12 Figuras Que Marcam a Pop do Séc. XXI (9º-Madonna)


Consegue um ícone manter-se relevante ao longo de três décadas de existência? Essa é uma questão capaz de atormentar vários veteranos da indústria musical, em particular os da realeza. Que o diga "La Ciccone", autoridade máxima da pop no feminino, que reina imaculada durante os primeiros sete anos do milénio e que nos restantes oito se debate contra o mundo, as rugas, a concorrência e contra si mesma, ameaçando deixar escapar o ceptro por entre mãos.

O arranque dos anos 00 é auspicioso: dance pop futurista com botas e chapéu de cowgirl em Music (2000), ainda a beneficiar do sopro regenerador de William Orbit, esteta primordial na concepção do anterior Ray of Light (1998). O primeiro tombo chega com o mal-amado American Life (2003), disco de electro-folk guerrilha que desafia a concepção do sonho americano num mundo pós-11 de Setembro. A coroa desliza uns centímetros, mas rapidamente volta ao lugar com a muito elogiada reinvenção disco via anos 70 em Confessions On a Dancefloor (2005), naquilo que seria, aliás, o primeiro indício do revivalismo de um género musical que em 2013 regressaria aos topes pela mão dos Daft Punk, Justin Timberlake, Bruno Mars ou Robin Thicke. O álbum que tinha no pegadiço "Hung Up" - construído com base num sample de um tema dos ABBA - o seu grande chamariz, tornar-se-ia também no derradeiro lançamento culturalmente influente de Madonna.

Os anos seguintes trazem consigo uma lenta mas progressiva perda de autoridade resultante da vontade de querer acompanhar as tendências ao invés de ditá-las, como era seu costume. E chega tarde, já esgotada, ao seu próprio campeonato: tanto na ópera dance pop urbana de Hard Candy (2008), orquestrada por Timbaland, Neptunes ou Justin Timberlake, como no caldeirão EDM de MDNA (2012) em que responde ao chamamento de DJs europeus - movimentos a que chega com, pelo menos, dois anos de atraso. O recente Rebel Heart, editado em Março último, consegue ser a sua melhor obra numa década, mas a perda de relevância é já demasiado profunda para que o mundo se interesse novamente pelas suas canções.

A Madonna dos anos 10 vale sobretudo enquanto voz contestatária num mundo dominado por conflitos políticos e sociais: seja quando se insurge contra a prisão das Pussy Riot ou da ex-presidente da Ucrânia Yulia Tymoshenko, quando apoia os direitos dos homossexuais na Rússia - manifestações essas feitas em plenos concertos - ou se coloca atrás da câmara para filmar uma curta-metragem pela liberdade de expressão e pelos direitos humanos. A música, essa, é acessória.

Felizmente que a antiguidade ainda é um posto e a sucessão ao trono pode esperar - Madonna reina não enquanto a deixarem, mas sim enquanto quiser. De maillot insinuante ou pregada na cruz, a Rainha move-se. Ontem, hoje e amanhã.



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