Top 10 Magníficos Materiais Desconhecidos 2014

 Sam Smith
                                                                                                    

O sucesso de Sam Smith só apanha desprevenido quem nunca escutou "Latch" e "La La La", dois dos maiores êxitos do ano passado. Voz angelical de alcance igual ou superior às grandes divas da soul, uma musicalidade imensa e traquejo de quem faz isto há largas décadas, ainda que o B.I. não acuse mais do que 22 anos. 

Faltava apenas a estreia em nome próprio para confirmar as suspeitas. Ela chegaria em Maio último sob a forma de In the Lonely Hour, compêndio de mágoa e desolação de um jovem que amou e não foi correspondido. O próprio confessaria em vésperas da edição que narrava a história de como foi rejeitado por um homem, apesar das canções nunca especificarem um género ou terem como chamariz questões de identidade sexual. Afinal de contas é uma história que tantos outros já viveram, no feminino ou masculino.

Esse é o primeiro grande triunfo de Sam Smith: a transparência em prol da arte, sem receio de rótulos ou mentalidades tacanhas. Tal não seria possível há uns anos atrás, mas ele conseguiu que a música triunfasse sobre tudo o resto. A segunda será mesmo que um par de singles apenas - "Money on My Mind", "Stay with Me" ou "I'm Not the Only One" - consigam disfarçar a falta de um disco coeso e bastante aquém das imensas potencialidades que o jovem Sam aparenta ter. É o triunfo da voz majestosa e da história que conta.

O terceiro baseia-se nos números: In the Lonely Hour termina 2014 como sendo o único álbum a ter vendido este ano 1 milhão de cópias tanto nos EUA como no Reino Unido. Não esquecer as 6 nomeações angariadas para a próxima edição dos Grammy Awards, que são o espelho do fabuloso ano de estreia que teve.

O triunfo parece ser mesmo a premissa de tudo aquilo que se seguirá na história de Sam Smith. Uma a que vale a pena estarmos atentos. Venham as próximas páginas.

 Glass Animals
                                                                                                                                              
Os freaks da selva estiveram bem perto da conquista do título, o que não deixa de ser considerado uma vitória para um quarteto que esteve nas margens quer do mainstream quer da liga indie. Em Zaba, o curioso disco de estreia, propuseram-nos uma incursão pelas profundezas da selva nunca antes exploradas por qualquer nativo, num caldeirão de pop psicadélica e alternativa, electrónica evasiva, percussão tribal e instrumentação exótica, que nos trouxe momentos tão místicos e sedutores quanto "Gooey", "Pools" ou "Hazey". De génio e de louco todos temos um pouco, mas os Glass Animals abusaram nas doses. E ainda bem.

FKA twigs
                                                                                                                                              
Cada vez mais a indústria musical se resume a traseiros, mamas e estrelas virais com curto prazo de validade, mas felizmente que continua a haver espaço para os génios singulares deixarem a sua marca em avenidas mainstream. FKA twigs foi esse alien de 2014 que chega ao planeta Terra e com um só toque faz sucumbir os terráqueos ao seu estranho encanto. Antes da estreia em disco já tinham existido dois EPs muito curiosos que aguçaram o apetite da blogosfera e críticos, mas seria com a edição de LP1 em Agosto passado que a visão de Tahliah Barnett se concretizaria de forma magistral, aprimorada pelos estetas Dev Hynes, Arca, Paul Epworth, Sampha ou Emile Haynie e com imaculada perfeição em momentos tão lascivos e audaciosos quanto "Two Weeks", "Closer" ou "Video Girl". O Mercury escapou-lhe, mas a estreia do ano é dela.  

Ella Eyre
                                                                                                                                              
Outra história de sucesso: em 2014 o potencial de Ella Eyre cresceu exponencialmente à enorme e indomável trunfa que actualmente apresenta. De suporte vocal em temas dos Rudimental e Naughty Boy para os promissores esquissos patentes no EP de estreia, entre eles o pegadiço "Deeper", a jovem londrina de apenas 20 anos começou a concentrar esforços na edição do primeiro álbum - apropriadamente intitulado Feline - com o lançamento de "If I Go", pujante tema R&B a meio caminho do breakbeat, e do fulminante "Comeback", a fazer lembrar os hinos vingativos e de fúria reprimida à ala masculina de Kelly Clarkson. Não é difícil adivinhar que 2015 será, por fim, o ano de afirmação desta força da natureza. Fomos avisados.

Tove Lo
                                                                                                                                              
Quebramos a hegemonia britânica para encontrarmos a meio da tabela aquela que facilmente é a maior revelação pop do ano, responsável pelo maior sleeper hit dos últimos 12 meses: "Habits (Stay High)", claro está, que antes de se disseminar pelo globo fora na remistura de Hippie Sabotage teve uma primeira vida em Março de 2013. O novo impulso foi conquistado através da sua inclusão em Truth Serum, o EP que a introduziu ao mundo editado em Março último, morada de canções tão excruciantes e memoráveis quanto esse já referido hino hedonístico mas também de "Not on Drugs" ou "Out of Mind". A lírica emocionalmente conturbada e honesta bem como a aptidão para refrões e melodias aditivas transitaram para o sólido LP de estreia, Queen of the Clouds, com sério potencial para a manter em voga no decorrer do próximo ano. Sem dúvida a melhor exportação sueca dos últimos anos sem o carimbo IKEA.

George Ezra
                                                                                                                                              
Voltamos a terras de sua majestade para darmos de caras com o rapaz que colocou Budapeste no topo da lista das cidades europeias mais cool de 2014 (será?). Mais fiável e importante é a sua inclusão nesta lista, certamente não só pela força dessa canção mas também pelo encanto de temas como "Cassy O'", "Blame It on Me" ou "Listen to the Man", cartões de visita do verdadeiro livro de viagens que é a sua estreia em disco, Wanted on Voyage, equilibrada colecção de soalheiras e não tão luminosas pérolas blues e folk que puseram meio mundo a questionar-se como pode um jovem de 21 anos cantar como se tivesse mais 21 em cima. Uma alma velha que só poderá ter a ganhar com a passagem do tempo.

Broods
                                                                                                                                              
Os Broods foram o primeiro grupo a conseguir transpôr a soleira do portão que Lorde escancarou o ano passado com "Royals", de uma longínqua Nova Zelândia que até então era praticamente invisível no mapa musical. Sob a batuta de Joel Little - o homem por detrás de Pure Heroine - a dupla de irmãos teve um arranque muito promissor com o EP de estreia, que continha as assombrosas "Bridges" e "Never Gonna Change", mas deitou por terra as esperanças de internacionalização imediatas com Evergreen, uma estreia ainda a meio gás daquilo que o duo prometia no excelente EP, mas com um punhado de singles suficientemente bons para não perdermos a fé neles: o umbilical "Mother & Father" e o críptico/eufórico "L.A.F." 

Clean Bandit
                                                                                                                                              
Os primeiros raios de 2014 incidiram nos Clean Bandit, desde logo bafejados pelo gigantesco (e duradouro) sucesso de "Rather Be", que reunia na voz a também estreante Jess Glynne. O sucesso da "orquestra" de músicos com formação clássica que explora amiúde sonoridades electrónicas, não foi sorte de principiante: o single de estreia remonta a 2012, o que significa que esperaram 2 anos pelo primeiro hit e mais uma porção de meses para verem o seu primeiro longa-duração, New Eyes, nas lojas, que ainda nos ofereceu UK funky em "Extraordinary", dancehall em "Come Over" e mais uma fabulosa parelha com Jess Glynne em "Real Love". De 'bandidos limpos' não reza a história, mas a destes terá um final feliz.

Royal Blood
                                                                                                                                              
Sem surpresa, também Mike Kerr e Ben Thatcher surgem nesta lista definitiva, muito por culpa dos louváveis e poderosos esforços para devolver o rock às boas graças do público, cada vez mais afastado do género. A dupla mais barulhenta desde os White Stripes, título conquistado pelo ruído supremo conseguido apenas pela potência do baixo e bateria, já tinha deixado em Março último a comunidade em polvorosa com o EP de estreia, Out of the Black, mas seria com o disco de estreia homónimo que seriam catapultados para os lugares cimeiros das tabelas (nº1 na Irlanda e Inglaterra), chegando a estar na lista de candidatos a vencer o Mercury Prize. Dois cavalheiros que ainda farão prodigiosos estragos pelo caminho. 

10º Tinashe
                                                                                                                                             
A lista de talentos encerra com a melhor descoberta nos domínios do R&B, onde as linguagens mainstream e menos convencionais se fundem. Depois de 3 mixtapes algo obscuras e completamente à frente do seu tempo, Tinashe estreou-se este ano em formato longa-duração, com uma maior aproximação à estética visual e sónica de uma estrela pós-MTV, ao mesmo tempo que reteve o carácter experimental e aventureiro das mixtapes: "2 On", "All Hands on Deck" ou "Feels Like Vegas" abonam a favor do espírito comercial, enquanto "Pretend", "Bet" ou "Cold Sweat" representam o seu lado mais expedito em Aquarius. Desponta assim entre dois universos e tudo indica que seja a legítima sucessora do trono de Aaliyah. 

Comentários

Mensagens populares