REVIEW: Of Monsters and Men- Beneath the Skin


Ao segundo álbum de originais a trupe islandesa esforça-se por nos dar mais variedade sónica e profundidade lírica, construindo pelo caminho um disco sentido mas monótono, acerca dos monstros e dos homens. 

É impossível passarmos em revista o ano de 2012 sem nos depararmos com uma data de heróis improváveis: o belga Gotye e a canção do xilofone, Carly Rae Jepsen e o regresso aúreo da bubblegum pop, os fun. a levar a pop alternativa ao patamar de estádio e um certo sexteto a colocar a indie folk/pop islandesa no mapa-mundi pela força de uma canção só, "Little Talks".

De arrasto traziam um encantador disco de estreia - My Head Is an Animal - que se tornaria num dos sucessos mais surpreendentes daquele ano (só nos EUA vendeu mais de 1 milhão de cópias) à custa de um imaginário místico muito próprio explorado nas letras e vídeos, enternecedoras harmonizações, instrumentação acústica e inúmeros "HEY!" seguidos de mais uns quantos "la la las" e "uhóooouous". Simples, mas tão infalível.

Em Beneath the Skin o grupo não se confina à floresta encantada e procura novo solo onde possa pisar os pés, perdendo algum do vigor de outrora mas revelando muito mais da pele que há em si - menos espírito folk e de comunhão traduz-se num álbum algo negro e eléctrico com menos bestialidade e mais humanidade dentro.



"Crystals", o luminoso 1º single, anuncia clareza de espírito ("in spite of all my fears, I can see it all so clear") e parece assumir um compromisso da banda com escolhas mais ousadas e definidas que mais tarde não se vêm a revelar. Igualmente falacioso é a dualidade entre a besta e o homem patente em "Human", com o grupo a aceitar a sua mortalidade ("breathe in, breathe out/ let the human in") como se de um rito de passagem se tratasse. E logo a atmosfera do disco se torna mais densa e obscura com a chegada de "Hunger", alarmante pedido de ajuda com um crescendo de guitarras e percussão a acompanhar o tom aflitivo que se atenua na canção seguinte, "Wolves Without Teeth", ainda que o perigo se tenha materializado na forma de lobos sem dentes ("and I run from wolves/ tearing into me/ without teeth"). Está embuída do mesmo tipo de electricidade que os Mumford & Sons adoptaram no seu último álbum, o que não é lisonjeiro para os islandeses. 

"Empire" partilha da mesma filosofia escapista-a-dois de "King and Lionheart", mas sem vestígios da folk que caracteriza este último - é um dos poucos exemplos bem conseguidos de variação no disco. "Slow Life" parece ser exactamente a mesma canção, apenas desmascarada pela inclusão de órgão, baixo e sintetizador - é como pintar o mesmo desenho com aguarelas em vez de canetas de feltro. E é longa, desnecessariamente longa. Igualmente sensaborona é "Black Water" (liricamente tenebrosa, melodicamente pueril), a angariar o título da mais fraca do alinhamento, e "We Sink" também não faz muito por fechar o álbum de forma coesa, novamente a recapturar o espírito "à volta da fogueira" de My Head Is an Animal



"Thousand Eyes" é talvez o momento mais curioso do disco, em que o grupo saca um trunfo épico digno de uns Arcade Fire: fantástico exercício de progressão, contenção lírica e vocal, com instrumentação de cordas e teclados esparsa que desemboca numa sinfonia propícia a causar arrepios na espinha. Deve soar terrífica ao vivo, mas será que a banda tem estofo para a tocar? A bateria militar e a declamação poética da vocalista Nanna em "I of the Storm" anunciam um refrão algo Coldplay ou OneRepublic-esco que perde encanto quando nos apercebemos que se trata de uma réplica mais aprumada de "Organs", inequivocamente o tema mais bonito e memorável de Beneath the Skin, o único construído à base de guitarra acústica e um acompanhamento de cordas que reflecte pesar e dor profunda carpida nos versos entoados por Nanna, numa emocionante interpretação que a tempos relembra uma Björk mais juvenil. 

Há decididamente uma revolução interior a acontecer nos Of Monsters and Men que ainda não consegue ser exteriorizada nos ritmos e melodias que adornam este segundo álbum, a sofrer da mesma falta de variação do primeiro, mas sem o mesmo fio condutor narrativo e a capacidade que este tinha de se ligar emocionalmente ao ouvinte. Há cabeça, coração e camadas reveladoras de pele, mas não devidamente articulados - muitas teimas serão tiradas ao terceiro álbum. 


Classificação: 7,2/10

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