REVIEW: Katy Perry- Prism

 
É um dos grandes lançamentos do último trimestre de 2013 e também um dos mais aguardados. Prism tem a dura tarefa de suceder a Teenage Dream (2010) e pode cimentar Katy Perry como sendo a maior estrela pop da actualidade. Encontro-me no meu território predilecto e por isso estou preparado para a tarefa que tenho em mãos. Prometo não ser meigo:
 
1) Roar- Não é o grito do Ipiranga que esperava ouvir vindo de Katy Perry, mas é um rugido de emancipação que não poderia ter vindo em melhor altura, se tivermos em conta que nasce de um processo de divórcio recente. É pop eficaz e basilar da linhagem de Dr. Luke e desempenha muito bem o papel de 1º single. Quem nunca teve vontade de bradar o refrão a plenos pulmões? (8/10)
 
2) Legendary Lovers- Influenciado pelas sonoridades do Médio Oriente, nomeadamente pela música bhangra, é o tema exótico que faltava no currículo de Miss Perry, talvez inspirada por "Come and Get It", que está a milhas da competência desta abordagem oriental. Aliás, é um dos momentos mais interessantes de Prism. Imaginem só um vídeo para isto. Seria... lendário, pois claro. (8/10)
 
3) Birthday- Está para Prism como "Last Friday Night (T.G.I.F.)" esteve para Teenage Dream: um dos momentos mais deliciosos e irresistíveis do álbum, com imenso potencial para se tornar single e que comprova a minha teoria de que ninguém faz pop tiro-e-queda tão boa quanto Katy Perry. (8/10)
 
4) Walking on Air- Dr. Luke fica a ganhar fôlego junto às boxes, que bem precisa, e desta vez é Klas Âhlund (juntamente com Max Martin) que mantém Prism na direcção certeira. Desta feita evocam o melhor da euforia house e eurodance dos anos 90 e dão vida a um tema de bradar aos céus, que contorna de forma inteligente as manhas e lugares comuns da EDM e ao qual não falta um coro de gospel. A originalidade compensa. (9/10)
 
5) Unconditionally- É a grande balada de Prism, recém-promovida a 2º single, com a voz de Katy em plena forma e com uma temática lírica assente no amor incondicional. É um "Firework 2.0" que certamente irá cair no goto de muitas almas. No entanto, não posso deixar de notar as semelhanças com "Just the Way You Are", que aqui poderia ser cantada por cima. Ora façam a experiência. (8/10)
 
6) Dark Horse- É, sem dúvida alguma, o meu tema favorito do disco - e o mais inspirado do alinhamento. "Are you ready for, ready for/ A perfect storm, perfect storm?", pergunta ela. Óbvio que não estava e ainda hoje estou espantado pela audácia desta incursão por territórios do trap e grime. Adoro o flow, a cadência e sensualidade perigosa dos versos, bem como os inúmeros "HEY!" que pautam a canção. Quem diria, hein? (9/10)
 
7) This Is How We Do- De novo com Klas Âhlund e Max Martin no comando, Katy Perry transforma-se na tipa mais cool lá do bairro, mete os seus Ray-Ban coloridos, calça os seus All Star e esbanja atitude e coolness a rodos nesta solarenga piscadela de olhos aos anos 80 repleta de deixas formidáveis (Mariah Carey-oke é a minha favorita). É um hit do próximo Verão à espera de acontecer. (8/10)
 
8) International Smile- É incrível: hit atrás de hit seguido de ainda mais uns quantos hits. Tem sido assim desde "Roar" e este "International Smile" (ode à beleza feminina?) não é excepção. É o primeiro tema nitidamente pop/rock, com a presença de guitarra ao longo da canção a conferir-lhe pujança e com uma secção rítmica contaminada por vocoders ao estilo Daft Punk. Na mouche, uma vez mais. (8/10)
 
9) Ghost- Naquele que é o último tema que marca a parceria dos três grandes - Dr. Luke, Max Martin e Cirkut - assiste-se a uma mudança de atmosfera, tanto melódica como lírica. Não tem génese de hit e aborda fantasmas do passado (Russel Brand, quem mais?), assemelhando-se a uma espécie de balada dançável. Daqui em diante o rumo de Prism mudará. (7/10)
 
10) Love Me- Bloodshy - produtor que muito prezo - entra a bordo e assina um tema completamente... banalíssimo. Talvez porque esteja mais virado para as electrónicas e Katy Perry não seja a mais experimental das estrelas pop, o certo é que aqui não há química musical. E desta vez a inclusão do vocoder não resulta. Eis o primeiro deslize. (6/10)
 
11) This Moment- Não consigo pensar em coisa mais cliché que isto: "All we have is this moment/ tomorrow's unspoken/ yesterday is history" e por aí fora, todo um ror de lugares-comuns que já estão mais do que batidos e que o mundo não precisa de ouvir uma vez mais. Isto nem sequer é digno do que Stargate e Benny Blanco já fizeram no passado. Simplesmente frouxo. (5/10)
 
12) Double Rainbow- Alguém pediu um "Wide Awake" - a sequela? Eu não, de certeza. Mas Katy Perry e os seus superiores lá acharam que fazia sentido incluir esta balada soporífera que emana duplamente as cores do arco íris. Não tenho paciência para esta Katy versão Disney. Nem a escrita de Sia salva o tema da boçalidade. Duplo bocejo... (5/10)
 
13) By the Grace of God- Tem tudo para ser o momento mais honesto e intimista do álbum, mas custa-me a acreditar no discurso de Katy Perry, que a dada altura afirma "I looked in the mirror/and decided to stay"... Não exageremos, ok? Pior ainda, custa-me a crer que um fantástico álbum tenha sido arruínado pelos seus últimos 4 temas. (5/10)
 
Sejamos sinceros, Katy Perry nunca foi a mais revolucionária das estrelas pop. Bem pelo contrário, é a sua personalidade cativante e uma aptidão certeira para refrões orelhudos e rebuçados pop que a tornam bem-sucedida. Prism é perfeito nesse sentido, pelo menos durante os primeiros 9 temas. Acontece que a coisa descarrila  nos últimos 4, autênticas baladas xaroposas que arruínam qualquer hipótese de estarmos perante um álbum fantástico. Assim sendo, fica bastante algo aquém de Teenage Dream, bem mais entusiasmante e melodicamente mais rico e interessante.
 
O problema não é a falta de potenciais singles, até porque esses há de sobra ("Birthday", "This Is How We Do" e "Legendary Lovers" são óbvios hits) pelo que o sucesso de Katy está assegurado. A questão é que não assinala a tão desejada evolução face ao passado. Katy Perry está de tal forma confinada a uma pop tiro-e-queda, que não tem margem para arriscar e liberdade para errar: tenho sérias dúvidas de que esteja realizada e feliz com o rumo que a sua carreira tomou. Tivesse sido Prism o tal álbum obscuro prometido (oiça-se "Dark Horse", o grande momento do disco) e as coisas poderiam ter sido bem diferentes. Vivamos na ilusão do arco-íris...
 
 Classificação: 7,2/10
 
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