs. (8/10)
9) Know Who You Are- "I know who you are, and I know what you're feelin'", cantam Pharrell e Alicia Keys - o que já é meio caminho para o ouvinte sentir uma enorme empatia com esta inspirada aventura em territórios ragga e ska que vive de uma entusiasmante partilha vocal entre os dois interlocutores. É diferente do que tenho ouvido por aqui, mas é igualmente apelativa. (8/10)
10) It Girl- O álbum termina da mesma forma que começou - uns furos abaixo do seu verdadeiro potencial. O título é tão desinspirado quanto a interpretação de Pharrell, aqui a tentar um registo funky-soul via James Brown que definitivamente não é a sua praia. É o tipo de canção a que Justin Timberlake faria justiça. Já Pharrell deveria ter-se deixado ficar atrás da mesa de mistura. (6/10)
Não há muito a dizer em jeito de remate: Girl é tudo aquilo que se esperava de alguém do calibre de Pharrell Williams e só vai apanhar de surpresa quem não está familiarizado com o génio do homem que esteve por detrás de "I'm a Slave 4 U", "Hella Good", "Rock Your Body" ou "Hollaback Girl". É extremamente competente, ridiculamente irresistível, tem os seus momentos audaciosos (particularmente em "Brand New", "Happy" e "Lost Queen") e fará maravilhas pelo nome de Pharrell, agora que está empenhado em lançar-se como mega-estrela a solo. Só não é um álbum excelente porque os seus dotes vocais por vezes puxam a bitola para baixo... Fosse isto um álbum inteiramente colaborativo com Justin Timberlake e aí sim, deus do céu, a terra ia tremer. Mas não é. É a vez de Pharrel brilhar em nome próprio e de ter, por fim, o reconhecimento que nem sempre teve aos comandos da produção. Pois que seja a hora. Seja agora.
Classificação: 8,1/10
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