2014: Um Balanço Sónico- Parte VI

As figuras

Ariana Grande

Directamente do campeonato distrital para a primeira liga da pop, Ariana Grande afirmou-se de vez na constelação de astros que já não nos dava estrelas de semelhante calibre desde que Katy Perry e Lady Gaga desceram dos céus há 6 anos atrás. Quando todos a davam como legítima sucessora de Mariah Carey, a antiga estrela do Nickelodeon decide interceptar com sucesso a via do R&B com a da pop, hip hop e EDM, tornando-se assim na derradeira arma de assalto às tabelas mundiais. Vejamos: deixou-nos de cara à banda com "Problem", estrondoso hit de Verão em parceria com Iggy Azalea, foi a bonequinha do DJ no interestelar "Break Free", marcou presença na aliança feminina mais imponente do ano ao lado de Jessie J e Nicki Minaj no inescapável "Bang Bang" e termina o ano num colchão de água com The Weeknd ao som de "Love Me Harder" - é graças a todas elas que está há 34 semanas consecutivas no top 10 da Hot 100. Conserva beleza, inteligência, talento e versatilidade todas no mesmo frasco: eis a estrela pop perfeita de 2014.

As canções internacionais

10º Taylor Swift- "Shake It Off"

A surpresa não foi gostar de uma canção de Taylor Swift: já havia flirtado com algumas do seu cancioneiro, mas "Shake It Off" foi a primeira com que decidi ter um relacionamento mais sério. O choque foi mesmo perceber que tinham passado um, dois, três, quatro meses (and counting!) e continuava a gostar tanto dela como no primeiro dia. A melhor parte é que não houve negação, tremores, suores frios ou embaraços à mistura. Aceitei-a logo desde início, sem saber se o devaneio duraria uma semana ou a vida inteira. Ganhou a segunda opção. Quem diria que um dia a rapariga do country seria capaz de nos dar uma canção pop ridiculamente boa?



St. Vincent- "Digital Witness"

Um dos embates mais incríveis que tive este ano foi com a obra suprema que é o último disco homónimo de Annie Clark. "Digital Witness" cativou-me primeiro pela estrutura tão heterodoxa e dissonante e depois pela elaborada proposta visual, um cruzamento sci fi entre o bizarro mundo de Tim Burton e o imaginário de Dr. Seuss. Não sei se é pop alternativa, art rock ou indiequalquercoisa, sei apenas que foi das coisas mais revolucionárias e megalómanas que ouvi em 2014.



 Foster the People- "Coming of Age"

Primeiro começou por ser apenas a versão evolutiva de "Warrant" e a ponte ideal entre o primeiro e o segundo álbum de Foster-mor e sus muchachos, mas viria a tornar-se muito mais do que isso. A "Coming of Age" fui buscar generosas doses de força e coragem para superar tempos desanimadores e sair de uma pele que já não era a minha. Foi esta canção que me permitiu descobrir uma outra e aprender uma série de novas coisas, sobre mim e os que me rodeiam, pelo caminho. 



Os álbuns internacionais

Lana Del Rey- Ultraviolence

A haver uma epifania na minha vida no decorrer deste ano será com a música de Lana Del Rey. Já tinha constatado que havia da minha parte uma aceitação progressiva para com o seu trabalho (forte rejeição a Born to Die, recepção mais calorosa ao Paradise EP) mas faltava a prova dos nove, tirada conclusivamente com Ultraviolence. Histórias de amor, desamor, desejo e corrupção que se contam através de um filtro monocromático, com toque vintage e sopros do deserto. Considero que Dan Auerbach, o senhor 'Tecla Negra' deixa aqui um contributo notável e que Lana cresce absurdamente em termos vocais e interpretativos. Um dos triunfos artísticos do ano.
Pontos altos: "West Coast", "Shades of Cool", "Brooklyn Baby" e "The Other Woman"

Azealia Banks- Broke with Expensive Taste

Depois de tantas voltas e reviravoltas seriam poucos aqueles que esperavam que Broke with Expensive Taste estivesse à altura das promessas acumuladas pelos sucessivos adiamentos. O tortuoso tempo de maturação deitou o hype por terra, mas fez apenas com que o "monstro" crescesse mais forte, voraz e indomável. Ninguém sabe ao certo que impacto teria se tivesse sido lançado no timing planeado, mas estas 16 canções que se desenrolam ao longo de 60 loucos e desafiantes minutos valem pela vida. E apanharam-me com a força de um terramoto. Do rap, house, trap, EDM, 2-step, R&B, surf pop, scratch à música latina, todos são convocados na megalómana estreia em disco de Azealia, que nunca por um segundo se deixa engolir pelo "monstro" que criou. É de génio.
Pontos altos: "212", "Gimme a Chance", "Soda" e "Nude Beach A-Go-Go"

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