REVIEW: Disclosure- Settle


Quando há cerca de 6 meses atrás ouvi pela primeira vez esta dupla de irmãos fiquei de queixo caído com o poder que emanavam. Guy e Howard Lawrence são actualmente o expoente máximo da nova cena garage e house britânica e estão a conquistar o mundo a cada novo dia que passa: há muito que estou completamente rendido e por isso parto para a audição de Settle com as expectativas bem lá no alto. Vejam o que encontrei:
 
1) Intro- Trata-se de um pequeno interlúdio de 1 minuto que antecede o que aí vem, uma espécie de warm-up que estabelece a ponte com o primeiro tema à séria.
 
2) When a Fire Starts to Burn- Um fogo ateado pelos Disclosure cospe labaredas capazes de incendiar toda e qualquer pista de dança: logo ao primeiro tema dão conta do recado e fixam as suas próprias leis. Apesar de original e infeccioso, nem é das melhores criações que aqui residem. (8/10)
 
3) Latch- Nunca mais me vou esqueçer da primeira vez que o ouvi: foi um daqueles momentos em que nem percebemos bem o que nos atingiu, dada a sua magnitude. A interpretação de Sam Smith é paradisíaca e a batida é algo de outro mundo: a pulsação aumenta, as pupilas dilatam-se e são libertadas hormonas de prazer. É para lá de perfeito. (10/10)
 
4) F For You- É toda ela uma provocação: o "F" antevê um grande f*ck you, mas é a palavra fool que se esconde por detrás. Depois simboliza também o facto dos irmãos conseguirem, simultaneamente, serem os mestres da batida e os donos do microfone. É um testemunho de poder e independência: são bons não porque dependem de alguém mas sim porque têm talento e ideias excitantes. (9/10)
 
5) White Noise- É um combo fatal: a genialidade da dupla une-se à espectacularidade dos AlunaGeorge, também eles uma das revelações mais excitantes de 2013, a par dos manos Lawrence. A voz alienígena e esquisitóide de Aluna funde-se na perfeição com a batida hipnótica e os beeps maquinais cujo propósito é o de fazer os corpos dançar até à exaustão. Novo momento perfeito. (10/10)
 
6) Defeated No More- Entre a bordo Ed Macfarlane, o vocalista dos Friendly Fires, e traz consigo o calor tropical e exótico de Pala, o último álbum da banda. Talvez um pouco mais clubby do que seria esperado encontrar no repertório do grupo, assemelha-se a um mergulho nas águas cálidas de uma qualquer ilha paradisíaca. E quando aquele refrão entra... uhhhhh, vislumbro o paraíso. (10/10)
 
7) Stimulation- Com um nomes destes até tenho receio do que possa encontrar, dado que os meus ouvidos já foram estimulados à exaustão. Aqui sente-se a euforia eurodance dos anos 90 e parece que sou transportado para uma aula de aeróbica, dada a batida voraz e acelerada. Não há volta a dar: estou a meio do disco e o poder dos Disclosure apoderou-se de mim. (9/10)
 
8) Voices- O microfone fica a cargo de Sasha Keable, uma ilustre desconhecida, mas que tão bem serve a batida, algo que os manos entendem na perfeição: é o artista que deve servir o tema e não o contrário. Nada a apontar: mantém a fasquia elevada e até ao momento ainda não ouvi reciclagem de ideais- continua tudo tão excitante quanto no primeiro minuto. (9/10)
 
9) Second Chance- Sem rede e nenhum convidado, os Disclosure abrandam o ritmo e deixam-me respirar um pouco, o que também é bastante inteligente da sua parte. À base de um sample vocal e de umas distorções aparentemente simples, mas eficazes, criam um ambiente relaxado e cool, como vem sendo hábito. (8/10)
 
10) Grab Her!- A receita é a mesma do tema anterior - sem um grande nome por trás e com um sample aleatório- mas a batida é completamente diferente de tudo o que já ouvi, fazendo-me lembrar em certos momentos uns Daft Punk nos seus primórdios. Só peca por ser um pouco longa, mas instiga o corpo a dançar - e é essa a sua razão de existência. (8/10)
 
11) You & Me- Nunca na vida pensei que a doçura e simplicidade de Eliza Doolittle se fundisse com o universo dos Disclosure, mas aqui estão eles a provar-me o contrário. Poderia ser uma armadilha, mas eles contornam-na eximiamente: acaba por ser o tema mais inesperado e melhor interpretado- a dicção e cadência da voz de Eliza é digna de aplausos. (9/10)
 
12) January- Fico muito contente por encontrar Jamie Woon, também ele um antigo Magnífico Material Desconhecido que teve uma estreia discreta, ainda mais por ser protagonista de um dos melhores momentos que encontro em Settle. Associado a um estilo minimal na onda soul e R&B, é uma agradável surpresa constatar que tem um flow incrível e muito groove na alma. E o melhor de tudo é a classe com que interpreta a canção. (10/10)
 
13) Confess to Me- De classe e sofisticação percebe Jessie Ware, um mistério de mulher que tanto encantou a crítica o ano passado com Devotion, o seu álbum de estreia. Constato que cada vez mais entra por territórios disco e neste tema em particular deslumbra com o seu charme e elegância, ainda que envolta de uma batida robótica. É puro ouro reluzente. (9/10)
 
14) Help Me Lose My Mind- Para o derradeiro tema está reservado uma inesperada colaboração com os London Grammar, apontados como uma das grandes revelações do ano. Imaginava Jessie Ware a cantar isto mas Hannah Reid não desaponta: a sua voz operática e cheia surge envolta de uma batida trippy e transporta-me para longe, bem longe. É o desfecho ideal. (9/10)
 
Não era preciso ser mestre em futurologia para prever que estes rapazes teriam um álbum de estreia brilhante. Apesar de envolto em bastante hype, Settle cumpre as expectativas e superou-as em larga escala: sabia que eles eram verdadeiramente bons, mas não tinha a certeza até que ponto é que tinham capacidade para contornar o óbvio e ir mais além. E ei-los a mostrar aos mais velhos (Guetta e Calvin Harris, olhem para estes miúdos sff) como é que se faz um bom disco de música electrónica.
 
Guy e Howard Lawrence trazem a inteligência de volta à house music, sem nunca recorrer a fórmulas testadas e lugares comuns, apostando, em vez disso, num arsenal de ideias ousadas, excitantes e inovadoras, e num leque de colaboradores geniais, escolhidos a dedo. Com apenas 19 e 22 anos, estes rapazes estão a mudar o presente e a construir as regras do futuro: sem vedetismos, tretas e clichés. Settle é um dos melhores álbuns que já ouvi na vida e merece cada distinção e elogio que receber. Guy e Howard, ganharam o meu respeito e adoração para todo o sempre.
 
Classificação: 9,1/10

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