Leona Lewis- Glassheart

 
Esta semana faço a minha análise ao 3º álbum de Leona Lewis, Glassheart. Alvo de sucessivos adiamentos (concretamente esteve 1 ano adiado), pode ser um ponto de viragem na carreira algo adormecida da cantora. É seguro dizer que as minhas expectativas estão elevadas e anseio encontrar material digno da longa espera. Aqui fica o que descobri:
 
1) Trouble- O 1º single do álbum revela logo uma nova faceta a nível sonoro: ouvem-se influências trip-hop, uma letra que tem mão de Emeli Sandé e a notável produção de Naughty Boy. A dor que canta é palpável e está regada de emoção da primeira à ultima nota. É um excepcional tema que, mais tarde virei a descobrir, é o melhor do álbum. (8,5/10)
 
2) Un Love Me- O 2º tema perde o embalo experimental e temos de volta a Leona de sempre: letra engraçada, interpretação eficaz e produção polida. É agradável ao ouvido mas o fogo que "Trouble" prometeu não arde aqui. (7/10)
 
3) Lovebird- Uma espécie de carta de despedida ao seu amor, é um tema bonito cujo refrão fica no ouvido e um tiro comercial que pode muito bem ser aproveitado como single. Tanto a nível vocal como a nível instrumental faz-me lembrar algo que facilmente poderia pertencer ao reportório de Mariah Carey. (7,5/10)
 
4) Come Alive- Correndo o risco de entrar no turpor do costume, Leona desperta neste inesperado tema obscuro à base de influências drum and bass e techno. Eram surpresas destas que esperava encontrar e aplaudo o risco corrido. Contudo, torço o nariz ao refrão que julgo não ter poder suficiente.  (7/10)
 
5) Fireflies- Escolhido como 2º single, é representativo da Leona clássica que todos conhecemos. Não hajam dúvidas que é uma bonita balada, talhada com precisão e com uma bela interpretação, mas é ligeiramente soporífera e deixa-me à beira do bocejo. Musicalmente falando, é pouco interessante. (7/10)
 
6) I to You- De novo com a autoria de Emeli Sandé, é precisamente o tipo de balada que Glassheart necessitava. Liricamente é construída na perfeição e tem uma aura obscura que encaixa aqui que nem uma luva. Tal como acontece em "Trouble", é um óptimo exemplo de como Leona não precisa de praticar acrobacias vocais para se fazer ouvir e sentir. (7,5/10)
 
7) Shake You Up- Tal como o nome indica, Leona agita um pouco as coisas e diminui a carga dramática do álbum com este contagiante e encantador tema synthpop que parece saído directamente dos anos 80. É um dos momentos mais instantâneos e deliciosos de Glassheart, que rapidamente me cai no goto. (8/10)
 
8) Stop the Clocks- Quando finalmente pensei que o álbum tinha tomado uma direcção mais interessante, eis que se instala de novo a monotonia. Porquê, Leona, porquê? Deixa lá as baladinhas fofinhas saídas dos contos de fadas e prova que és capaz de mais! Até agora é o momento mais desinteressante de Glassheart. (6/10)
 
9) Favourite Scar- Atenção, que esta promete, pois tem Ryan Tedder (do qual sou grande admirador) nos créditos da composição e produção. Confesso que não é bem o que esperava, mas pelo menos não é mais uma daquelas baladas insonsas. Os sucessivos "la la la la la la" presentes no refrão deveras contagiante ficam-me no ouvido. (7,5/10)
 
10) When It Hurts- Adivinhem só: a pasmaceira está de volta numa espécie de balada que me faz revirar os olhos de tédio.  Mais uma destas e arrependo-me de ter eleito o álbum como o meu estudo de caso para esta semana. Haja paciência. (5/10)
 
11) Glassheart- Leona deve ter ouvido os meus queixumes e em boa hora o fez. O tema título prova que ainda lhe corre sangue nas veias numa surpreendente infusão de dubstep e dance pop saída das mãos de Ryan Tedder (elá, nunca pensei que Mr. Tedder fosse capaz disto) e que tem sucesso garantido nas pistas de dança. Só há um pequeno problema: o refrão instrumental à la "Where Have You Been". (8/10)
 
12) Fingerprint- Encantadora balada na qual Leona Lewis exprime toda a sua devoção a um único amor. Uma vez mais, é algo que poderia pertencer ao seu antigo reportório, mas que me embala os ouvidos e equilibra um pouco mais os pratos da balança de um álbum um tanto ou quanto desequilibrado. (7,5/10)
 
13) Trouble- Estou pior que danado e com ganas de lhe dirigir impropérios. Caramba, com tanto tempo para maturar ideias e criar novos temas porque raio a última faixa do disco tem que ser de novo o tema de abertura? A única novidade é a inclusão de uns versos da autoria de Childish Gambino, mas continuo a preferir a versão original. Preferia que no seu lugar estivesse "Collide", aquele que seria o 1º single há um ano atrás. É que não havia mesmo necessidade. (7/10)
 
A viagem foi curta e pouco intensa. Glassheart não é um mau álbum, mas esperava mais de um disco que teve todo o tempo do mundo para ser concebido. Só existe um tema brilhante ("Trouble"), dois acima da média ("Shake You Up" e "Glassheart") e outros dois ou três que ficam no ouvido. O resto não passam de repetições de fórmulas já gastas, sendo propícios ao bocejo. Saliento a vontade demonstrada em querer quebrar barreiras e mostrar que há mais do que uma grande voz, mas nem sempre as experiências lhe correm de feição. Leona Lewis tem de facto uma excelente voz, mas tem um grande problema: a falta de uma personalidade artística. Glassheart dispara em demasiadas direcções (o que se pode explicar pela grande quantidade de produtores recrutados) e está demasiado focado na produção, ofuscando não raras vezes o seu aparelho vocal, que aqui não brilha como antigamente. Dou-lhe 2 conselhos: primeiro, há que mandar Simon Cowell às urtigas e procurar um novo lar que não esteja demasiado preocupado em torná-la um produto manufacturado. Segundo, porque não pegar na onda de "Trouble" e fazer um álbum que explore essa veia mais alternativa? Não sei o que o futuro lhe reserva, mas se tardar a encontrar o seu caminho, corre o risco de ir parar ao báu das recordações. Verdade seja dita: já faltou mais para Leona Lewis perder todo o interesse.
 
Classificação: 7,1/10

Comentários

  1. Não acho que tenha a qualidade dos dois álbuns anteriores, mas acho que tem faixas muito boas. Achei Lovebird uma boa melodia com uma letra fantástica. Trouble com Childish Gambino e a sua devida promoção era hit de certeza. E Glassheart e Sugar é viciante! Mas, tal como referi, não chega aos calcanhares de Echo, por exemplo. Happy, Alive, Lost Then Found... Enfim, uma produção perfeita e digna da Leona! Glassheart nem teve promoção e atirou a Leona para o fracasso. Espero que volte em grande porque bem merece!

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  2. Digamos que é um álbum mediano, mas nem por sombras merecia ser o fracasso que foi (50 mil cópias vendidas no Reino Unido comparadas com os 3 milhões que o Spirit vendeu é muito crítico). Sim, tem os seus bons momentos mas dispara em demasiadas direcções e perdeu-se o foco no seu formidável aparelho vocal, que é aquilo que a distingue de todas as outras.
    Entretanto parece que já recuperou e está a trabalhar num álbum natalício, o que a deve colocar de novo na rota do sucesso. É uma questão de tempo até que ela volte ao topo: grandes vozes como a dela são demasiado preciosas para estarem na penumbra e acabam sempre por ver o seu valor reconhecido.
    Obrigado pelo comentário =D

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  3. Olá! Antes de mais, parabéns pelo teu fantástico blog! Mostra que és uma pessoa bastante inteligente na forma como escreves e com certeza que darias um bom jornalista! Aconselho-te a criares uma página no Facebook de modo a que o teu trabalho tenha o devido reconhecimento! Conheci o teu blog à pouco, quando um amigo meu colocou o teu post de "Applause" e "Roar" no Facebook.
    Portanto este é o meu primeiro comentário e decidi fazê-lo em "Glassheart" da Leona Lewis, uma vez que para mim foi um dos regressos que mais aguardei, talvez a par dos novos trabalhos de Christina Aguilera, P!nk e Bruno Mars. E agora Lady Gaga e Katy Perry.
    A Leona é uma das melhores vozes da nova geração, disso não há dúvida! Depois de sucessivos adiamentos (que na minha opinião só a prejudicaram pois achava que Collide tinha tudo para ser HIT), eis que a Leona Lewis chega com um diamante por polir.
    Primeiro, ao ouvir o álbum completo, houve várias coisas que me deixaram irrequieto. Porquê a versão mais electrónica de Glassheart no álbum? (Não sei se chegaste a ouvir a versão 1.0 da canção que a Leona cantou primeiramente quando andava a divulgar Collide num bar em Londres, mas apresento-te aqui, em melhor qualidade, num dos concertos que deu com a tour Art on Ice - http://www.youtube.com/watch?v=Ug-NYwk69OA), porquê uma versão mais mid-tempo de "Lovebird"? Porquê descartou "Burn", que agora é hit, e pôs nas mãos de Ellie Goulding? (Não sei se já ouviste a versão da Leona, apesar de ser demo e ter uma produção menos arranjada da Ellie, gosto muito - http://www.youtube.com/watch?v=d2Nl45PeZYg - uma nota, a versão da Leona vazou na internet no dia em que Ellie divulgou "Burn" e o vídeo da Leona até chegou a ter 300 000 visitas num dia, só que foi banido).
    Segundo, e aqui talvez discorde contigo, prefiro a versão de "Trouble" com Childish Gambino, aliás, foi com o rapper norte-americano que a canção foi apresentada. É uma canção diferente do habitual, obscura, misteriosa... Tenho uma pena que não tenha ido mais além que #7 no UK. Em Portugal ainda foi número #32. Mas a canção merecia muito mais, pois para mim concorria facilmente a uma das melhores canções da década de 10'!
    Terceiro, na versão deluxe, existe uma canção chamada "Sugar" que está simplesmente fantástica. Vai na linha de "Come Alive" mas com uma produção e uma letra muito melhor.
    De resto concordo com quase tudo o que disseste! Acho que "When it Hurts" uma melodia que fica no ouvido, "Lovebird" merecia um pouco melhor, acho que nem ao top do Reino Unido foi (que medo!) e também acho que "Glassheart" merecia ter sido lançada como single!
    Por fim, também acho que a falta de identificação artística por parte da Leona é, sem dúvida, o seu grande problema.
    Tenho o instinto que sairá um hit no seu CD de Natal e que aproveitará isso para reeditar "Glassheart" que para mim até é um ótimo álbum apesar de ainda assim preferir "Echo" (só em pensar em "Happy", "Broken", "Alive" ou "Lost Then Found" feat One Republic dá-me um arrepio na espinha! :)
    Continuação de um ótimo trabalho e pensa no Facebook para promoveres, acho que merece mais reconhecimento!
    Abraço, João Santos

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  4. Olá João, ainda bem que encontraste o meu blog! E o teu comentário (o maior que alguma vez me fizeram) fez-me ganhar o dia =D

    Obrigado pelos elogios e pelo conselho que me deste. Um dos meus objectivos passa por conseguir chegar a um maior número de pessoas e o facebook parece-me o veículo mais adequado. Vou tratar disso nos próximos tempos.

    Acredito que o Glassheart teria sido melhor recebido se tivesse sido lançado em 2011 e com "Collide" como cartão de visita. O facto da sua editora não ter promovido o álbum como devia também não ajudou. Lançarem o "Glassheart" como single não seria a salvação, mas podia ter evitado a ruína. Consta que o "Lovebird" vendeu menos de 600 cópias e nem sequer entrou para o top 200 (auch!). Não tinha ouvido a "Sugar" mas ouvi há pouco e gostei. Não percebo como é que não foi incluída no alinhamento original, mas o certo é que por vezes os melhores temas ficam reservados para a versão deluxe. Quanto ao facto de ter desperdiçado a "Burn" (gostei, mas acho que se coaduna melhor com a voz da Ellie) começa a ser uma prática recorrente: fez o mesmo com "Halo", que foi parar às mãos da Beyoncé, e com "We Found Love", que a Rihanna haveria de transformar num autêntico estrondo. Quanto à reedição do álbum já acho mais complicado. Quando confrontados com um fracasso, os britânicos são incisivos: acabam abruptamente com a promoção e começam logo a pensar no próximo projecto. E parece-me a mim que o álbum natalício é exactamente aquilo que a Leona precisa.
    Mas é como disse no meu primeiro comentário, ela acabará por encontrar o seu caminho e ter o reconhecimento que merece.

    Pareces ser um rapaz entendido nos meandros da pop e espero poder contar futuramente com mais comentários teus! Aparece mais vezes e aproveita para descobrires o resto do blog, nomeadamente os posts que fiz acerca de artistas que te podem interessar (vê nas etiquetas do lado direito).

    Uma vez mais, muito obrigado pelo comentário: fiquei muito contente mesmo por ler tamanhas palavras de incentivo e encontrar uma opinião tão elaborada sobre o assunto!

    Abraço

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