REVIEW: Miley Cyrus- Bangerz


Não gosto de Miley Cyrus. Nunca gostei, aliás. Muito menos agora que está empenhada em mostrar ao mundo que Hannah Montana não passa de uma memória distante e que nasceu para ser uma bad bad girl. O que me leva então a ouvir Bangerz? Um misto de curiosidade e vontade de pôr os pontos nos iis em relação a esta menina. Em nome do bem da pop, estou disposto a "prostituir" os meus ouvidos. O que se segue é, portanto, nada mais do que um estudo de caso:

1) Adore You- Balada terna e simples. Não é o início espalhafatoso que previa, mas ainda bem que assim não é. Digamos que "Adore You" é dos temas mais honestos e audíveis que aqui moram, um raro momento de clareza artística, se é que assim se pode chamar. Quase que me enganava bem, mas eu sei aquilo com que posso contar... (7/10)

2) We Can't Stop- Vou ser bastante sincero: tal como confesso não gostar de Miley Cyrus, também posso afirmar que já dei por mim a cantar umas quantas vezes este tema. E não foram poucas. O que não faz dele um bom tema, necessariamente. É liricamente oco e detestável mas tem algum interesse a nível melódico. Em suma: se o visse na rua não o evitava, mas também não dava azo a grandes conversas. Não me revejo neste tipo de discursos. (7/10)

3) SMS (Bangerz)- E, pronto, a coisa lá descamba. Há tantas coisas erradas aqui: primeiro não percebo de onde vem o SMS e, depois, o que raio está Britney Spears a fazer aqui?? Eu nem sei em que categoria devo inserir isto: rap desavorgonhado? pop manhosa? Seja lá o que for, é de muito mau gosto, mesmo. Malditas sejas, Miley, por arrastares a Britney para esta miséria. (3/10)

4) 4x4- Eu nem preciso de me esforçar para detestá-la, porque Miley põe-se a jeito. "I'm a female rebel, can't you tell?", diz ela. Pois claro, há muito que já te tinha topado a pinta. Mas depois vai mais a fundo no discurso: "driving so fast 'bout to piss on myself", com uma batida de fundo hip hop e country que não convence ninguém. É para rir concerteza. Pharrell, meu caro, como pudeste descer tão baixo? (3/10)

5) My Darlin'- Os dois versos iniciais, poderosamente interpretados, e a participação de Future, rapper capaz de coisas bem interessantes, indicavam que seria uma boa canção, ou pelo menos aceitável. Mas ao invés disso, nunca chega a cumprir o prometido. Arrasta-se à deriva e evoca (não sei se propositadamente ou não) o tema "Stand by Me". Um autêntico desperdício, mas um nadinha mais audível do que os dois desastres anteriores. (5/10)

6) Wrecking Ball- Esqueçamos o hype, a nudez gratuita, a marreta e a bola de demolição. Todas as razões que toldam o mais importante: a canção. E essa, é sem dúvida, o momento mais arrebator do álbum (o único, aliás), com uma letra genuína e uma interpretação repleta de sentimento. É isto que acontece quando Miley Cyrus se deixa de tretas. (8/10)

7) Love Money Party- Parece resumir a temática do disco. O que dizer? É mais um tema desprovido de qualquer interesse que se assemelha a um cruzamento entre "Beautiful, Dirty, Rich" de Lady Gaga e um qualquer tema de Ciara. Mas com muito pior pinta. Próximo! (4/10)

8) #GETITRIGHT- A sua estúpida estilização parece antever asneira da grossa. Mas não. Até porque dessa já houve mais do que suficiente. Por acaso é dos momentos mais inspirados do disco, com assobios, uma guitarra muito cool e um forte apelo pop que é costume encontrar em temas de Jessie J.  Pharrel Williams redime-se aqui da valente trampa que assinou no 4º tema. (7/10)

9) Drive- É talvez o único tema que consegue a proeza de combinar de forma interessante tanto a letra como a melodia, bem mais densa e complexa do que a maioria que por aqui se encontra. Faz-me lembrar algo que poderia pertencer ao repertório de Rihanna, uma bad girl bem mais convincente que Miley. Acho que posso dizer que me agrada. (7/10)

10) FU- Primeiro achei que fosse horrível. Depois pareceu-me simplesmente parva. Agora considero-a das mais memoráveis, com pormenores ligeiramente interessantes, como as breves descargas dubstep que embrulham tão excelsas palavras. E depois é também algo inesperada: para uma canção com tão pouca classe (nada bate o "piss on myself", ok?) até que se esforça para ser mais do que aparenta. E de certa forma consegue. (7/10)

11) Do My Thang- Ver Miley Cyrus e will.i.am no mesmo tema provoca-me calafrios. Mas e não é que a coisa corre bem?! Os sintetizadores inundam efusivamente os primeiros segundos e representam um falso alarme, pois de seguida Miley faz a sua melhor personificação de gangsta e põe-se a rappar como se fosse uma tipa dura de roer. É talvez o único "banger" à séria. (7/10)

12) Maybe You're Right- " 'Cause you're amazing, just the way you are". O quê? Ahhh, essa é outra. E ia eu jurar que estava diante de um "Just the Way You Are 2.0". Joga pelo lado das baladas, nada tem de original mas salva-se pela forte prestação vocal e por versos acertados: "You might think I'm crazy/ that I'm lost and foolish". Nem mais, minha cara. (6/10)

13) Someone Else- Depois de tanto ter apregoado aos sete ventos a sua mudança de personalidade, Miley parece ter deixado para o fim as canções que reflectem sobre esse seu novo eu. Aqui afirma incessantemente "I've turned into someone else", sob uma batida dance pop que parece ter saído do seu álbum anterior. (6/10)

Finalmente, acabou. Não foi assim tão horrível como previa (pouco faltou), mas está longe de ser um bom álbum e ainda mais distante de fazer milagres ao estado actual da música pop. Aliás, Bangerz representa tudo aquilo que vai mal no panorama musical: a corrupção moral, a hipersexualização da imagem que vem apenas disfarçar o vazio de ideias, arrogância, vedetismo e muitas outras maleitas da alma. E é tremendamente irónico: é editado quase ao mesmo tempo que Pure Heroine, a magnífica estreia de Lorde, que tenta precisamente combater tudo aquilo que Bangerz sustenta. É a autêntica luta do bem contra o mal.

O álbum peca por uma enorme falta de coesão (vejam como as minhas classificações variam de 3 a 8) e dispara por vários territórios sonoros: pop, hip hop, rap, country, dubstep, synthpop e mais algumas que me escapem, como quem não olha a meios para atingir os fins. Por outro lado cumpre bem o seu propósito: enterrar Hannah Montana e mostrar ao mundo "a nova Miley Cyrus", numa espécie de estratégia-choque já utilizada no passado por Britney Spears ou Christina Aguilera. A diferença é que elas vieram a tornar-se nomes maiores da pop, enquanto Miley está longe, muito longe de o vir a ser. O tempo assim encarregar-se-á de o mostar.

Classificação: 5,9/10

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Comentários

  1. Ahahaha tinhas as expectativas tão baixas que até gostaste mais do que estavas à espera. Para mim ela nunca foi nada de jeito, mas ao menos parecia uma rapariga às direitas e claro que pode cometer erros, mas não é a apregoá-los da maneira que anda a fazer que mostra que são erros! Ela está é maluquita,e então descarrega na música desta maneira. Olhá lá ó moça a música merece mais respeito sim? Bem como as pessoas!! Olhá agora!!!! Dá-me um pouco de raiva a menina...

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