Considerações acerca do Factor X- II

Três galas decorridas já me dão matéria suficiente para voltar a falar do talent show da SIC que este ano tem sido trucidado pela concorrência privada e estatal. Auch! É verdade que as audiências dão-no pela hora da morte, mas eu nunca vi o Factor X tão vivo como por estas semanas.

O programa cresceu imenso nas componentes cénica e de montagem. A produção aprendeu com os erros do passado e nesta edição não só enche o palco de adereços e bailarinos como ainda se digna a fazer - e bem - VTs aos artistas convidados, sendo que os concorrentes também têm direito a umas mais elaboradas. É pena que tenham perdido metade do auditório do ano passado, porque este esforço deveria ser reconhecido.

Substituírem a Bárbara pela Claúdia foi uma boa opção. Ela até pode ter a sensibilidade de uma bota da tropa para apresentar programas, mas tem - um belo sorriso, claro está - uma indiscutível harmonia com o Manzarra e isso é impagável. Ele próprio fica mais solto e graceja mais frequentemente quando está ao pé dela. Funcionam bem juntos, pronto.

O painel de jurados também só ficou a ganhar com a entrada do Miguel. Gosto da postura dele, serena e tranquila, sem precisar de atacar nem de fazer juízos de valor errados. E é engraçado perceber que a vinda dele mudou a dinâmica do antigo trio: a Sónia está muito menos temperamental e mais engraçada, o Junqueiro segue tranquilo em velocidade de cruzeiro porque sabe que vai ganhar aquilo e o Ventura... bem, continua a ser o vilão porque tem que haver sempre um saco de pancada, mas no fundo é um cordeiro em pele de lobo.

Passemos agora ao que verdadeiramente interessa, os concorrentes:

Adultos

Temos mesmo que esperar mais 7 galas para sabermos que a Kika - má escolha de nome porque já existe uma na berra - é a vencedora? Tem a história de vida, os pulmões de ouro, um percurso imaculado e o carinho do povo. E agora que já afastaram o outro potencial vencedor, teria que ocorrer uma nova desgraça para que tal não acontecesse. A  prestação de "I Will Always Love You" foi só o ponto alto desta temporada. Também gosto bastante do Rúben - dêem-lhe o reportório certo (mais Seal menos Avicii) e o rapaz chega à final. O Jorge ainda não igualou o nível das audições, mas para lá caminha, e o facto de ser o único representante do rock poderá ajudá-lo a chegar mais longe.



Rapazes

A coisa não está mesmo a correr nada bem para os lados da Sónia. Ainda estou para perceber como é que o Matheus foi parar ao bottom two, mas percebo perfeitamente a razão dela em tê-lo deixado ir. Ele não precisa disto. É um artista já com personalidade vincada e singra aqui ou em qualquer lado. O Júnior não. Precisa de um palco para brilhar. Mas devo dizer que também não vejo nele aquilo que os outros vêem - acho que é muita parra e pouca uva. Não me move nem comove minimamente. A criança, que remédio, fica até aos 5 finalistas. Voltando ao Matheus, jamais me sairá da memória o facto de ter levado Alt-J a um programa destes. Todo o seu percurso foi incrível. Aplaudo de pé.


Raparigas

Esta é a categoria que mais me tem surpreendido. Primeiro porque não esperava logo a saída da Marta, que ao que parece deu tudo o que tinha a dar - e não era pouco - nas audições e bootcamp. E depois porque estou agradavelmente surpreendido com a Inês e a - como odeio este nome - Mimi. Eu não simpatizava particularmente com a Inês, mas desde que chegou às galas que não tem feito outra coisa se não deslumbrar. Para além da voz majestosa tem uma postura muito bonita de se ver em palco. É feliz a cantar e isso toca quem a vê e ouve - é esse o 'factor x' dela. A Mimi - epá tenho que arranjar um nome de código qualquer - parecia já ter dado tudo no bootcamp e, fora a actuação a-b-c do "Count on Me", tem-se portado muito bem. Com a Isabela aconteceu o inverso: cada vez gosto menos de a ouvir. Sinto que já vi tudo o que tinha a dar. 



Grupos

Parecendo que não, acho que os grupos estão melhores do que na primeira edição. As PYT encontraram ali um nicho infanto-juvenil que lhes assenta na perfeição e aquilo que fazem, fazem bem. Os Pop 4 Roc eram os mais decentes, mas acho que andavam a cantar coisas um bocado ao lado. Quando cantaram Queen no bootcamp foram épicos, mas depois não voltaram a atingir esse patamar. Claramente que o público não percebeu o que andavam ali a fazer e foram dispensados. Por fim, os Babel candidatam-se a ser a história de maior sucesso desta edição: foi um ultraje terem ido para as galas e resistido à primeira, mas a verdade é que lá se encontraram e nos dois últimos programas tiveram das actuações mais memoráveis. Agora percebo porque é que o Ventura os juntou: queria fazer deles a versão nacional do Alex & Sierra. Por mim, se continuarem a fazer roupagens tão inventivas quanto as que têm apresentado, podem ficar mais umas semanas.


Como podem ver, o programa continua tão bom como dantes. A quebra das audiências é facilmente explicada pelo desgaste associado a este tipo de formatos, muito replicados em 2014. Só neste ano já tivemos a primeira edição de Factor X (entre Janeiro e Fevereiro), The Voice Portugal (de Março a Julho), Rising Star (Maio a Julho) e agora a 2ª edição do Factor X a competir em simultâneo com o The Voice Kids - algum deles tinha que levar por tabela. Eu cá continuarei atento ao desenrolar dos acontecimentos por estas bandas. Até à próxima!

Comentários

  1. Acho graça às explicações que as pessoas conseguem arranjar para as decisões da Sónia Tavares neste programa. A mulher faz escolhas que não lembram a ninguém desde o bootcamp do ano passado, incluindo muitos dos temas que seleciona para os seus concorrentes. Como cantora gosto dela, há que dizê-lo, como jurada considero-a a maior nódoa que alguma vez vi num programa destes, cá e lá fora, a Sharon Osbourne ao pé da Sónia é uma menina. Se justiça houvesse neste programa (que não há, é certo) os dois próximos a receber ordem de marcha eram os rapazes que lhe restam.

    Como aparte, a Sónia tem também uma postura muito arruaceira, que é uma coisa que para mim combina mais com o reality show da TVI. Quem segue o Factor X quer ver talento e espectáculo, não peixeiradas e faltas de nível.

    A par do Miguel Guedes, que se tem revelado um dos jurados mais competentes de sempre neste tipo de programas, acho que o Ventura ainda é dos poucos que imprime um bocadinho de realismo aos comentários que faz e muitos dos ataques que recebe parecem ser mais por embirração que outra coisa.

    Outra coisa. Roupagens inventivas os Babel? Se falou em Alex & Sierra, aconselho a visualização de algumas performances do duo. Garanto que as semelhanças não se ficam pelo reportório.

    Já tinha reparado e concordo com o salto qualitativo na realização e produção. Mas há erros que se pagam caros e agora é tarde demais. O desinvestimento nas galas do ano anterior e a crescente perda de credibilidade do programa, juntamente com a overdose de talent shows este ano, ditou este flop.

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  2. Lourenço, não percebo porque é que passei de "tu" para "você". Não há necessidade de criar esses formalismos todos. Ainda para mais porque não é a primeira vez que comentas e não quero criar essa barreira com quem me segue. Só se fizeres mesmo (permites-me tratar por tu?) muita muita questão.

    És um comentador desafiante, dás luta. De modo que tenho que refutar algumas observações.

    Eu não diria que a Sónia é arruaceira, mas sim algo temperamental. É uma mentora extremosa que se sente atacada quando atacam os seus e nem sempre reage bem às provocações dos colegas. Mas está muito melhor do que na edição passada, talvez porque está a lidar com jovens e antes tinha uma responsabilidade maior com os adultos.

    Já te esqueceste da Roberta Medina e Bárbara Guimarães no Ídolos, Clara de Sousa no Família Superstar ou Ana Bola no painel de jurados da Operação Triunfo? Essas sim, não tinham qualquer fundamento para estar ali a avaliar os candidatos. Já percebi que não gostas dela enquanto jurada, mas uma coisa é criticar a sua postura e condenar as suas escolhas, outra é duvidar da sua validade enquanto membro do júri. Acredito que poucos desempenhariam melhor aquele papel.

    Não digo que os Babel são pioneiros no que fazem, mas pelo menos esforçam-se por dar um cunho diferente às canções, ainda que retirem ideias do formato estrangeiro. Creio que as semelhanças se ficam pelo reportório e pelo visual, porque em termos vocais são bastante desiguais e a outra dupla não.

    Regra geral, as segundas edições destes formatos registam sempre uma queda abrupta de espectadores, ainda para mais quando são feitas apenas com um intervalo de meses. Mas sim, o maior erro foi a total desorganização das galas da 1ª edição que deixaram uma má impressão em quem acompanhou o programa e deixou de o fazer por essas e outras razões.

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  3. Já não me lembrava se da outra vez tinhamo-nos tratado por tu ou você. Por mim, tanto faz.

    Começando pelos Babel, se em termos vocais são bastante desiguais é mais um ponto contra eles, só não percebo é como é que eles podem receber crédito por "roupagens inventivas" quando a performance é uma descarada tentativa de cópia da apresentação da referida dupla do X-Factor US.

    Agora, quanto ao elefante na sala, ou no estúdio do Factor X: a Sónia.

    Ela nunca disse palavrões em directo, é verdade. Mas ela não está sozinha na bancada do júri, independentemente de concordar ou não, só tem mais é que ouvir e respeitar as opiniões dos outros. Começar a trautear ou aos gritos ou a disparatar quando os outros estão a falar só revela infantilidade e falta de educação. E é pena porque fora desses episódios ela até é simpática e agradável.

    Eu não vi o Ídolos 5 nem Família Superstar, pouco acompanhei a Operação Triunfo e já não me lembro bem. Quanto à Roberta Medina no Ídolos 3 e 4, para mim ela sempre foi inteligente nas apreciações que fazia, limitando-se a avaliar aquilo que sabe, como atitude, imagem, presença de palco, sem deixar de referir se a performance a arrepiou, emocionou, surpreendeu ou deixou indiferent, como tem toda a legitimidade para fazer. Como no X-Factor, os jurados acabam por ter imenso poder mesmo na fase das galas, os seus erros destacam-se mais também. De qualquer forma, concedo. Não devia ter dito "num programa destes", apenas "nas versões que conheço do X-Factor".

    Em teoria, a Sónia tem toda a legitimidade para estar no júri, enquanto vocalista duma banda de sucesso no nosso país e uma boa cantora. Na prática, eu só posso avaliá-la pelas decisões que faz no programa e se eu vejo decisões incompreensíveis no bootcamp, escolhas duvidosas de temas para os concorrentes dela e se consigo adivinhar sempre quem é que ela vai salvar partindo simplesmente do princípio que vai escolher o pior, é óbvio que, na minha perspectiva (sublinho), não tem competência para estar naquele lugar. Na temporada anterior, ainda se podia pensar que estava a jogar mas quando a qualidade das decisões é a mesma dentro da própria categoria dela, só pode ser mesmo incompetência. E a própria também não se coibe de mostrar que decide mais por simpatias pessoais que outra coisa, o que só revela falta de profissionalismo.

    Acho que poucos poderão negar que na categoria rapazes havia muitos candidatos muito melhores que os dois ... perdão único (ups Sónia! tás a levar cá uma coça este ano) que lhe resta. E a responsabilidade é dela e só dela.

    E pronto é isto. Na temporada anterior, ela teve alguma sorte de ter ficado com o vencedor antecipado e um concorrente que, por admissão própria, tinha familiares e amigos a gastarem aos milhares de euros em votos todas as semanas. Talvez a "sorte" a tenha bafejado mais uma vez e o menino João Maria beneficie de um fenómeno parecido com este último, caso em que, com as audiências e presumivelmente votações pela hora da morte, deverá chegar à final e quiçá até ganhar. Mas de figura de parva esta temporada já ninguém a salva.

    Em suma que já se faz tarde, a meu ver, Sónia Tavares = grande cantora, péssima jurada. É a minha opinião.

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  4. Já percebi o teu ponto de vista, mas se assim é devias estar igualmente de pé atrás com os outros mentores. Os Paulos também não fizeram já a sua quota parte de escolhas questionáveis? Olha o Junqueiro, por exemplo, raramente precisa de levantar uma palha porque os candidatos dele lapidam-se por si mesmos. O Ventura é certo que tem em mãos uma tarefa mais complicada, mas a sua visão dos grupos é altamente incoerente - acontecia no passado com os Yeah Land e Cupcake e acontece este ano com os que ainda tem em competição. Além do mais, ter deixado escapar as Burning Tears e inventado os Babel à última hora não devia ser menosprezado. Todos têm telhados de vidro e nenhum merece ser recriminado porque no final de contas isto é um programa de televisão que vende sonhos e promessas vagas. Tens que ser superior a isso tudo e passar a admirá-lo pela capacidade de entreter e divulgar talentos e não pela incapacidade de proporcionar justiça equitativa.

    Sou o primeiro a aceitar a péssima temporada que a Sónia está a ter e que lhe retira grande parte da credibilidade conquistada na edição passada, mas continuo a achar que, à parte das escolhas duvidosas, é a que melhor compreende os candidatos (os delas e os outros) e que faz as críticas mais construtivas.

    Ainda acerca dos Babel, para esclarecer de uma vez por todas a expressão "inventiva". Esquece o que vês lá fora, é um mundo à parte. Não é correcto nem justo comparar os nosso artistas aos internacionais, apesar do talento não ser menor. Tratando-se de uma adaptação do formato norte-americano, desde logo que há sempre a possibilidade dos concorrentes se sentirem tentados a copiar o que lhes chega de fora. E nem é preciso saíres do país para encontrares situações de cópias descaradas: vê uma emissão apenas do The Voice Portugal, Factor X ou o Ídolos, compara os concorrentes e não tarda muito até que digas "onde é que eu já vi isto?". Assim sendo, não me parece de todo disparatado dizer que os Babel fazem roupagens inventivas. Não para o mundo. No país deles.

    Dizes, e bem, que este formato atribui um grande poder de decisão aos jurados e essa é para mim a maior falha do programa: torna-o à imagem dos mentores e não do público. Já quando este é chamado a desempatar a decisão final, como aconteceu nos dois últimos programas, fez a meu ver as escolhas justas que provavelmente os jurados não fariam. É por essa razão que o meu formato favorito sempre foi e continuará a ser o Ídolos, pela premissa em si e por dar o poder ao povo.

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    1. Correcção*** tratando-se de uma adaptação do formato britânico.

      Erro meu, estava tão concentrado no modelo americano que me esqueci que, por uma vez que fosse, o UK teve uma ideia original.

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  5. Olá Gonçalo.

    Por uma vez, o UK teve uma ideia original... A sério? Porque grande parte destes talent shows foram criados no UK. Incluindo Ídolos, no original "Pop Idol", que depois foi adaptado nos EUA como "American Idol".

    Francamente, não gosto particularmente de nenhum dos jurados da 1.ª temporada, por motivos diferentes. para mim a Sónia destaca-se pela negativa. Ela até podia simplesmente ter mau gosto, mas ao mesmo tempo tenho a sensação que ela também é altamente incoerente.

    Tenho gostado do Miguel até agora. Também já houve decisões e escolhas com as quais não concordei claro, mas isso é como tudo. Acho que tem feito um bom trabalho e tem tido uma excelente postura.

    "Além do mais, ter deixado escapar as Burning Tears e inventado os Babel à última hora não devia ser menosprezado."

    Francamente, não vou culpar o Ventura por isso, porque já mais que uma pessoa que foi assistir ao bootcamp me assegurou que esse pseudo-duo foi imposto pela produção. Para mim, é só mais uma razão para não gostar deles e não perceber o apoio, que pelos vistos vem sobretudo de pitas que os querem ver como casal e já andam a fazer todo um filme sobre o assunto.

    Eu não posso esquecer o que vejo lá fora, nós já não vivemos isolados do mundo e o X-Factor US até já deu cá num dos canais do cabo. Podem ser diferentes do que já se fez cá em Portugal (também com tão poucos duos que se vêem dificilmente não seria assim), mas quando as actuações deles parecem que o Ventura ou a produção lhes pôs um vídeo de Alex & Sierra à frente e disse "olhem, tentem copiar", não compreendo mesmo como é que isso pode ser um ponto a favor deles.

    Aquilo para mim continua a ser o que sempre foi, um pseudo-duo, que não deve durar nem uma semana depois do programa. O rapaz canta bem, sim, mas espalhou-se completamente na fase das cadeiras. Por uma vez até concordei com a decisão da Sónia e a produção arranja maneira de a reverter... bolas, é como se ela não conseguisse mesmo ganhar pontos comigo.

    Para mim, os piores da categoria grupos e rapazes foram os que chegaram mais longe e se dependesse de mim a dupla eliminação do próximo Domingo ia deixar a Sónia e o Ventura só a comentar.

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