MTV Video Music Awards 2015: Yeezy, loucura e liberdade


Kanye West falou ao povo, Taylor Swift subiu ao trono e Miley Cyrus foi a anfitriã incendiária de uma cerimónia memorável com a sua quota parte de insanidade e discursos mobilizadores dirigidos ora à nação, ora ao coração dos milhões de espectadores. 

Conheçam a lista completa dos vencedores:

Video of the Year- Taylor Swift ft. Kendrick Lamar- "Bad Blood"

Best Male Video- Mark Ronson ft. Bruno Mars- "Uptown Funk"

Best Female Video- Taylor Swift- "Blank Space"

Artist to Watch- Fetty Wap- "Trap Queen"

Best Pop Video- Taylor Swift- "Blank Space"

Best Rock Video- Fall Out Boy- "Uma Thurman"

Best Hip Hop Video- Nicki Minaj- "Anaconda"

Best Collaboration- Taylor Swift ft. Kendrick Lamar- "Bad Blood"

Best Direction- Kendrick Lamar- "Alright"

Best Choreography- Ok Go- "I Won't Let You Down"

Best Visual Effects- Skrillex & Diplo ft. Justin Bieber- "Where Are Ü Now"

Best Art Direction- Snoop Dogg- "So Many Pros"

Best Editing- Beyoncé- "7/11"

Best Cinematography- Flying Lotus ft. Kendrick Lamar- "Never Catch Me"

Best Video with a Social Message- Big Sean ft. Kanye West and John Legend- "One Man Can Change the World"

Song of Summer- 5 Seconds of Summer- "She's Kinda Hot"

Michael Jackson Video Vanguard Award- Kanye West


Assim foi a 32ª edição dos VMAs:


Pensos rápidos não tratam ferimentos de balas, mas uma colaboração no palco da MTV com o mundo inteiro a ver enterra de uma vez por todas qualquer machado de guerra. Nicki Minaj não é o alvo de "Bad Blood", mas aquando da revelação das nomeações deste ano, farpas foram lançadas no Twitter pela cantora de "Super Bass" que visavam Taylor Swift. Bem, vocês devem conhecer a história. Nicki tanto choramingou que acabou por ter tudo de bandeja - uma estatueta, honras de abertura da cerimónia e muito falatório em seu redor. Facilmente a pior actuação inaugural dos VMAs desde a infame "Gimme More" de Britney Spears em 2007. 


Tão fraquinho foi o momento anterior que houve necessidade de colá-lo à actuação que assinala o regresso de Macklemore e Ryan Lewis às canções: ainda não se percebeu se "Downtown" é um hit à espera de acontecer ou só um pontual agitar de águas no mainstream, mas há definitivamente algo de épico naquele tema. Foi muito bem pensado cenografar a actuação com elementos do vídeo e escolher fazê-la no exterior do recinto, mas poderia ter existido maior interacção e comunhão com o público e uns quantos confettis. Entretanto há a atribuição do Best Male Video para "Uptown Funk" de Mark Ronson e Bruno Mars. Justíssimo.


Com uma line-up de performers muito morninha, The Weeknd era quem mais se destacava do alinhamento. Trouxe chamas, pop, funk e moves à Michael Jackson e levou a plateia ao delírio (nem faltou a habitual dançazinha de Taylor Swift) com a canção mais escaldante deste Verão - em suma, tudo aquilo que se esperava dele. Uma hilariante Rebel Wilson - mais tarde ou mais cedo chegará a anfitriã dos VMAS - a desafiar a censura e a anunciar Nicki Minaj e a sua "Anaconda" como depositária do Best Hip Hop Video. Claro, claro...


Nova vitória travestida daquela que em 2012 havia ganho o Best Female Video com o hediondo "Starships", que até em ácidos deve causar algum tipo de lesão cerebral. Já vos disse em tempos idos que só ganha um Moonman quem: 1) paga por eles, 2) confirma a sua presença na cerimónia, 3) faz choradinhos no Twitter. Ocasionalmente também vence o voto popular, mas cada vez menos. Mais engraçada foi a tentativa de live beef com Miley Cyrus, que recentemente também se tinha juntado à discussão entre Nicki e Taylor, a desmascarar em três tempos as suas reais intenções. E eu que nem gosto de Miley, depois desta noite passei a tolerá-la muito mais. Enfim, a cena teve o seu quê de acto encenado à boa moda do wrestling feminino, quando as tipas discutem meia hora antes de partirem para a real porradona. Esteve perto. 


Passando para alguém que ganha prémios com justiça e mérito próprio - Taylor Swift, a grande vencedora da noite com 4 estatuetas angariadas, três delas televisionadas. Todos os anos há também a necessidade de ter que eleger um nome supremo e em 2015 só poderia ser o dela. Fosse com "Blank Space" ou "Bad Blood", mereceu-as todas.


Vejam só se não é a última das estrelas Disney minimamente decente a sacar também do trunfo da hipersexualização. Tss tss, Demi Lovato. Com integridade também se chega ao topo, e deixa-me um bocado confuso que alguém com boa voz, cabeça e uma identidade vincada opte por uma abordagem tão vulgar. Bem, só dessa forma se pode cantar um "Cool for the Summer" com convicção. Não só teve uma prestação irrepreensível (colorida e vibrante) como ainda ofuscou Iggy Azalea. Pensar que há um ano a rapper australiana foi uma das estrelas do espectáculo e neste entrou e saiu pela porta dos fundos, dá que pensar na velocidade com que as supernovas surgem e se extinguem na constelação pop. 


Há a atribuição de um Best Video with a Social Message - importante nos tempos que correm - a Big Sean, mas ficaria bem entregue a qualquer outro dos nomeados. Repararam que esta era a única categoria em que Rihanna estava nomeada? Está bem que R8 sofre de inconsistência logo à nascença, mas ao menos algum respeito por "BBHMM", senhores da MTV. No lote dos performers, é a estreante Tori Kelly quem sobe ao palco para uma aguerrida actuação de "Should've Been Us". Cantou que se desunhou e deixou ali a pele em palco, impressionou-me. É mais um caso de sucesso que salta do YouTube para a indústria e chega a um dos maiores palcos do mundo. Agora é aproveitar o embalo e continuar a mostrar coisas boas. Olho nela.


É isto o grande regresso de Justin Bieber? Pois, a montanha é capaz de ter parido um rato. Não fosse pela boa performance de "Where Are Ü Now" e teria figurado nos momentos mais mortiços da cerimónia. Quanto ao novo single, é fraco para as suas ambições e dentro dos parâmetros da mediocridade pelos quais se rege. É preciso mais, muito mais, do que levitar e derramar lágrimas de crocodilo #gohardorgohome


Chega um dos momentos mais aguardados da noite em que Kanye West é agraciado com o prémio honorário MTV, o Michael Jackson Video Vanguard Award, pelos seus préstimos ao panorama musical. Ele que só por duas vezes tinha recebido um Moonman. Ele que é só o maior génio e visionário do nosso tempo. Ele que recebeu das mãos da agora amiga Taylor Swift o maior prémio da sua carreira, encerrando também um dos capítulos mais polémicos da história dos VMAs (o imma-let-u-finish-gate). Ele que por 15 minutos ouviu mais aplausos que apupos e, possivelmente, fez o discurso da sua vida. Um homem, os seus fantasmas e o seu futuro. 

"Thank you Taylor for being so gracious and giving me this award this evening. I often think back to the first day I met you, also… I think about it when I go to a baseball game, and 60,000 people boo me.

I think if I had to do it all again, what would I have done? Would I have drank half a bottle of Hennessy and gave the rest to the audience? If I had a daughter at that time, would I have run on stage and grabbed the mic from someone else's… After that night, the stage was gone. The effect that it had on people remained.


The problem was the contradiction. I do fight for artists, but in that fight I somehow was disrespectful to artists. I didn't know how to say the right thing, the perfect thing… The small boxes that we are as entertainers of the evening, how could you explain that? Sometimes I feel like that all this shit that they run – sometimes I feel like I died for artists to have an opinion after they were successful.


I'm not a politician. You know how many times they ran that footage again – because it got them more ratings? You know how many times MTV announced Taylor was going to give me the award because it got them more ratings? Listen to the kids, bro!

I still don't understand award shows! I don't understand how they get five people who worked their entire life to come stand on a carpet, and for the first time of their lives be judged on the chopping block and have the opportunity to be considered a loser. I don't understand it! I just wanted people to like me more.

But f**k that, bro! 2015 – I will die for the art, for what I believe in. The art ain't always gonna be polite. Ya'all might be wondering, 'Was he smoking something before he came out here?' The answer is yes. I rolled up a little something to knock the edge off! I don't know what's gonna happen tonight or tomorrow, bro. All I can say to my fellow artists is just worry about how you feel at the time. I'm confident. I believe in myself. We are the millennials. 
This is a new mentality. We're not gonna control our kids with brands, and we're not gonna teach low self-esteem or hate. We're gonna teach our kids to believe in themselves. If my grandfather was here now, he would not let me back down. I don't know what I'm gonna lose after this, but it's not about me. It's about ideas – people who believe in truth. Yes, as you probably could have noticed, I have decided to run for president in 2020."
Porque não? Artisticamente o homem já foi à Lua e humanamente pouco lhe resta alcançar, apenas continuar a fazer o que tem feito, alargando o seu raio de acção. E a Casa Branca é um sítio tão válido como qualquer outro. Obama é uma figura pop com autoridade dentro. Kanye é-o também, mas primeiro precisará de reunir apoio suficiente e ter ideias e convicções que acompanhem as suas motivações. Dificilmente lá chegará, mas fará história (e não perderá nada) ao tentar. 


E depois de um discurso tão espirituoso, pedia-se uma actuação igualmente inspiracional. Quem melhor de que Pharrell Williams e um imenso "Freedom" - demasiado gigante e ainda tão reprimido - para dar continuidade ao momento de grandeza? Kanye apelou à nação, Miley à nova geração e Pharrell ao coração do mundo. O prémio dos debutantes - Artist to Watch - é entregue ao rapper norte-americano sensação Fetty Wap. Não percebo o fascínio e dá-me arrepios na espinha pelas piores razões. Torcia por FKA twigs mas quê... #istoeparameninos


A actuação dos Twenty One Pilots vinca a tradição da MTV de dar a mão aos underdogs. Tudo muito bonito, mas em palco foi um autêntica barafunda. Há por ali uma mescla de influências demasiado random para ser detectada a olho nu, talvez em disco resulte melhor. Quanto a A$AP Rocky, já merecia uma actuação a solo (em 2012 também havia estado ao lado de Rihanna). Aliás, a excelente fase que o hip hop atravessa justificava uma maior atenção por parte da MTV para com os seus novos impulsionadores. Vídeo do Ano? "Bad Blood", what else? Oportunidade para Taylor Swift virar o jogo a seu favor, "contente" por em pleno 2015 "os rapazes poderem interpretar princesas e as raparigas um grupo de soldados". Katy Perry revira os olhos no conforto do seu lar.


E o que dizer de Miley Cyrus no papel de anfitriã? Nasceu para a tarefa. Guarda-roupa insano, sketches humorísticos bem delineados e deixas insinuantes e corrosivas q.b. Não bastasse o excelente desempenho na condução da cerimónia, ainda fecha com chave de ouro o espectáculo com um inédito "Dooo It!" e o seu mantra de espírito aberto "yeah I smoke pot (do it), yeah I love peace (do it)" levado à cena com os drag queens de RuPaul. Pisca o olho aos amantes de erva, propaga a necessidade de cultivar paz e demonstra o seu apoio à causa LGBT. Três trunfos de uma vez, com largada de bomba no cair do pano - é o cartão de visita de Miley Cyrus and Her Dead Petz, lançado independentemente e sem aviso para streaming. Assim se faz um bom trabalho.



E depois de dois anos a convergirem numa figura só (Justin Timberlake em 2013 e Beyoncé no ano passado), a contentarem-se em ser politicamente correctos e demasiado previsíveis, os VMAs voltam a viver do arrojo, da imprevisibilidade, de statements (liberdade na cabeça foi o mantra desta edição) e de múltiplos heróis (em 2015 foram Kanye West, Taylor Swift e Miley Cyrus). Só assim faz sentido existir esta cerimónia de prémios num tempo que já não é o da MTV.

Sigam-me no facebook!

Comentários

Mensagens populares