REVIEW: Ariana Grande- My Everything


O Verão entra na recta final não sem antes nos dar a conhecer o 2º álbum de estúdio de Ariana Grande, que chega 357 dias após Yours Truly, a promissora estreia. A pressa será talvez justificada com a vontade de transformá-la na próxima grande estrela da pop. Será que My Everything tem tudo aquilo que é preciso para que tal aconteça? Vamos lá descobrir:

1) Intro- Um singelo prefácio, fugaz nos seus 80 segundos que apenas servem para criar expectativa relativamente ao que aí vem. Apesar de pouco memorável, é um toque de classicismo (já ninguém faz intros) e de elegância da parte de Ariana - como um canapé que antecede o sumptuoso repasto. (7/10)

2) Problem- Uma estupenda canção pop, como poucas haverá este ano. E tudo graças a quatro razões: primeira, o delicioso saxofone, o ponto alto de uma brilhante estrutura melódica que conjuga R&B, hip hop, dance pop e funk com enorme destreza; segunda, uma expedita Ariana Grande magnífica a nível vocal; terceira, um Big Sean com aquele refrão sussurrante que faz virar cabeças e incendiar tudo à sua volta de tão escaldante que é; quarta, os versos arrasadores de Iggy Azalea que lhe conferem atrevimento e um tempero urbano na dose certa. Completamente infalível e indutora de vício interminável. (10/10)

3) One Last Time- Pedaço de dance pop cintilante, com percussão bem demarcada e um refrão ligeiramente similar a "Euphoria" de Loreen. Guetta tem créditos na escrita, mas o seu background EDM não afecta necessariamente a canção que até é bastante simples e algo banal. É apelativa q.b., mas com uma voz destas podia-se fazer muito mais. A culpa é dos produtores. (7/10)

4) Why Try- Uma canção co-produzida por Ryan Tedder e Benny Blanco que serviria na perfeição a uma data de vozes - Nicole Scherzinger, Rihanna, Rita Ora ou Cher Lloyd - mas não propriamente à de Ariana. Continuamos, por isso, no território da banalidade e a braços com uma desvirtuação artística - não será assim que o ceptro da pop lhe virá parar às mãos. Então aquele "na na na na" estraga tudo. (6/10)

5) Break Free- É a incursão mais evidente do registo pela EDM e a mais bem conseguida também. Não o seria certamente nas mãos de qualquer uma, mas a capacidade vocal de Ariana amplifica e potencia a exímia produção conjunta do hitmaker sueco Max Martin (que a obrigou a cometer de propósito a afronta gramatical "now that I've become who I really are" para efeitos de diversão) e do DJ russo/alemão em ascensão Zedd. Infecciosa, divertida e trauteável - um dos melhores temas electropop que já ouvi este ano. (9/10)

6) Best Mistake- É reconfortante ouvi-la finalmente no registo R&B deslumbrante e harmonioso que a pôs no mapa musical há um ano atrás e que parecia estar definitivamente posto de lado, dado ao desfile de canções assumidamente pop que por aqui têm passado. É capaz de ser a sua canção mais madura quer em termos líricos e vocais, primando pela sobriedade e pelo timbre aveludado com que é cantada. O piano e a drum machine revelam-se um acompanhamento instrumental certeiro. (8/10)

7) Be My Baby- Mais uma estonteante incursão pelos meandros de um R&B sumarento e derivado do ínicio dos anos 00, quando este era a sonoridade reinante do mainstream. Faz-me recuar aos dias em que via horas a fio a MTV na esperança de ouvir as músicas e artistas urbanos que não passavam na rádio - Ciara, Brandy, Mary J. Blige, Ashanti... e por aí fora. Considerem-me conquistado. (8/10)

8) Break Your Heart Right Back- E vão três. Outro bestial tema R&B cheio de estalidos, um riff funky e drum machine instigadora à solta, assente em dois samples muito bem incorporados: "Mo Money Mo Problems" de Notorious B.I.G. e "I'm Coming Out" de Diana Ross, ou não girasse ele à volta de um namorado que a trai com outro homem. Esta sim, é talvez a canção que se aproxima mais do que Mariah Carey - a quem mais frequentemente é comparada com a devida distância, claro - poderia ter feito no passado. E que belo vídeo isto daria. (8/10)

9) Love Me Harder- My Everything está recheado de colaborações, umas necessárias e outras dispensáveis, mas nenhuma tão brilhante quanto a canção que a une a The Weeknd, prodígio do R&B alternativo que surpreendentemente nunca tinha ouvido senão agora. O que haverá para não gostar? A batida é cativante e deixa brilhar as vozes - e que vozes! - dos dois, expandido-se depois no imenso refrão, (ainda que algo semelhante a "So Good", presente no último álbum de J.Lo.), polvilhado com cadência robótica. Humm, como é que se diz? A match made in heaven. (9/10)

10) Just a Little Bit of Your Heart- Não sei bem como é que uma canção escrita por Harry Styles vem parar aqui, mas acontece que até é bastante satisfatória. É o momento Nickelodeon do álbum, uma balada bubblegum simples mas eficaz na linha de "Story of My Life" ou "Little Things" que poderia ser um futuro single caso o disco não estivesse tão bem munido de potenciais hits. Volta e meia torna-se repetitiva, mas a entrega vocal de Ariana é poderosíssima e prende-nos até ao fim. Foi um bom negócio, sem dúvida. (7/10)

11) Hands on Me- É impossível não ficar um bocado embasbacado com a súbita mudança de atmosfera, mais provocante e sexualizada, digna de um "I'm a Slave 4 U" em pleno harém no deserto árabe. Uma vez mais, parece que a máquina do tempo me transportou a 2004, esse ano de tão boas colheitas, e que sinto a presença de Mariah Carey no refrão paradisíaco. Destoa do resto do álbum, mas é uma agradável surpresa e mais uma prova da versatilidade de Ariana. (8/10)

12) My Everything- No cair do pano temos um momento Broadway de plena pujança vocal e harmonias requintadas que não destoaria no anterior Yours Truly, e que parece conter a mesma estrutura da primeira canção. Perfeito para encerrar o disco, mas pouco memorável ou não tão apelativo face ao estrondoso alinhamento que o antecedeu. (7/10)

Para o bem e para o mal, My Everything é para ser levado à letra. Está tudo aqui: o R&B deslumbrante ("Be My Baby", "Love Me Harder") como era no princípio, agora e sempre (?), a vertente pop sumarenta explorada com mais afinco ("Problem", "Why Try", "Just a Little Bit of Your Heart") o flirt efervescente com a EDM ("Break Free", "One Last Time") e o balanço hip hop ("Best Mistake", "Break Your Heart Right Back") que nem sempre é seu, mas dos artistas que tem ao seu lado. É um pacote grandioso e deveras apelativo, mas que depois falha no seu todo: mais do que um álbum, é um conjunto de canções isoladas bem alinhavadas mas incoerentes e indicadoras de uma personalidade musical ainda por definir.

Não a podemos censurar. É apenas o 2º álbum em pouco mais de um ano de carreira e fruto de uma ambição bem clara que partirá supostamente da sua editora. Lembram-se? Torná-la na próxima grande estrela pop. Nesse sentido My Everything é infalível - seja em que território musical for, as canções estão destinadas a ser êxitos de grande calibre e capazes de se conectar com um vasto público. Esbatem-se assim as comparações a Mariah Carey que o maravilhoso Yours Truly evidenciou, não fechando completamente a porta às suas raízes R&B mas enveredando por caminhos que o seu ídolo jamais optaria. Olha para modelos passados de modo a reflectir o presente, de forma que não há por aqui nada de revolucionário que aponte o futuro, dite tendências ou perdure findo o seu prazo de validade. Por outras palavras, não será este o álbum de afirmação de Ariana Grande. Quanto muito será o seu A Girl Like Me, promissor mas dificilmente memorável à excepção dos singles. Esperemos então que o terceiro seja um tremendo Good Girl Gone Bad.

Classificação: 7,8/10

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