AO VIVO: Scott Matthew no Cinema São Jorge

Músico australiano deu esta segunda à noite o último de três concertos no nosso país para uma plateia que o recebeu de braços e coração abertos. 

Em noite ventosa de Primavera, o São Jorge fez um interregno na montra cinematográfica que costuma propor aos seus visitantes, de modo a acolher a última data nacional da digressão europeia de Scott Matthew, que ali vinha apresentar as canções do seu mais recente trabalho de estúdio, This Here Defeat, editado no passado mês de Janeiro. 

Acompanhado de um teclista, guitarrista e violoncelista, o músico entrou timidamente na sala, todo ele um emaranhado de pilosidade capilar e facial (a rivalizar com a do conterrâneo Chet Faker), sob uma chuva de aplausos que logo cessou aos primeiros acordes de "Effigy", a primeira de muitas composições dolentes que se escutariam ao longo da noite. À segunda canção, "Ode", numa sentida homenagem ao seu avô, já tinha o público do São Jorge nas mãos.  

Matthew mostrou-se sempre muito comunicativo e bem humorado ao longo do concerto, facto a que a generosa garrafa de plástico com vinho português que saboreou entre canções não terá sido alheio. Mas talvez essa leveza e transparência de espírito fosse necessária de forma a atenuar o efeito emocionalmente arrebatador das suas canções, arrancadas às vísceras e postas cá para fora sem refreio, num assumido processo catártico. 

"Here We Go Again", "Skyline", "Constant" ou "Palace of Tears" (inspirada, segundo o músico, num edifício alemão não tão palaciano quanto o título sugere) ajudaram a essa catarse, mas houve também espaço para deixar a luz entrar em temas como "Bittersweet" ou "The Wonder of Falling In Love" (de ukelele em riste) alegremente entoados pela plateia. Momento mais celebrado que esses, só os que recriou com base no seu penúltimo álbum de versões, Unlearnedde onde foram resgatados "I Wanna Dance With Somebody" (Whitney Houston), "Anarchy in the UK" (Sex Pistols), "Harvest Moon" (Neil Young) ou "Darklands" (Jesus and Mary Chain) - pop, punk, folk e indie rock mergulhados em melancolia.  

Fosse ou não do vinho, Scott Matthew parecia genuinamente feliz por poder carpir as suas mágoas entre nós, na cidade onde diz ter gravado o novo álbum. Só assim se pode explicar o assombro que provocou ao entoar "Ruined Heart", um dos momentos altos do concerto, que aliás só acontece quando o seu intérprete considera estarem reunidas uma série de "condições especiais".  

Se dúvidas houvesse que elas estavam ali presentes, os dois encores a que tivemos direito trataram de as dissipar. O primeiro servido com a belíssima "Annie's Song", a pôr à prova os sacos lacrimais da plateia, "Abandoned" e a delicada rendição de "Into My Arms", de Nick Cave. O segundo, a sós no palco, com o apropriado "In the End", recuperado ao disco de estreia. O concerto terminava ao fim de duas horas, mas atendendo ao repto de Scott Matthew, a conversa seguiria noite fora no bar do São Jorge. Bendito vinho. 




Sigam-me na página de facebook do blog!

Comentários

Mensagens populares