12 capas de discos que me fascinam

Antes de nos chegar aos ouvidos, a música começa essencialmente por ser um processo visual - 
é o primeiro contacto que temos com a obra de um artista, servindo de porta de entrada a um disco e de chave à sua compreensão. A lista que se segue claramente não reúne as melhores capas de álbuns jamais editadas, mas sim as que mais têm fascinado o escriba ao longo da sua existência:

Björk- Homogenic (1997)


Numa qualquer dimensão paralela, o mundo pára para ver Thardsvergûndnzmal's Next Top Model e uma Tyra Banks metade sereia metade ninfa de gelo atribui a melhor foto da semana à islandesa Björk pela sua magistral encarnação de uma guerreira do Extremo Oriente que "luta com amor e sem recurso a armas". O retrato é da autoria do estilista Alexander McQueen, que para chegar ao efeito desejado colocou à artista lentes de contacto especiais, fita adesiva em torno da cintura e 10 kg de cabelo à volta da sua cabeça. Gosto moderadamente das canções de Björk, admiro profundamente as suas mutações visuais ao longo das décadas e considero esta fotografia a pièce de résistance do seu catálogo discográfico.


Arcade Fire- Neon Bible (2007)


Em tempos já expliquei não só a fascinação pela capa do disco como também pelo seu conteúdo. Como é que um simples letreiro em néon com motivos bíblicos pode dar uma capa tão boa? O ano é 2007, mas por momentos recuamos a 1982 ao cosmos informático de Tron governado por uma trupe de canadianos a fazer canções indie maiores que a vida. Não sei ao certo qual o contraste original da imagem (há outra versão de cor menos luminosa), mas sinto-me atraído pela ideia da vivacidade da luz perdida no meio da escuridão e do vazio. As linhas que adornam o letreiro cultivam o imaginário sagrado, majestástico e a necessidade de culto. Profundamente hipnotizante.


Maroon 5- Hands All Over (2010)


À luz dos Maroon 5 dos dias de hoje, é praticamente certo que uma capa com um título destes levaria a imagem de um Adam Levine em tronco nu, envolto por mãos esfomeadas. Mas felizmente que Hands All Over chegou dois anos antes do grupo ter perdido o bom gosto de vez. Acho deveras interessante o facto da modelo da capa ser a própria fotógrafa, Rosie Hardy de seu nome, uma inglesa de apenas 19 anos que registou o momento de pleno êxtase/desbunda matinal/loucura com um par de mãos extra no conforto do seu lar em modo fast backward. É provocante, inteligente e eficiente - conseguem imaginar como foi gasto o resto do rolo? 


Rihanna- Rated R (2009)


Se o conteúdo e o exterior forem contabilizados como um todo, Rated R ganha facilmente o primeiro lugar na lista. Antes de me apaixonar pelo seu alinhamento, já gravitava em redor da sua capa, como frequentemente acontece com outros títulos da obra de Rihanna. Mas a de Rated R é diferente. Estamos em 2009, mas a imagem - captada pela fotógrafa alemã Ellen von Unwerth - transporta-me tanto a 1982 como a 2031. Talvez seja do filtro a preto e branco ou do figurino tão Grace Jones, mas acho-a absolutamente icónica. O rosto transmite-me alta-costura (thank you, Tyra) e o olhar é uma combinação de perigo, exaustão e torvelinho emocional com promessa de tau-tau pelo caminho. Em suma, acho-a um absoluto espanto.


SOHN- Tremors (2014)


Uma estrada de terra batida cercada por um fino manto de neve que se estende até elevações rochosas a preencher um céu azul, quase liberto de nuvens. No fim do caminho, uma silhueta escura emerge ou estaca diante de um gigantesco géiser a perder-se de vista no infinito - quão bonita é esta imagem? Da localização nada se sabe (o meu pensamento transporta-me logo para a Islândia) e a sua autora dá pelo nome de Carla Fernández Andrade. Parece saída de uma edição mensal da National Geographic e dá azo a profundas contemplações e reflexões de espírito. Pergunto-me porque não existirão mais capas de discos a espelhar a natureza...


Muse- The Resistance (2009)


As teorias da conspiração de Matt Bellamy costumam ser tão grandiloquentes como as capas dos álbuns da sua banda, com destaque para a do disco de "Uprising" ou "Undisclosed Desires" - uma imagem intergaláctica de um mosaico caleidoscópico formado por coloridos hexágonos a cercar uma longa passadeira na qual se encontra uma figura (talvez humana, quiçá alienígena) a caminho do planeta Terra. Fascina-me a gradação das cores, o motivo sci-fi e a ideia da contemplação infinita - como resistir aos insondáveis mistérios do universo? A ilustração pertence a La Boca, mas foi criada com os pés. Náaaa, estou só a meter-me convosco. 


Editors- In Dream (2015)


Aqui estou a fazer um bocado de batota porque o álbum só chega a 2 de Outubro mas... caramba, esta imagem é incrível. Não pode ter termo de comparação com as restantes por ser bastante recente, mas estou apaixonado por ela agora e julgo que passados 10 anos continuarei a estar. A pose de Tom Smith é divinal - a forma como comunica tanto com o rosto (serenidade e concentração graníticas) e as mãos (graciosas mas robustas) - a reverberação da água em contacto com o corpo, a receber/emanar a névoa e, sobretudo, o feixe de luz circular que envolve o músico, como que prestes a transportá-lo para outra dimensão. Resulta da visão criativa do artista iraniano Rahi Rezvani, que adicionalmente tem realizado os vídeos para os singles deste 5º álbum dos britânicos: "No Harm", "Marching Orders" e "Life Is a Fear". Uma parceria de sonho. 


Feist- The Reminder (2007)


Da obra de Leslie Feist não conheço tanto quanto gostaria, mas esta capa sempre me ficou encravada na memória. Penso em Laura Marling e Florence Welch quando olho para a imagem. O porte régio e a elegância de fina gazela, o pescoço alongado e o penteado aprumado, tudo em imaculada sintonia para receber o feixe de linhas coloridas que a trespassam pela lateral do ombro direito. Adoro a forma como se fundem com a artista e estão inseridas na imagem, intensificando a abstracção do rosto. Simples, mas tão elegante. É uma criação de Simone Rubi, artista sediada em São Francisco.


Foster the People- Supermodel (2014)


A arte abstracta no seu melhor. Porque a fotografia também deve induzir à reflexão, e o segundo álbum conceptual dos Foster the People começa por fazê-lo logo na capa, com a pintura de uma modelo captada em pleno estado decadente por um bando de paparazzi faminto por registar o seu momento de fraqueza. Na corrente de vómito, surge o seguinte escrito: "I ate it all; plastic, diamonds and sugar-coated arsenic as we danced in honey and sea-salt sprinkled laxative. Coral blossomed portraits in Rembrandt light; cheekbones high and fashionable. Snap! goes the moment; a photograph is time travel, like the light of dead stars painting us with their warm, titanic blood. Parasitic kaleidoscopes and psychotropic glow worms stop me dead in my tracks. Aphids sucking the red off a rose, but for beauty I will gadly feed my life into the mouths of rainbows; their technicolor teeth cutting prisms and smiling benevolently on the pallid hue of the working class hero". A autoria é do artista Young & Sick e o álbum o meu favorito do ano passado. Recordem-no aqui.


Beyoncé- Dangerously In Love (2003)


Há anos que me debato com a seguinte questão: "Qual dos dois o mais escaldante? "Crazy In Love" ou a capa que ilustra o disco? Pois bem, é aqui que vocês entram: 760-112-wooow para a primeira opção, 760-112-ohmyohmy para a segunda. Adicionalmente, consigo pensar em três títulos mais indicados para a obra: My Eyes Are a Little Above, Diamonds Are Bey's Best Friend ou Dangerously Bombshell. Graçolas à parte, a foto é ridiculamente perfeita - o rosto é um sonho, a inclinação da anca dá 10-5 a Shakira, o cabelo esvoaça por graça divina, a posição geométrica dos braços é para lá de engenhosa, o contraste entre o fundo azul e o castanho claro da sua pele é magnífico e aquela rede de diamantes ainda hoje cumpre pena de prisão por excesso de líbido nos seus quilates. Daaamn, há capas da Playboy mais inocentes. 


Kanye West- Graduation (2007)


Digamos que as capas dos álbuns de Kanye West têm evoluído de minimalistas para arte bruta, mas ao terceiro de originais houve um notório investimento ao nível da ilustração tanto na capa como no booklet. O Dropout Bear - ursinho que é a figura central dos anteriors The College Dropout (2003) e Late Registration (2004) - surge redesenhado pela mão do artista japonês Takashi Murakami, inspirado pelo seu movimento artístico pós-modernista superflat para criar a cerimónia de formatura da personagem numa metrópole futurista. Aprecio a ideia, os traços humanos dos edifícios, a utilização das várias tonalidades e que o conceito de formatura se traduza numa projecção para o espaço sideral. Porque, convenhamos, por esta altura a obra de Kanye já apontava para o infinito e mais além.


Coldplay- Mylo Xyloto (2011)


Como é que se ilustra uma capa que dá pelo nome de Mylo Xyloto? Com uma manifestação vívida e detalhada de arte urbana, obviamente. Um extenso mural grafitado é o ponto de partida para a ilustração do 5º álbum de estúdio dos Coldplay, uma conceptualização em torno de uma sociedade distópica vilipendiada por um governador que tenta roubar o som e a cor das ruas. Mylo e Xyloto, são os protagonistas que salvam a população da tirania, restabelecendo a paz e apaixonando-se no decorrer do processo. A banda trabalhou lado a lado com os Tappin Gofton, duo de designers gráficos com quem já haviam colaborado no passado, e o artista de rua britânico Paris. É imersiva, esconde pequenas significâncias e explode de cor, como tanto gosto.

É curioso que dos 12 discos apenas possuo 4 na minha colecção pessoal. Mas pagaria para ter qualquer um deles e ficaria de bom grado a admirá-los dias a fio de modo a absorver todos os pormenores e buscar inspiração para o dia-a-dia. Quereis ver que não tarda o escriba começa a querer estudar fotografia e ilustração afincadamente? 

Lista de coisas a fazer nesta vida à parte, acho que se percebe que gostei muito de fazer este post =D

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