2014: Um Balanço Sónico- Parte III

As figuras

Iggy Azalea

Quão raro é ver uma rapper caucasiana nativa da Austrália a triunfar num campeonato dominado por homens e logo no maior mercado musical do mundo? Raro só não chega. É inédito. E Iggy Azalea foi a primeira a consegui-lo em 2014 à laia de três canções apenas: primeiro com "Fancy", o estridente e inescapável hit em parceria com Charli XCX, "Problem", num dos mais entusiasmantes featurings do ano, e "Black Widow", teia trap tecida a meias com Rita Ora. I-G-G-Y fez concorrência ao 'Corneto de Morango' neste Verão, chegando mesmo a comandar os dois lugares cimeiros da Hot 100 durante um mês inteiro com "Fancy" e "Problem", os êxitos supremos da temporada estival. Não obstante os feitos, ainda fez uma perninha em "No Mediocre" de T.I. e no infame "Booty" de J.Lo, reeditou o álbum de estreia com mais uns potenciais hits a rebentar em 2015 e coleccionou 4 nomeações para a próxima edição dos Grammys. O look de cover girl, o enorme carisma, as companhias certas e a supremacia conquistada do nicho onde actua tratarão de a manter em voga no decorrer da década.

As canções internacionais

17º Azealia Banks- "Chasing Time"

Tudo parecia irremediavelmente perdido para a autora do bombástico "212", até que em Agosto passado surgiram os primeiros sinais de uma nova tentativa de dar seguimento à campanha promocional do eternamente adiado Broke with Expensive Taste. "Heavy Metal and Reflective" trouxe-me de volta a si, mas seria com "Chasing Time" - portento hip house destemidamente (bem) cantado - que Azealia se viria a redimir aos meus olhos. Dois anos deitados ao lixo recuperados em 3 minutos e 39 segundos. Um último comboio da meia-noite apanhado com e pela vida.



16º Alt- J- "Every Other Freckle"

Das cinzas de "Fitzpleasure" e "Breezeblocks" nasce um dos melhores temas de This Is All Yours, o difícil segundo álbum do trio de Leeds. "Every Other Freckle" é, por isso, o mais próximo que pode haver desse termo agridoce que é "a evolução na continuidade". Vejamos: dialecto estranho? Confere. Misticismo ancestral? Oui oui. Instrumentação étnica? Concerteza. Uma canção que se entranha sem darmos por isso, a receber não um mas dois vídeos que o tornam num dos melhores e mais artísticos complementos visuais do ano. 



15º Bombay Bicycle Club- "Feel"

O 4º longa-duração do grup britânico é como que um diário de bordo da viagem que Jack Steadman fez pelo mundo fora. "Feel" resulta claramente da sua aventura pela Índia, inspirado pelos cheiros, as cores e as gentes locais bem como pela instrumentação tradicional. Muita percussão e sintetizadores, zero guitarras - quem diria que poderia resultar tão bem? Tanto a canção como o vídeo deixam-me sempre de sorriso no rosto e de coração cheio. Just one feeling, just one hope



14º Katy B- "Crying for No Reason"

"Crying for No Reason" é o momento revelação de Kathleen Brien. Para uma das figuras de proa do movimento britânico que levou o dubstep, garage e drum and bass ao circuito mainstream, ter uma canção destas no novo álbum foi como escalar ao cume da montanha e bradar "que se lixem os rótulos, eu sou capaz de muito mais". Para além da intenção subjacente, "Crying for No Reason" é de facto uma estupenda balada breakstep acerca daquele momento em que as mágoas guardadas desabam todas de uma só vez. E é nela que encontramos o mais espectacular tour de force vocal de 2014.


Os discos internacionais

Tinashe- Aquarius

Acho que esperei por um álbum assim durante muito tempo. De Tinashe nada conhecia até há um par de meses atrás, mas sinto que veio colmatar um enorme vazio deixado pela falta de novos e bons artistas R&B pós-MTV capazes de me despertarem considerável interesse. Ela conseguiu-o e com um álbum fantástico que extravasa as fronteiras do género (oiçam-se "Bet", "Pretend" ou "Far Side of the Moon"), recaptura a sensualidade obscura de Aaliyah, recorre a ambiciosos interlúdios na linha de The Velvet Rope e junta produtores consagrados como Stargate, Dev Hynes ou Mike Will Made It aos emergentes Cashmere Cat, Detail ou Jasper Cameron. Um clássico instantâneo que me faz reconciliar com o passado e salivar por material futuro.
Pontos altos: "Bet", "Cold Sweat", "Pretend" e "Bated Breath"

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