Ao Vivo: Deolinda no Casino Lisboa

Num espaço de 3 dias vi os Deolinda duas vezes ao vivo. Primeiro na passada sexta feira, no âmbito da iniciativa "Toca a Todos" da Antena 3, naquilo que foi uma espécie de showcase com direito a 3 canções e agora - mais concretamente segunda à noite - no Casino Lisboa, num espectáculo integrado no ciclo de concertos gratuitos Arena Live 2014 que tem levado grandes nomes da música portuguesa ao mítico espaço lisboeta.

O nome será talvez demasiado pomposo para aquilo que o casino propõe: um pequeno palco circular inserido numa plataforma elevada a uns 10 metros do chão e que por sua vez é composta, nas duas camadas inferiores, por mesas reservadas apenas às carteiras mais abastadas. O público ora fica nos dois balcões superiores, que proporcionam uma melhor visão, ora no espaço circundante à plataforma, que tem a peculiaridade - levemente irritante - de ir girando lentamente num festim de caras, barulho e seguranças de ar sério. E foi lá que fiquei, mesmo juntinho ao golden circle, de pescoço espetado para ver os Deolinda, lá na alturas.

O grupo chega um ou dois minutos depois das 22h30, hora marcada, apresentando-se em formato quinteto, com um baterista a juntar-se à formação original. Iniciam o espectáculo de rajada com duas canções do primeiro e último álbum, e logo ao terceiro tema, "Patinho de Borracha" - com direito a um exemplar manuseado alegremente na cabeça de Ana Bacalhau - já têm o público nas mãos, rendido à graça natural da vocalista e às melodias ladinas dos restantes Deolindos.

Ana Bacalhau revela-se uma performer de mão cheia. Para alguém como eu, que nunca a tinha visto em acção, devo dizer que fiquei impressionado com a sua garra e energia. Entrou assertiva e concentrada, mas assim que sentiu que tinha agarrado a plateia, cresceu a olhos vistos e transformou-se na entertainer mais arrasadora num raio de 20 km (Anselmo quem?), quer quando simulava malabarismos, desafiava o público a bater palmas ao seu compasso (e tantas que foram as sequências) ou se dirigia a este com provocações e olhares destemidos, quando interagia com o drone encarregue de filmar o concerto ou, até mesmo na parte final, quando se lançou a um quase beatbox na introdução à "Musiquinha". O palco era minúsculo, mas ela tornou-o gigante.

Ao longo de uma hora e meia, assistiu-se a um desfile imaculado de canções de cariz popular. As castiças "Fado Toninho", "Fon-Fon-Fon" e a divertida "Movimento Perpétuo Associativo", retiradas do álbum de estreia, foram cantadas quase na totalidade pelo público. "A Problemática Colocação de um Mastro" e a sua toada de marcha popular facilmente nos fizeram gingar e esquecer o tilintar de copos e as slot machines, enquanto "Um Contra o Outro" e "Seja Agora" arrancaram os aplausos mais efusivos da noite. Pelo meio houve a belíssima "Passou por Mim e Sorriu" - ironicamente com um segurança a passar demoradamente à minha frente e a estragar um bonito momento de comoção - e uma histérica interpretação de "Doidos", do último álbum, com a banda a levar a canção à letra. O encore foi feito ao som de "Clandestino", uma favorita aqui do escriba, e da já referida "Musiquinha (e abana, abana, abana!) com direito a um portentoso solo final de guitarras.

Por momentos esqueci-me que estava no Casino e senti que tinha aterrado no Coliseu: a fazer querer pelo alinhamento e pela entrega, creio mesmo que nos deram um concerto dessa magnitude. Até o som estava perfeito, só o espaço em si é que não é o mais apropriado. Para a semana será a vez dos Buraka Som Sistema e não sei se vale ou não a pena ir, pois temo que a experiência acabe por ser redutora - os tigres não foram feitos para estarem enjaulados, certo?

Como se não bastasse a experiência em si, no final tive ainda a oportunidade de conhecer os músicos (ia com acreditação por parte da ETIC), de dizer pessoalmente o quanto gostei do concerto e de lhes colocar algumas questões que serão posteriormente publicadas no Notas à Solta. Melhor não podia pedir: mas que noite fabulosa!

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