REVIEW: Ed Sheeran- X


Já vou com uns dois meses de atraso, mas ainda - e sempre - a tempo de dar o meu parecer ao 2º álbum de Ed Sheeran, o cantautor britânico que tão bem se tem comportado nas tabelas ao longo da temporada estival. Trata-se de um artista apadrinhado à nascença pelo blog, daí que é com muito bons olhos que vejo onde o 'ginger ninja' chegou desde então. Vejamos o que nos reserva este novo capítulo:

1) One- Um homem a sós com a sua guitarra e um honesto e bonito testemunho em mãos. É a "Lego House" deste novo disco, mas com registos vocais mais interessantes: prova disso é a forma como sustém a nota final do verso "where it goes wrong", prolongando-a para lá do que seria imaginável. É um tema de abertura infalível capaz de pôr a lacrimejar os corações mais moles. Terno sim, lamechas não - ninguém o faz melhor que ele. (8/10)

2) I'm a Mess- Canção espirituosa na veia de uns One Direction pós "Story of My Life" - isto se lhes tivesse calhado em sorte um sucessor tão bom - acerca de estar feito num ferrapo e querer viver uma paixão assolapada que o retire do estado miserável em que se encontra. É uma canção básica de trazer no bolso, mas a forma apaixonada como Ed se entrega a ela faz toda a diferença: sente-se-lhe o fogo no olhar, a vontade de querer trepar paredes e como fervilha por dentro, pleno de vida. Nada mais posso pedir. (8/10)

3) Sing- Tive alguma dificuldade em adaptar-me a esta nova condição do Ed, totalmente oposta ao registo de estreia e típica de quem se prepara para perseguir o trono supremo de Justin Timberlake, falhando ao tentá-lo. Inicialmente pareceu-me algo forçado e um passo maior do que a perna, mas com o tempo a canção deixou de ser estranha e inóspita para se revelar uma das mais infalíveis canções da temporada e na tal que Ed Sheeran sempre esteve destinado a fazer. É um altar erguido a Justified e a prova de que os seus intentos artísticos não são assim tão tacanhos quanto muitos pensavam. E lançá-la como 1º single foi de uma extrema ousadia e coragem. (9/10)

4) Don't- Sempre lhe conhecemos a faceta de crooner romântico e terno, mas o jovem Ed também consegue ser agreste e implacável para quem com ele se portou muito muito mal. Diz-se por aí que a colega de profissão a quem dedica estes versos inflamados trata-se de Ellie Goulding - quem diria, não é? - com quem supostamente teve um breve affair, terminado quando ela o decidiu trair com outro. Dessa experiência nasce esta canção e um aviso para quem se atrever a repetir o feito: "don't f*** with my love". Ouchh. Antes que isto se transforme numa conversa de quintal - fique claro que eu gosto muito dos dois - resta dizer que é um tema deveras viciante, tanto pela história que conta como pela sua produção ágil e fluída. (9/10)

5) Nina- O primeiro tema que me leva a torcer o nariz, muito por culpa do refrão paupérrimo que não faz uso do incrível balanço - eis o jovem Ed a canalizar a dicção e cadência típicas do hip hop - dos versos que o antecedem. É uma cama demasiado boa para ser desperdiçada num refrão assim tão banal. Além do mais, já o ouvimos a fazer melhor em "You Need Me, I Don't Need You". Portanto, da minha parte é um nim, "Nina". (7/10)

6) Photograph- E as coisas não melhoram. Depois de "Sing" e "Don't" terem estabelecido a fasquia que dificilmente poderá superar, sinto-me algo defraudado com os temas que encontro e que não são mais do que emulações das canções presentes no disco de estreia. "Photograph" é um exemplo gritante dessa estagnação, uma balada que o próprio diz "poder mudar o destino da sua carreira" mas que nunca chega a cumprir o prometido: os versos são bonitos mas a interpretação é demasiado limpinha e não acompanha a progressão do tema. Rapaz, não é por aqui o caminho. (6/10)

7) Bloodstream- Aparentemente acerca da sua experiência com substâncias alucinogénicas, é um dos temas mais memoráveis do alinhamento, não propriamente pelo todo mas pelos "uunnhhhhhhhh" murmurados pelo refrão fora, uma particularidade interessante que me traz à memória "Frozen" de Madonna. Marca pontos também pelo teor lírico, mais obscuro que o costume e pela reviravolta sonora final. Mas nem sempre justifica os seus 5 minutos de duração e a presença do gigante Rick Rubin aos comandos. (7/10)

8) Tenerife Sea- Este tema não merecia sequer ter lugar na versão deluxe, quanto mais no alinhamento standard - uma balada tão chatinha tão chatinha escrita em cima do joelho que talvez nem agrade à própria rapariga a quem é dedicada, uma tal de Beth. É um enorme retrocesso, se pensarmos que nem no álbum de estreia há canções tão mortiças e desinspiradas quanto esta. (5/10)

9) Runaway- Só Pharrell Williams e o seu toque de Midas poderiam voltar a colocar o disco na rota certa com uma canção pop descontraída e divertida no qual o 'ginger ninja' versa acerca de fugir de casa por não aguentar viver no mesmo tecto que o pai ("but I love him from the skin to my bones/ but I don't wanna live in his home"). Nota positiva para a produção competente, com ágeis dedilhadas de guitarra, estalidos de dedos e um groove sedutor com aroma R&B. (8/10)

10) The Man- Novamente a sair da sua zona de conforto, ou simplesmente, a abraçar mais uma faceta artística sua, eis que temos Ed Sheeran a canalizar o seu Marshall Mathers interior e a debitar rimas que não são mais do que feridas interiores que necessitam de ser saradas ("take my apology, I'm sorry for the honesty/ but I had to get this off my chest"). Gosto muito da postura sóbria por ele adoptada, do refrão melodioso e da maturidade dos versos que giram em torno de uma relação falhada, anseios matrimoniais e pressões no âmbito da carreira. (8/10)

11) Thinking Out Loud- É o expoente máximo de romantismo. Ed tem aqui uma grande canção em mãos que tanto pode ser tocada em casamentos, na parte em que os noivos dançam a primeira dança do resto das suas vidas, ou nas cenas finais daqueles filmes românticos que culminam também em - adivinharam - casamentos. A par das juras de amor eterno, o tema vive muito da interpretação apaixonada e reluzente do 'ginger ninja' naquela que é a sua melhor prestação vocal desde a longínqua segunda faixa. E pelo andar da carruagem tudo indica que isto será um futuro single. (8/10)

12) Afire Love- O disco termina em tons soturnos com uma canção dedicada ao seu avô que faleceu vítima de Alzheimer no processo de composição do tema. É uma canção de luto, mas acaba por ser também uma homenagem à sua figura e à história de amor vivida entre ele e a sua mulher. Num álbum em que o amor e o desamor são assuntos recorrentes, faz sentido terminá-lo com a mais profunda e nobre forma de amar- a que perdura depois da morte. (7/10)

Como acontece com a grande maioria dos 'Magníficos Materiais Desconhecidos' postados neste blog, é-me difícil não desenvolver laços de afectividade e até de uma certa parentalidade - por mais estranho que o termo possa parecer - para com com eles. Afinal de contas, vi-os nascer, acompanhei a sua saída do ninho e assisti com imenso orgulho ao processo progressivo e inevitável em que deixam de me pertencer, de ser o meu pequeno segredo, para passarem a ser do mundo. O caso de Ed Sheeran é um dos que mais me marca, pois sempre acreditei muito no talento dele e porque fiquei imensamente feliz por vê-lo chegar tão longe. Mas, curiosamente, acaba por ser também um dos casos mais frustrantes, na medida em que sinto que é demasiado incompreendido, tanto pelos que gostam dele como pelos que o detestam. Para os primeiros, dificilmente passa do "Ed fofinho com canções fofinhas", enquanto para os segundos, será sempre um "mero cantor de pub".

Sinceramente não vos consigo dizer qual a ideia pré-concebida que mais me irrita, mas sei dizer o que mais me entristece no meio disto tudo: o facto de nenhuma das facções compreender o talento deste rapaz. 'X' não é um absoluto triunfo - quanto muito uma clara progressão face ao disco de estreia - mas sim um documento musical capaz de elucidar ambas as partes. Está lá tudo: o mau, o bom e o inimaginável de Ed Sheeran - desde as baladas xaroposas ("Photograph" e "Tenerife Sea") às verdadeiramente notáveis ("One" e "Thinking Out Loud"), passando pelas incursões pelo hip hop ("Nina" e "The Man") e acabando na inesperada metamorfose em território urbano ("Sing", "Don't" e "Runaway"), um festim rítmico e musicalmente estimulante que deve muito à mestria de Pharrell Williams. Se já era um dos mais talentosos músicos da sua geração, então agora o 'ginger ninja' passa a ser também um dos mais interessantes, já que as coordenadas de 'X' apontam para um futuro entusiasmante sem limitações ou inibições, podendo enveredar por qualquer caminho que o seu intelecto artístico dite. Qual, ainda não se sabe bem ao certo, mas a maturidade encarregar-se-á disso. Por agora, uma certeza: daqui para a frente será sempre a subir.

Classificação: 7,5/10

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