REVIEW: Tove Lo- Queen of the Clouds


Aproveitando a calmaria discográfica dos primeiros dias de Janeiro, decidi que era agora ou nunca que me pronunciaria acerca de Queen of the Clouds, a estreia de Tove Lo. Isto porque ao longo das audições que fui tendo, apercebi-me que estava aqui um dos álbuns pop mais cativantes de 2014. 

O disco apresenta-se dividido em três secções: "The Sex", "The Love" e "The Pain", não com a intenção de fazer uma obra conceptual, antes com o propósito de contar a história que serviu de catalisador às canções do álbum: da paixão ao amor e à conturbada separação. Só por essa repartição metódica, já ganha pontos.

The Sex
"The passion in the beginning, it's always gonna be the best part of it"

"My Gun" abre as hostilidades: rapaz conhece rapariga, sorri e ela corresponde, iniciando-se aí um jogo do gato e do rato que só termina até que um deles dê a primeira dentada. Não é a típica canção de engate, tendo subjacente um aviso de aparente fragilidade no meio da ânsia carnal e uma toada western bastante certeira. "Like Em Young" é o expoente da escrita despudorada da sueca, uma canção divertida e inofensiva em que assume que prefere jovens bem tenrinhos e de mente aberta como ela - para quem ainda nem três décadas de vida tem, não é assunto que mereça uma canção. "Talking Body", o single que se segue, é a devassidão entre lençóis na linguagem que apenas dois corpos a transbordar de desejo entendem. Contém a tirada: "If you love me right, we fuck for life/ On and on and on". Louca e som rodeios. "Timebomb" aponta para às estrelas: é o género de canção eufórica e gloriosa que Lady Gaga nunca chegou a fazer no pico da sua popularidade e em que os Coldplay são peritos (oiça-se a "Sky Full of Stars"). Tove Lo serve-a na perfeição.


The Love
"And then you freak out 'cause suddenly you love this person..."

"Moments" é o aparente patinho feio que não faz clique à primeira, mas cresce a cada nova audição: versa acerca das pequenas coisas que farão alguém apaixonar-se por ela. E entre nova saraivada de f word, consegue produzir mais um memorável momento pop. "Charming as fuck", no mínimo. Em "The Way that I Am" cede à tentação de flirtar com o dubstep num tom arranhado e exaustivo de badass, mas que não me soa genuíno. E num tema em que se fala de aceitação, fingir é proibido. "Got Love" devolve-a à rota certa e equilibra os pratos da balança: é a fotografia tirada no período áureo do relacionamento, sem nuvens à espreita no horizonte ou dúvidas se o "para sempre" será até ao fim. É tão 2004, mas tão apetitosa. "Not on Drugs" transita do Truth Serum EP e é um dos seus versos que dá título ao álbum: não antecipa o caos que aí vem, ilustra sim um estado elevado de embriaguez romântica tão forte que apenas pode ser comparado a substâncias alucinogénicas. "You're high enough for me" - quanto mais alto, maior a queda?



The Pain
"And then there's no good way to end things 'cause it's ending, y'know?"

"Thousand Miles" é a distância que a separa do ser amado, ocupada por dúvidas e indecisões. Musicalmente parece-me um pastiche menos inspirado de "Moments". Segue-se o caos e respectiva descida às catacumbas em "Habits (Stay High)", quando os sonhos e as promessas caem por terra, o "nós" deixa de existir e o hedonismo passa a ser a única cura para atenuar a dor. Viver nas nuvens não é uma opção, é o caminho possível. Uma das grandes canções de 2014. Em "This Time Around", o desnorte e o lamento pelo facto das coisas não terem dado certo e novamente a sensação de que isto poderia ter sido feito há 10 anos atrás. Aqui joga-se no campeoanato da pop intemporal. A fechar temos "Run on Love" numa remistura house de Lucas Nord, a dissolver as mágoas e a dar azo a uma reconciliação ou ao retomar do ciclo vicioso. "I always go back to you", reconhece Tove Lo. O mundo não giraria sem amor, afinal de contas.



Há duas coisas que jogam a favor de Tove Lo: a brutal honestidade lírica que adorna bons ganchos e melodias pop, como não se vê ninguém a fazer de forma tão engenhosa, e o facto de praticar e honrar a pop à boa maneira escandinava, tal como os ABBA faziam: canções simples e cativantes que, não sendo revolucionárias, são inteligentes o suficiente para não repercutir as tendências norte-americanas. Como raio ninguém suspeitou que mais dia, menos dia, a Suécia nos daria uma nova estrela pop? Vem do gelo mas corre-lhe fogo nas veias e, a avaliar pelo potencial das canções de Queen of the Clouds, ainda vamos ouvir falar dela durante muitos e bons anos.

Classificação: 7,9/10

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