REVIEW: Laura Marling- Short Movie


Solidão, espiritualismo e a assertividade do costume fazem de Short Movie mais um declarado triunfo para Laura Marling 

Aos 24 anos e com 4 discos aclamados no bolso, a cantautora britânica sentiu necessidade de fazer um interregno artístico para melhor compreender o que poderia vir a seguir na sua carreira. A paragem levou-a a fazer-se à estrada do deserto da Califórnia (vagueou por Los Angeles, Joshua Tree e pelo Mount Shasta) onde se distanciou de Laura, a intérprete, e se redescobriu enquanto pessoa. 

Short Movie é então o recolher dos fragmentos deixados ao longo de uma jornada de autodescoberta em que chegou a duvidar se algum dia conseguiria voltar a fazer música. A típica crise do primeiro quarto século de vida, portanto. 

O processo de gravação e composição trouxe visíveis mudanças na sonoridade de Laura Marling, que neste álbum acumula também a função de produtora executiva. Entre elas a mais evidente será o recurso à guitarra eléctrica (presente em "False Hope", o primeiro single do registo, ou em "Don't Let Me Bring You Down") que convive pacificamente com o seu passado acústico mais próximo das tradições folk. 


Existem também devaneios bluesy na serenata à lua de "Howl" ("howl at the moonI'll come find you"), aproximações ao cancioneiro de Joni Mitchell nas sofridas "How Can I" e "Walk Alone" e um certo espírito de faroeste em canções como "Warrior", "Strange" ou "Gurdjieff's Daughter", estas últimas a receber as prestações vocais mais inspiradas do disco, num spoken-word digno de quem veste as calças e o chapéu de cowboy.   

Liricamente, Laura Marling continua tão irrepreensível como dantes, com palavras firmes e duras a sair-lhe com a leveza de uma brisa primaveril. Há desolação passional em "Warrior ("I can't be your horse anymoreyou're not the warrior I've been looking for"), desnorte interior em "False Hope" ("Is it still okay that I don't know how to be at all?"), temores da jornada presentes em "Don't Let Me Bring You Down" ("living here is a game I don't know how to play") e a redenção pessoal alcançada por via da espiritualidade em "Worship Me", a bonita faixa de encerramento ("devote your life to peace and breathe").  

Cinco álbuns e um quarto de século de vida às costas e Laura Marling parece ter chegado ao cume da montanha: aquilo que já conquistou a nível criativo, é muito mais do que a grande maioria das suas congéneres poderão um dia vir a alcançar. "I'm just a horse with no name", canta em "Warrior" - que essa liberdade criativa e de espírito a acompanhem por muitos anos mais.  



Classificação: 8,2/10

* Isto é o resultado de um novo exercício prático de escrita jornalística, tão ou mais agreste que o último que me levou a opinar acerca de Vulnicura. Este foi trágico-cómico: na porta um estava o novo do Carlão, na porta dois aguardava o de Laura Marling e na número três escondia-se o último dos Siskiyou (perdão, quem?!). Ora, hip hop nunca foi o meu forte, bandas indie conhecidas só lá no bairro delas nem deviam ser hipótese e Laura Marling conhecia de nome e só uma canção ou outra. A dificuldade que se coloca já nem está no escrever sobre um disco, mas sim escrever acerca de um artista cuja obra desconhecemos inteiramente. Tive exactamente 24 horas para me familiarizar com o disco e produzir o texto. Nada mau, dirão vocês. Nem acredito como consegui, digo-vos eu. Tenho fé que à terceira o desafio seja feito à minha medida, mas o meu desfado leva-me a crer que ainda me calha na rifa um álbum de metal ou reggae. Do mal ao menos, fiquei fã da dona Marling e bastante interessado em conhecer o resto da sua obra :)

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