REVIEW: Taylor Swift- 1989


A primeira razão para não ter escutado 1989 logo de início nem foi o meu ódio de estimação por Taylor Swift. Na altura estava de tal modo rendido a "Shake It Off", que facilmente lhe teria dado uma oportunidade. Na verdade, foi mesmo a polémica retirada do seu catálogo do Spotify que me atarantou. Ora que parvoíce a minha. Como me fui esquecer que facilmente poderia descarregarcomprar o álbum? Contornado o problema, estou finalmente apto para discorrer acerca dele. And it goes like this:

A abrir, o mítico sonho americano retratado em "Welcome to New York", cidade que acolheu a cantora na gravação deste seu "primeiro disco pop documentado" e onde as luzes brilham fortemente, mas não o suficiente para lhe toldarem a visão. Ei-la a mostrar ao que vai, logo ao primeiro tema: synth pop via anos 80, mas com o brilho e verve dos anos 10. O álbum não poderia começar de outra forma se não com a sensação mágica de que tudo é possível, na cidade onde todos os sonhos se concretizam. Ao virar da esquina encontramos "Blank Space", uma das 7 co-produções da dupla de artífices escandinavos Max Martin/Shellback, que não consigo descrever de outra forma se não recorrendo à velha cábula da "versão moderna, super pop e cintilante de "Complicated" de Avril Lavigne" a que acrescem uma boa dose de versos mordazes acerca da conturbada vida amorosa de Swift - é tão pegajosa e certeira que acaba por colar ao ouvido quer se queira, quer não. "Style" é Taylor Swift de gabardine, perfume estonteante e cinta de liga por baixo, entregue a um romance amaldiçoado que é demasiado apetitoso para virar a cara, ainda que tal dite a sua ruína. Tem charme, encanto (um quê de "Love Me Harder", até) e uma solidez conferida pela guitarra a destilar coolness.



"Out of the Woods" carrega a fundo na nostalgia 80s, com sintetizadores analógicos, percussão agitada e uma batida marcial que preenche versos onde ecoam memórias da sua fugaz (mas intensa, ao que parece) relação com Harry Styles. Em "All You Had to Do Was Stay" voltamos a provar do doce veneno de Martin/Shellback num tema que soa a todos os hits de Katy Perry numa só canção nascida na década de 80. Como raio será isso possível? Não sei, mas é tentadora a valer. "Shake It Off" é um enorme triunfo pop cujo apelo parece não ter fim. Temos novamente Taylor Swift a abordar a percepção negativa que os media e o público têm de si e a fazer com isso uma gigantesca canção pop como poucas houve em 2014: simples, memorável e infalível. Não dá para resistir. A esbaforida "I Wish You Would" é novo flirt emocionante com os anos 80, o tipo de canção que poderia figurar no maior êxito cinematográfico adolescente da década. 

"Bad Blood" é como que "Team" de Lorde levado ao extremo pop num ringue, ou não se tratasse isto da canção que aparentemente revela o estado de guerra entre Taylor e Katy Perry, tudo por causa de - um homem, só podia - John Mayer. ("Now we got problems/ and I don't think we can solve them/ you made a really deep cut/ and baby now we've got bad blood"). Senhoras, um par de estalos a cada uma e resolve-se logo a quezília. Só não se tornará num futuro single se Swift não quiser piorar o conflito. "Wildest Dreams" é uma pequena casca de banana no caminho: parece ir por uma direcção mais interessante do que aquela que acaba por tomar, não muito distante das baladas imberbes (do género de "Love Story") dos seus primórdios. O tom romantizado mata logo o desejo. Em "How You Get the Girl" veste a pele de conselheira dos assuntos do coração, num tema que poderia perfeitamente ter saído do último álbum de Katy Perry - pop curvilínea, divertida e inquestionavelmente 2014. 



O último trio de temas é o mais tépido do alinhamento. "This Love" é a prova de como as raízes country não estão completamente esquecidas, tecendo com a ajuda da guitarra acústica o momento mais terno e desinspirado do alinhamento. Num álbum tão destemido e retro, não valia voltar atrás. Em "I Know Places" versa acerca de como escapar aos paparazzi e aventura-se pela mão de Ryan Tedder numa ruela de R&B manhoso que volta e meia era uma tentativa de emular a pop esquizóide da amiga Lorde, mas fica-se pela intenção. O refrão é puramente pop, e é aí que brilha sem rodeios. A terminar temos uma sessão de purificação espiritual com "Clean" na cabana alada de Imogen Heap, o único factor de interesse numa canção que já ouvimos Miss T.S. fazer vezes sem conta.

Está à vista que Taylor Swift fez um álbum muito apetitoso, recheado de boa pop - da que não revoluciona nem almeja mudar de paradigmas mas que é capaz de marcar gerações, um pouco à semelhança do que Katy Perry fez com Teenage Dream (2010). Para tal, Taylor inspirou-se na música de finais da década de 80 na esperança de contornar as tendências modernas do panorama e de incutir um carácter intemporal nas canções. De facto, o disco é infalível em momentos como "Blank Space", "Shake It Off" ou "Bad Blood", mas é quando nos transporta mesmo a '89 em temas como "Style", "Out of the Woods" ou "I Wish You Would" que se revela em todo o seu esplendor. Não fosse pelo desencanto de 4 temas e estaria aqui um álbum excelente. À falta disso, temos uma obra semi-conceptual que está a vender que nem pãezinhos quentes e a introduzir Taylor Swift no panteão das grandes estrelas pop da década. E sabem que mais? É completamente justificado, com toda a honra e toda a glória. 

Classificação: 7,7/10

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