Génese e figuras da corrente PBR&B

Escrevi este artigo a propósito da cadeira de 'Análise de Géneros Musicais' e achei que seria interessante partilhá-lo aqui. Ei-lo:

Há quem lhe chame PBR&B, R-Neg-B (negação da sigla), Hipster R&B ou Indie R&B, mas o mais sensato será talvez apelidá-lo de R&B alternativo à falta de uma etiqueta consensual tanto para os críticos, artistas e público.

O termo foi utilizado pela primeira vez em Março de 2011 por um jornalista norte-americano num post seu publicado no Twitter, quando de forma aparentemente inocente utilizou a expressão “PBR&B” (junção da sigla da marca de cervejas americana Pabst Blue Ribbon, associada à cultura hipster, com a sigla de rhythm & blues) para designar uma corrente de novos músicos à margem do R&B tradicional, liderada por nomes como Frank Ocean, The Weeknd e How to Dress Well.



A expressão rapidamente circulou pela world wide web fora, não tendo tardado muito até que ganhasse a sua própria página na wikipédia e passasse a ser utilizada pelos media, especialistas e afins como designação para essa nova corrente. Mas o que é que a diferencia não só do género-mãe como dos restantes estilos musicais?

Como referido no parágrafo inicial, acaba por ser uma corrente alternativa ao próprio R&B que se caracteriza por uma abordagem sonora mais complexa e temáticas líricas mais profundas, fugindo um pouco aos estereótipos que definem o R&B contemporâneo. Sonicamente é uma mescla de rhythm & blues com hip hop, soul, rock e música electrónica, enquanto que a nível lírico os seus autores não se focam estritamente na carga sexual que o género maior faz questão de enaltecer, abordando com igual precisão e detalhe as suas ideologias políticas, religiosas e pessoais.



Ao contrário das estrelas R&B modernas, os músicos de PBR&B valorizam a sua arte e a verdade por ela veículada acima de tudo, sem querer agradar às massas ou a um público em particular. Mas o certo é que este sub-género chega mais facilmente à camada de população branca, que nem sempre se revê no R&B puro e duro profundamente enraízado na cultura afro-americana.

Às já mencionadas figuras impulsionadoras da corrente juntam-se nomes como Miguel (autor de Kaleidoscope Dream), Holy Other, Janelle Monáe, Autre Ne Veut, Theophilus London, Kelela, Rhye ou as estreantes FKA twigs, Banks, Tinashe e Jhené Aiko, com obras editadas no decorrer deste ano, e que prometem prolongar a existência de um movimento que alguns já davam como moribundo.



Mas nem só de figuras das margens se faz o PBR&B. Também Drake e Usher, dois pesos pesados do mainstream, já criaram discos que se aproximam desse espectro sonoro: o rapper canadiano com Take Care (2011) e o segundo com Looking 4 Myself (2012). O exemplo mais flagrante será porventura o último disco homónimo de Beyoncé, o primeiro álbum visual da história da música, que levou a cantora de "Single Ladies" a colaborar com produtores de menor visibilidade, a abordar sem rodeios tópicos como a depressão pós-parto, a desigualdade de géneros ou o culto excessivo da vaidade, e a explorar uma paleta de estilos musicais mais diversificada que as cores primárias do R&B.



Não é necessariamente um movimento musical que se encerra na cultura hipster. Veja-se: Channel Orange e Kaleidoscope Dream, ambos discos de 2012 de Frank Ocean e Miguel, estrearam-se no top 3 da tabela de álbuns dos EUA. Isto significa que há uma generosa fatia de público que se interessa pelo trabalho destes artistas, sem prevalência da cor, género ou estatuto social. Percebe-se então o porquê da rejeição da maioria dos rótulos que lhe aplicam: são ofensivos, delimitadores e tacanhos. Trata-se por isso de um capítulo em franca evolução, com desenvolvimentos promissores no decorrer dos próximos anos.



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