Odisseia Musical: 2006, O Ano Supremo- Parte II

Uma coisa que eu sempre gostei de fazer foi comprar discos. Não por hábito, obrigação ou mero capricho. Simplesmente porque gosto. Nasci e cresci numa época em que o cd era um objecto valioso, símbolo de adoração e estima não só por parte de melómanos mas também de todos aqueles que queriam ter sempre à mão a música dos seus artistas favoritos, sendo que a rodela mágica apresentava-se como a solução mais óbvia.

Comprei o meu primeiro disco em 2003, com 11 anos. O eleito foi This Is Me... Then de J.Lo e não me orgulho da escolha. Mas também não me arrependo, pois por muito mau que fosse (e de facto era) assinalou o início de uma paixão e profundo respeito pela compra de discos, paixão essa que dura até aos dias de hoje.

Nunca fui daqueles que compra a torto e a direito. Salvo raras excepções, na minha discografia encontram-se álbuns de artistas que admiro ou admirei numa determinada época da minha vida. Possuo uma colecção de aproximadamente 50 discos e posso dizer que me lembro perfeitamente das circunstâncias, motivações e da altura em que cada um veio parar às minhas mãos: são pequenos tesouros que guardo com imensa estima.

Hoje em dia compro cada vez menos - em 2013 a minha única aquisição foi The 20/20 Experience - em parte pela imensa oferta e vias de acesso à obtenção de música, mas também porque já não sinto tanto aquela necessidade de posse que antes me invadia: estou rodeado de música desde que acordo até que me deito e tudo aquilo que quero ouvir está à distância de um clique. Há 7 anos atrás não: eram as lojas de música que tinham o poder e as massas aderiam em força.

Tenho uma certa pena de que a nova geração tenha perdido este hábito: a maioria, provavelmente, nunca terá comprado um cd nem nunca ouviu um álbum do início ao fim. Para tal muito contribuiu a revolução tecnológica que alterou a forma de se aceder à música. Mas não podemos apenas culpá-la  a ela: a própria indústria musical não soube contornar o problema e afundou-se na sua própria redoma de desepero.

Se tivesse nascido uns anos mais tarde, talvez as coisas fossem diferentes. Ou não. Não gostasse eu mesmo muito muito de música. Por mais alternativas que existam, ainda hoje sinto que nada se compara ao simples acto de compra e escuta de um disco: o toque, o cheiro, a descoberta, a proximidade, o encanto, a magia irrepetível da primeira vez. Sim, a carteira fica mais leve mas o sorriso, a felicidade e entusiasmo que me invadem são impagáveis.

Os temas que mais me marcaram

10º Shakira feat. Wyclef Jean- "Hips Don't Lie", Oral Fixation Vol. 2

Antes de 2006 Shakira já tinha uns quantos êxitos de dimensão considerável, mas foi graças a "Hips Don't Lie" que obteve o maior estrondo da sua vida, curiosamente no âmbito da reedição de Oral Fixation Vol. 2, álbum com falta de hits radiofónicos. Este tema era absolutamente imbatível e infeccioso e tornou-se no maior êxito desse ano. O segredo? O poder irresistível das ancas de Shakira.



9º Nelly Furtado feat. Timbaland- "Promiscuous", Loose

Em 2006 Nelly Furtado surpreendia meio mundo com a sua revolução artística e não havia quem lhe ficasse indiferente. Timbaland era o principal culpado por tamanha emancipação e desprendimento e não só produziu como ainda deu voz ao dueto mais interessante desse ano: ei-los em pleno jogo de sedução e disputa verbal para determinar qual deles o mais promíscuo. Que grande dupla esta!



8º Justin Timberlake feat. T.I.- "Let Me Talk to You/My Love", FutureSex/LoveSounds

Seguimos para aquele que, a par de Nelly Furtado, estava a quebrar os moldes convencionais da pop e a levá-la mais além. Com "Let Me Talk To You/My Love", Justin desbrava caminho inexplorado com uma junção de R&B, hip hop e synthpop. O que posso dizer? A música é um arraso, a coreografia é estupenda e JT é um dos meus grandes ídolos. O futuro passava por aqui.



Os álbuns que mais me marcaram

4º Sugababes- Overloaded: The Singles Collection

Raras são as bandas que decidem lançar um best of quando acabam de perder um dos elementos fundadores e ganham um novo membro: as Sugababes fizeram-no, simplesmente porque o mais importante nesta banda nunca foram as caras mas sim o contributo colectivo dos 4 alinhamentos ao longo dos anos. Aqui na sua 3ª encarnação, foi a oportunidade ideal para conhecer e recordar o que de melhor a banda tinha feito nos seus primeiros 6 anos de existência. De "Overload" a "Easy", está aqui um dos mais importantes legados da pop britânica.
Este é o álbum de: "Easy" e muitos outros êxitos


 3º Snow Patrol- Eyes Open

Este foi um daqueles álbuns que vim a descobrir uns anos mais tarde quando me apercebi que gostava da banda que despertou para o sucesso comercial com "Chasing Cars", tema incluído neste 4º disco do grupo. Curiosamente nem fui atraído pelo tema em si, foi mais uma daquelas coisas que acontecem porque assim tem de ser. E com Eyes Open apercebi-me que os Snow Patrol são mais do que a banda de "Chasing Cars" e de que uns Coldplay de segunda divisão: é o disco que sempre estiveram destinados a fazer, repleto de hinos de estádio e de uma grande sensibilidade melódica e lírica.
Este é o álbum de:  "You're All I Have", "Chasing Cars", "Hands Open", "Set the Fire to the Third Bar", "Open Your Eyes", "Shut Your Eyes"

Fim da parte II. O ano de 2006 fica cada vez melhor à medida que avançamos pelos temas e discos que marcam as minhas memórias. Fiquem desse lado.

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