Entrevista: Golden Slumbers

A folk nacional está mais rica e airosa desde que Catarina e Margarida Falcão decidiram oficializar há um  ano atrás um projecto que começou entre quatro paredes, com palavras e melodias alheias. Desde então já fizeram parte da colectânea Novos Talentos FNAC, editaram o EP de estreia, percorreram o país em concertos e caíram no goto do público português. 

Em entrevista ao Into the Music, as Golden Slumbers falam dos seus primórdios, fazem uma retrospectiva do ano que agora chega ao fim e não se escudam a falar do futuro próximo e longínquo. Eis as manas folk em discurso directo: 

Comemoraram recentemente um ano de existência. Que balanço fazem destes últimos 12 meses? 

Catarina- Têm sido uns 12 meses incríveis. Não estávamos à espera de tanto feedback positivo e de a nossa música ser tão bem recebida. Estamos as duas muito contentes com tudo o que tem acontecido. 

Qual foi, até agora, o melhor e o pior momento do vosso percurso? 

Margarida- (pensativa) Humm... Acho que o pior ou piores momentos, se é que lhe podemos chamar isso, foram antes do lançamento do nosso EP (I Found the Key), porque não tínhamos noção do quão este processo demora e atrasou-se tudo mais do que queríamos, o que fez de nós duas almas mais ansiosas que o costume (risos). Mas correu tudo bem no final! Quanto ao melhor momento, talvez o nosso primeiro concerto em Lisboa.  Foi a nossa primeira experiência mais a sério enquanto banda e no final do concerto estávamos todos relaxados e felizes com aquilo que tínhamos feito! 

O vosso nome deriva de uma canção dos Beatles, que presumo serem uma das vossas grandes influências. Que outros artistas vos inspiram? 

Catarina e Margarida- Laura Marling, Fleet Foxes, Kings of Convenience, Bob Dylan, entre outros... 

Uma vez que estamos a entrar na época das habituais retrospectivas de final de ano, gostava que partilhassem com os leitores do Into the Music um disco e uma canção de 2014 que mais vos tenha marcado. 

Catarina- (pensativa) Tenho ouvido em repeat a "Two Weeks" da FKA Twigs, portanto pode ser essa... Quanto ao disco, não sou nada boa a responder a estas perguntas, mas gosto muito do último disco do Éme, Último Siso. 

Margarida- Para mim, a canção que me marcou mais talvez tenha sido a "A&E" dos Clean Bandit e quanto ao álbum, é um bocado difícil escolher, mas pode ser o Built on Glass do Chet Faker. 

Como é que funciona o processo criativo das Golden Slumbers? 

Catarina- É trabalho de equipa! Compomos e escrevemos juntas com excepção de alguns temas, mas a grande maioria é das duas. 

O facto de serem irmãs facilita ou dificulta esse processo? 

Margarida- Acho que facilita... Temos gostos parecidos, à vontade para partilhar opiniões e acima de tudo somos amigas, o que torna esta experiência ainda mais positiva do que se tivéssemos a partilhá-la com outra pessoa. 

As canções que editaram até ao momento são em inglês. Planeiam um dia experimentar algo na língua mãe ou sentem que a língua inglesa é o veículo perfeito para transmitir a vossa mensagem? 

Catarina- Por agora, acho que a língua inglesa é o nosso veículo perfeito. Mas quem sabe, com o tempo... 

Margarida- Não está de todo fora de questão! Gosto muito de ouvir cantar em português, acho que é uma língua muito bonita mas por agora ainda não resultaria, até porque teríamos de nos adaptar a escrever letras em português, o que é muito mais intimidante, pelo menos para mim, e uma responsabilidade muito maior. Tudo a seu tempo! 

A música folk ainda é um nicho pouco explorado em Portugal e penso mesmo que são a única dupla feminina de folk no nosso país. Como é que encaram o facto de serem pioneiras? Acham que poderão encorajar outras raparigas como vocês a tentar a sua sorte? 

Catarina- Gostávamos muito que assim fosse! A música em Portugal está a crescer cada vez mais e ainda tem muito para dar. Se pudermos ser uma influência positiva para futuros projectos de folk, ainda melhor! 

Recentemente uniram forças aos Brass Wires Orchestra (BWO) para uma versão conjunta de "Time". Como é que surgiu essa parceria? 

Margarida- Alguns membros dos BWO vieram ver-nos à FNAC do Chiado quando lá estivemos a tocar, e aparentemente gostaram do que ouviram e vieram-nos convidar para fazer a primeira parte do concerto de lançamento do novo álbum deles, Cornerstone, e nós, claro, dissemos que sim! Demo-nos muito bem com eles, continuámos a manter contacto e, à dois meses o Miguel da Bernarda (vocalista) perguntou-nos se estaríamos interessadas em fazer uma versão acústica da "Time" e assim foi! 

No futuro planeiam colaborar com outros artistas? Quais seriam assim as vossas colaborações de sonho? 

Catarina- Assim de repente não me lembro de ninguém... mas claro que gostaria! 

Margarida- Eu por acaso tenho alguns! No que toca a projectos nacionais, You Can't Win, Charlie Brown e Capicua são os que me vêm à cabeça assim à primeira. Ah e B Fachada também, sou uma grande fã! Projectos internacionais já tenho uma lista maior de impossíveis que se calhar é melhor ficar em anónimo (risos). 

O vosso EP de estreia tem sido muito bem recebido pelo público. As vossas canções estão constantemente entre as mais cotadas do Tradiio (bolsa de valores da música portuguesa) e "My Love Is Drunk" já liderou por várias ocasiões o Índice A3-30 da Antena 3. Estavam à espera deste sucesso tão imediato? 

Catarina- Não estávamos, de todo, à espera disto, o que torna tudo ainda mais incrível. Estamos muito muito contentes com tudo o que se tem passado! 

Têm alguma canção favorita ou que mais se orgulhem de ter criado no EP?
Catarina- Tenho sim: a "Fading Away". 

Margarida- Para mim também é a "Fading". 

Já estão a pensar no álbum de estreia? O EP é um bom indicativo daquilo que podemos esperar das Golden Slumbers no futuro? 

Catarina- Já estamos a começar os preparativos para um álbum de estreia! E sim, é um bom indicativo, mas obviamente que queremos fazer mais e melhor! 

Margarida- Sim, acho que vão perceber que são as mesmas meninas do EP, mas mais maduras e seguras musicalmente. 

Para terminar, proponho-vos um pequeno exercício de futurologia: musicalmente falando, onde se imaginam daqui a 10 anos? 

Catarina- (divertida) Ahh, não sei! Mas espero continuar com o nosso projecto e, quem sabe, outros. 

Margarida- Humm... Espero que ainda esteja com Golden Slumbers (risos). Mas eu tento não pensar demasiado no futuro mais distante para não me assustar (nova gargalhada). Não sei... Espero que daqui a 10 anos esteja a explorar a música de uma forma muito positiva e espero conseguir viver dela. 

Muito obrigado às Golden Slumbers por me terem deixado colocar-lhes estas questões e por terem sido as primeiras entrevistadas do Into the Music e do meu percurso jornalístico - um marco que tão cedo não esquecerei. Longa vida às manas folk! :)

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