2014: Um Balanço Sónico- Parte I

As figuras

10º
FKA twigs

Cada vez mais a indústria musical se resume a traseiros, mamas e estrelas virais com curto prazo de validade, mas felizmente que continua a haver espaço para os génios singulares deixarem a sua marca em avenidas mainstream. FKA twigs foi esse alien de 2014 que chega ao planeta Terra e com um só toque faz sucumbir os terráqueos ao seu estranho encanto. Antes da estreia em disco já tinham existido dois EPs muito curiosos que aguçaram o apetite da blogosfera e críticos, mas seria com a edição de LP1 em Agosto passado que a visão de Tahliah Barnett se concretizaria de forma magistral, aprimorada pelos estetas Dev Hynes, Arca, Paul Epworth, Sampha ou Emile Haynie e com imaculada perfeição em momentos tão sedutores e audaciosos quanto "Two Weeks", "Closer" ou "Video Girl". O Mercury escapou-lhe, mas a estreia do ano é dela. 

As canções internacionais

20º Clean Bandit feat. Sharna Bass- "Extraordinary"

Num sentido inverso ao da maioria da população, não foi com "Rather Be" que fiquei de cabeça à roda com os Clean Bandit mas sim com o seu radioso sucessor, de cuja história não se faz 2014. Mas a minha sim: nem sei explicar muito bem o meu fascínio pela canção, mas durante meses a fio não consegui tirá-la a ela e às magníficas paisagens do vídeo - captado em Cuba - da cabeça. Não pretende ser mais do que é - simples, bem intencionada e genuína. E deixa-me sempre muito feliz.


19º Rae Morris- "Do You Even Know?"

Tenho esperado pacientemente pelo dia D de Rae Morris. "Skin" deu-me a certeza de que mais tarde ou mais cedo ele iria acontecer, mas "Do You Even Know?" falou-me ao coração e representou um passo gigantesco para a jovem revelação britânica. Resume-se tudo a uma palavra apenas: libertação. Artística quando, ao colaborar com Ariel Rechtshaid, prova ser mais do que a rapariga do piano, e pessoal na medida em que a canção e o vídeo retratam o desconforto, a estranheza e a introversão motivadas pela incompreensão alheia e a necessidade de combater essas amarras, percebendo que, no fim de contas, "it doesn't really matter if people know you or not...".



18º Broods- "Mother & Father"

Este é um assunto que me comove, pois sempre fui muito ligado aos meus pais. Não sinto na pele o que Georgia e Caleb Nott cantam, pois ainda não saí do ninho, mas o processo de desvinculação parental começa muito antes disso, de maneira que qualquer jovem adulto se revê na letra. E é curioso pensar que esta temática raramente é abordada no universo musical (assim de repente só me lembro do "Mãe Querida"), talvez por requerer alguma bravura e abertura pessoal ao falar de algo tão nosso - it's where our hearts were made, afinal de contas. E é por isso que é uma canção incrível.


Os álbuns internacionais

10º Beck- Morning Phase

A disputar esta posição estiveram títulos como o homónimo de St. Vincent ou Present Tense dos Wild Beasts, mas acabou por ser o último de Beck a levar a melhor. Foi um dos discos que mais batalhou pela minha atenção ao longo do ano, até ao dia em que peguei nele e escutei-o, maravilhado, de uma ponta à outra. Morning Phase é um disco imersivo, daqueles que se escutam em todas as estações do ano e a que voltamos uma e outra vez, sem reservas. É essa coerência e solidez que aprecio, sobretudo, bem como a poética subjacente às canções, que parecem retratar a viagem de um homem que viu o mundo, morre, permanece no limbo, renasce e inicia de novo o processo. Seguramente estaria no meu top 3 se o tivesse descoberto mais cedo.
Pontos altos: "Wave", "Blue Moon", "Unforgiven" e "Don't Let It Go"

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