REVIEW: Years & Years- Communion


Trio britânico apontado como uma das grandes apostas para 2015 entrega um disco de estreia eficaz mas pouco entusiasmante que concentra a sua força nos singles. 

Nos tempos que correm será imperativo perguntarmo-nos se continua a fazer sentido a existência de uma máquina capaz de erguer fenómenos com precisão, quando em plena era digital estes se propagam à velocidade da luz e muitas vezes atingem a meta antes de terem passado sequer pela casa de partida.

Olho para os Years & Years e vejo uns sucedâneos dos Bastille na forma como têm percorrido o caminho da glória. Antes de "Pompeii" os ter catapultado para o estrelato, já existiam 3 singles de antevisão a um longa-duração de estreia que só se concretizou alguns meses depois graças ao tremendo sucesso do dito cujo. Com o trio londrino a história repete-se: descobrem a galinha dos ovos de ouro à 4º tentativa e aguardam mais uma mão cheia de meses até terem luz verde para editar Communion. Tudo para que "a máquina" os pudesse insuflar a cada nova menção na imprensa, blogosfera, investida promocional ou prémio recebido. 

Tal como a banda de Dan Smith já granjeava admiradores muito antes de "Pompeii" ter explodido, também os Years & Years faziam virar pescoços previamente à chegada de "King" em Janeiro deste ano - e se é verdade que o período de espera lhes permitiu conquistar um considerável patamar de notoriedade, é também verdade que as canções do disco de estreia não justificam o longo período de gestação.



No geral, paira a sensação de que tudo o que de interessante havia no grupo já tinha sido revelado com os singles. "Real", ainda em fase embrionária de pertença à reputada Kitsuné, é fascinante na sua cadência demente, dissonante e na névoa propagada pelos seus sintetizadores obscuros; "Take Shelter", para muitos o farol que conduziu ao trio, permanece irresistível com o seu leve toque tribal ornamentado pelo flow R&B do vocalista; "Desire" incentiva a clicar no replay à exaustão; "Shine", porventura o menos interessante da pandilha, conta com um refrão emocionalmente retumbante, e o omnipresente "King" concentra em si todas as jóias da coroa - compromisso entre a synthpop via 80s e anos 10, sedutora nos seus beats baleares, teclados caleidoscópicos e munida de um refrão maior que a vida. Um arraso de canção.

"Border" e "Ties" (irmã mais nova e ingénua de "Take Shelter") cativam pelo corte original e produção vívida, enquanto a inescapável "Worship" com as suas vocalizações múltiplas e aura teen transporta o ouvinte aos dias de ouro de Backstreet Boys ou NSYNC - sim, porque Olly Alexander tem ali na voz um quê de Justin Timberlake que nunca evoluiu dos tempos de boysband. O que por enquanto ainda lhe vai assentando bem. 



A fasquia desce em temas como "Eyes Shut", momento Sam Smith com pretensões de Naughty Boy, "Without You", momento Sam Smith parte II com pretensões de Ellie Goulding, ou a inócua "Gold", todas elas a precisar de uma mixagem mais cuidadosa. As baladas não são definitivamente o forte da banda, excepção feita à faixa que encerra o disco, a frágil e delicada "Memo", capaz de estabelecer algum clique emocional ainda que soe um tanto ou quanto Bastille-esca. 

"Foundation", a porta de entrada no disco, parece pertencer a uma galáxia distante daquela que existe em Communion. Contaminada por névoa fantasmagórica e angústia latente a subir de tom a cada nova interrogação, a desenhar progressão bastante satisfatória e expondo vocalmente o melhor de Olly - soaria assim uma colaboração do grupo com Son Lux. 

Julgo que para disco de estreia é satisfatório. Como produto das maiores promessas do ano (assim o diz a BBC) é capaz de ser bastante insuflado. Para além das muitas influências da synthpop e electrónica das décadas de 80 e 90 que por aqui se escutam, há uma herança R&B inata na forma como Olly Alexander ataca os versos que deveria ser explorada pelo trio em lançamentos futuros. Por enquanto a sua jovialidade, escrita descomplexada e sincera e apetência para melodias certeiras, são tudo quanto basta para mantê-los na corrente. A máquina vence, uma vez mais. 



Classificação: 7,2/10

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