Bat for Lashes- The Haunted Man

Não é por estarmos em plena semana de Halloween que optei por ouvir e analisar o novo álbum de Bat for Lashes, The Haunted Man. Foi há pouco tempo que a descobri, mas o que ouvi deixou-me intrigado e com vontade de saber mais acerca de Natasha Khan. Afinal de contas, este espaço serve também para sair da minha zona de conforto e explorar novos territórios. Tema a tema, aqui fica a minha opinião:

 

1) Lilies- O tema de abertura deixa-me logo rendido. Apercebo-me logo da densa textura em que Bat for Lashes está envolta: composição e estrutura intrincada e uma letra inteligente e repleta de sentimento. Deixo-me levar pelo refrão perfumado e inebriante desta ode aos lírios: a fasquia começa bem lá no alto. (8/10)

 

2) All Your Gold- Logo ao primeiro segundo é-me difícil resistir à cadência da batida sedutora, uma espécie de melodia ancestral que embala o mundo, que se entranha nos meus ossos. Às tantas, a dor que Natasha Khan deveras sente torna-se palpável e dilacerante. A fasquia, essa, subiu mais uns quantos centímetros. (8,5/10)

 

3) Horses of the Sun- Ao 3º tema torço ligeiramente o nariz. Começa de forma monótona, como se de um mantra sagrado se tratasse, e só consigo engraçar com o refrão. É, portanto, de difícil digestão. Convém também referir que os 5 minutos de duração não abonam em seu favor. Espero não me ter impressionado demasiado com os 2 temas iniciais e que daqui para a frente não tenha que franzir a testa. (6,5/10)

 

4) Oh Yeah- O título parece remeter para algo mais comercial e animador, mas não é nada disso que encontro. Imagino-me a viajar pelo espaço, vagueando por entre galáxias e constelações, e num estado de espírito muito muito alucinado. Devaneios à parte, oiço aqui influências de Kate Bush e umas pinceladas de electrónica. O resultado agrada-me, pois claro. (8/10)

 

5) Laura- Foi este o tema que me despertou interesse em conhecer Bat for Lashes: uma alma capaz de um prodígio destes merece ser explorada. Escrita pelo mesmo homem que fez de "Video Games" um êxito global, "Laura" é de uma beleza comovente que me deixa em ruínas. A vulnerabilidade da intérprete e a magnitude emocional da música e letra, não deixam margem para dúvidas: não só é o melhor tema do álbum como um dos melhores que já ouvi este ano. Estrondosamente bela e assombrosa. (9,5/10)

 

6) Winter Fields- Por momentos penso que dei de caras com os Beirut ou os Mumford & Sons, dado ao título do tema e à pseudo-folk com que se inicia. Apesar da letra ser um completo mistério para mim, fico encantado com a beleza melódica. É mais um óptimo tema de um álbum que estou a gostar bastante. (8,5/10)

 

7) The Haunted Man- Óptima transição do tema anterior para este. A atmosfera densa e misteriosa continua a pairar de forma tão encantadora quanto inquietante. Sou incapaz de decifrar o desenrolar dos temas e isso deixa-me constantemente alerta e maravilhado. No tema título há um coro de "homens assombrados" e a sua longa duração (excede novamente os 5 minutos) é disfarçada pela crescente e imprevisível teia sonora com que se reveste. (8/10)

 

8) Marilyn- Às tantas inquieta-me o porquê do constante uso de nomes de pessoas para os seus temas e uma pesquisa adicional revela-me que isto já é prática do passado ("Prescilla", "Sarah" ou "Daniel" são alguns exemplos). Serão inspirados em pessoas que conhece ou serão fruto do seu rebuscado imaginário? Este "Marilyn" parece-me ser uma óbvia dedicação a Miss Monroe e é tão reluzente quanto o ícone que homenageia. (8/10)

 

9) A Wall- Não esbarro contra uma parede pois chegado a este ponto já começo a descodificar uns certos aspectos da sua linguagem artística. Não tendo a carga imponente e densa dos temas anteriores, "A Wall" é leve, despreocupado, apelando à capacidade de ver mais além e de superar as adversidades de uma relação. O meu ouvido aprova. (8/10)

 

10) Rest Your Head- Melodicamente convence-me e parece-me ser dos momentos mais pop, se é assim que se pode chamar, já liricamente sinto que Bat for Lashes anda às voltas com a mesma temática, remoendo os mesmos conceitos e mensagens que já ouvi anteriormente neste The Haunted Man. (7,5/10)

 

11) Deep Sea River- É mesmo um mar de grande profundidade a que este tema alude, percorrido nuns longos 6 minutos e 22 segundos. A dada altura Bat for Lashes entoa "It's time to get enchanted": não me considero fácil, mas a verdade é que me deixei encantar logo ao 1º tema. Este aqui parece arrastar-se interminavelmente e, apesar de proporcionar um digno encerramento, não me deixa particularmente agradado. (7/10)

 

Nunca sabemos o verdadeiro valor de algo até ao momento em que o experimentamos. Como já o referi, Bat for Lashes era para mim uma incógnita até há bem pouco tempo atrás e fico grato por me ter desafiado a ouvir a sua mais recente obra. The Haunted Man comoveu-me e fez-me ver que Bat for Lashes é uma fabulosa artista mas que não está ao alcance da compreensão de todos. Não pode nem deve ser rotulada, deve sim ser apreciada pela sua singularidade e devoção com que se entrega. The Haunted Man é tão libertador quanto a capa o demonstra, despido de truques de estúdio manhosos e narrado num tom confessional e íntimo. Não acabei simplesmente de ouvir um álbum: entrei na mente de Natasha Khan e vi o quanto é bela e intensa, senti o que é ouvir uma artista séria como há poucas nos dias que correm. Não há nada mais maravilhoso do que gostar de um álbum e aprender com ele: este não só irá para a minha colecção, como figurará, brevemente, nas listas de melhores discos do ano.

 

Classificação: 8/10