REVIEW: The National- Mistaken for Strangers


Como será um documentário da vida de estrada dos The National filmado pelo irmão mais novo do vocalista? Uma trágico-comédia familiar, claro está. 

Corria o ano de 2010 quando os The National, figuras do panteão da cena rock alternativa do novo milénio, embarcavam na sua primeira grande digressão de carreira que os levou pela Europa fora e pela América do Norte, acediam ao pedido do elemento mais novo do clã Berninger de os deixar filmar ao longo da tour de 12 meses com o intuito de montar um filme acerca disso. 

Afinal, quem melhor do que o próprio irmão de Matt Berninger para registar um momento tão memorável na vida dos The National, certo? Talvez nem tanto. A película revela-nos desde logo que Tom é o completo oposto do seu irmão: um tipo desmazelado, barrigudo, fã de heavy metal, de filmes de terror e com duvidosos métodos de realização. Não podemos dizer que não fomos avisados. 

Ao longo de uma hora e um quarto de película cabe tudo aquilo que não deve caber num documentário do género: "entrevistas" que se assemelham a segmentos de apanhados, uma espécie de bloopers hilariantes da vida mundana da banda e do caricato Tom Berninger no papel de roadie/realizador fracassado, entrecortados com performances de palco (sempre tão notáveis e intensas) e ainda variadas cenas que mostram o atabalhoado processo de edição e montagem do documentário, habitualmente reservadas para o making-of do mesmo.  

Mistaken for Strangers é essencialmente um filme que explora a relação entre dois irmãos separados pela distância, diferença de idades, estatuto e personalidade, mas unidos pelo amor fraternal. O tal que certamente terá compelido Matt Berninger a quebrar uma série de protocolos interiores ou a ir contra os seus superiores, apenas para que o irmão pudesse concretizar esta visão tão estapafúrdia do seu estimado grupo.  

Essa é uma certeza com que ficamos quando Tom, derivado à incompetência nata, é despedido das suas funções de roadie, abandonando a digressão a meio e voltando ao ponto de partida, em Brooklyn, sem conseguir chegar à versão final das imagens recolhidas e começando a duvidar não só das suas capacidades artísticas como do seu papel no núcleo familiar (e aqui surgem sentidos testemunhos dos pais de ambos). Eis que Matt, regressado da digressão, o acolhe no seu lar e proporciona ao irmão o essencial para concluir a tarefa em mãos: compreensão e suporte emocional.  

Visto como suplemento musical, o filme é um fracasso. E aí poderá ser terrivelmente frustrante para todos aqueles que esperavam assistir à prosa visual da vida de estrada do grupo de "Fake Empire". Visto enquanto pedaço audiovisualMistaken for Strangers é puro entretenimento indutor de sonoras gargalhadas, capaz de agregar ainda mais fãs aos National do que alienar os já existentes. Afinal de contas, parece que tanto a estrela de rock sorumbática como a não-estrela-de-rock desmazelada precisavam um do outro. Daqui em diante, o difícil para nós será mesmo conseguirmos escolher o nosso Berninger favorito. 

Classificação: 8/10

Deixo-vos com a cena de encerramento, que não por acaso é só o melhor segmento do filme. Arrepio-me com a escalada épica do vocalista (é de boss ir cantar para o hall) e acho que finalmente percebo porque razão é tão fácil apaixonarmo-nos por esta banda. 



* Ora isto foi fruto de uma aula prática dedicada à crítica de documentários musicais. Adorei fazê-lo porque me permitiu ir além da música. E só pensava nas vezes em que me apeteceu falar de outros filmes ou séries que vi, mas não podia porque isto é um blog de música e não me visitam para me verem a escrever sobre Walking Dead (coisa que faria eloquentemente, asseguro-vos). Talvez o faça mais vezes, desde que se enquadrem no universo musical. Lá que gostei da experiência, gostei :)

Comentários

Mensagens populares