2014: Um Balanço Sónico- Parte IV

As figuras

Charli XCX

Em 2014 ninguém esteve em tantas frentes como Charli XCX: primeiro a furar o mainstream ao lado de Iggy Azalea no antémico "Fancy", pouco tempo depois a deixar a sua marca no maior êxito cinematográfico juvenil do ano - The Fault in Our Stars - com "Boom Clap" e mais recentemente a liderar um revivalismo pop punk (oiçam-se "Break the Rules" e "Breaking Up") com a sua última aventura discográfica, Sucker, ainda a aguardar edição deste lado do Atlântico, mas a merecer desde já a distinção de 6º melhor disco do ano pela Rolling Stone e Spin. Não esquecer também que compôs canções para as Neon Jungle, James Blunt, Ryn Weaver e I-G-G-Y, terminando o ano com duas nomeações para os Grammys. Afirmou-se como compositora, colaboradora de alto perfil e artista a solo de apelo transversal, demasiado indomável e espirituosa para ser colocada numa caixa apenas. Tudo o que Charli XCX faz, faz bem e com estilo - a verdadeira badass de 2014. 

As canções internacionais

13º Mark Ronson feat. Bruno Mars- "Uptown Funk"

A melhor canção do último trimestre do ano só peca por ter chegado já perto do cair do pano, caso contrário seria digna de figurar no meu top 5 - um brilhante número funk na onda festiva dos Earth, Wind & Fire, com Ronson a dar um ar de Nile Rodgers e Bruno Mars a fazer a sua melhor personificação de James Brown. Enquanto o primeiro obtém o seu melhor single desde "Valerie", o segundo tem aqui a performance de uma vida. Eis o "Get Lucky" de 2014, simplesmente perfeito.



12º Jessie Ware- "Tough Love"

Ainda que o álbum que lhe está associado não esteja no mesmo patamar de Devotion, "Tough Love" fez muito bem a ponte entre a sofisticação sonora e o embalo sedutor deste e a pop soul de coração nas mãos do novo capítulo, daí que continue a ser para mim o melhor momento do registo - levemente insinuante, estonteante e encantador. Não menos importante é o facto de ter apresentado ao mundo os BenZel, de Two Inch Punch e Benny Blanco. Um amor para a vida.



11º Tove Lo- "Habits (Stay High)"

Primeiro foi a remistura chillwave dos Happie Sabotage a ficar-me cravada na memória. Trippy e celestial mas negligenciadora da desolação que os anfetamínicos tentavam disfarçar. Depois veio a original. Sem filtros, pura e dura. E apaixonei-me novamente por ela. As substâncias dissolvem-se e tudo o que resta é um grito de ajuda de quem não aguenta mais viver nas nuvens. Retrata de forma exímia uma vertente de corrupção moral pouco explorada em canções - daí ser tão interessante do ponto de vista sociológico.


Os álbuns internacionais

Sia- 1000 Forms of Fear

Ninguém fez pop tão boa este ano quanto esta senhora. 1000 Forms of Fear é um triunfo do génio que permanece sempre na sombra e que em 2014 fez as coisas à sua maneira, deixando que a arte falasse por si. O resultado é um disco emocionante, confessional e expedito nas doses certas, obscuro mas com os devidos rasgos de luz e em que Sia é uma força lírica, vocal e interpretativa. O medo, esse, é o catalisador de um álbum visceral que nunca condiciona, apenas a liberta para o infinito e mais além. Grande disco, grande senhora.
Pontos altos: "Chandelier", "Free the Animal", "Big Girls Cry" e "Elastic Heart"

Glass Animals- Zaba

O meu An Awesome Wave de 2014 - estranho, bizarro e completamente fora da caixa. Zaba é uma autêntica viagem às profundezas da selva que nunca nenhum nativo havia ousado explorar, até ao dia em que quatro magricelas de Oxford a atravessam numa fascinante jornada de pop psicadélica, R&B e electrónica evasiva. Um diamante exótico que é, provavelmente, uma das minhas descobertas favoritas do ano. Fazem falta mais discos assim e mentes que decidam romper com o convencional, pensar e fazer diferente.
Pontos altos: "Black Mambo", "Pools", "Hazey" e "Gooey"

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