O que há para dizer acerca do Ídolos 2015 #4

Este post faz a retrospectiva da quinta, sexta e sétima gala do Ídolos 2015

A edição "desnecessária" do Ídolos acaba por não ficar mal na fotografia e é capaz de ter tirado o melhor retrato de todas as suas temporadas com a escolha dos cinco finalistas. Em baixo, só mesmo as audiências - por aqui se faz boa televisão e um programa com gente e talentos dentro. 

Ah, a eterna obsessão com os anos 80. É tão óbvia quanto a gala das "dedicatórias" ou a da "música portuguesa", tão bem representada nesta edição que nem precisou de vir a lume. Percebe-se o fascínio, mas as décadas de 70 ou 90 também têm direito a uma visita. Trabalhar para o público é primordial, mas numa edição em que o público abandonou o programa - esta então bate mínimos históricos - seria interessante alterar o paradigma. As próprias escolhas dos candidatos foram insípidas de tão gastas que estão, acabando por resultar na gala mais fraca da temporada.

Guilty Pleasures. Ora aqui está um tema muito interessante e original. O problema é que, se cumprido à regra, resulta num pobre espectáculo televisivo. A verdade é que ninguém quis ficar mal na fotografia (ainda para mais quando esta depende de votos) e por isso não vimos candidatos a assumir coisas verdadeiramente humilhantes. Mas teve a sua graça ver Britney Spears e Backstreet Boys ali representados.

Entramos nas dobradinhas com a também habitual escolha do público e dos jurados, que deve mais a sua piada à incógnita das canções do que ao que dali resulta. A ronda do "público" (entenda-se por isto os ouvintes da RFM) coloca quase sempre os candidatos aquém do seu potencial e esta não foi excepção. Já a do júri tem tendência a descaracterizar os participantes, mas tal não aconteceu e foi graças a ela que a noite ficou salva. 

Concorrentes que entretanto perdemos pelo caminho, todos eles com ordem de marcha anunciada: a Mafalda, pelo deslocamento do grupo de finalistas e da falta de empatia com o público; o Miguel, a dizer adeus com a sua pior prestação (divertida, mas fraquinha) e a Carolina, a crescer com as últimas três actuações mas sem altura suficiente para integrar um lote de 5 finalistas de sonho. A postura de Paulo Ventura em relação a esta candidata é que é digna de nota: tece-lhe loas, promete-lhe mundos e fundos, começa gradualmente a desinteressar-se e acaba praticamente a gozar com ela. Acho que isto diz muito do carácter dos homens que comandam esta indústria, quer cá dentro quer lá fora. 

Quanto aos que ainda permanecem em competição:


João Couto- As probabilidades são desfavoráveis para o jovem Couto, mas o certo é que continua no topo da montanha. A viagem, essa, tem sido incrível. "Fast Car" foi um nadinha mais tenso que o costume, "Nothing Really Matters" uma bela pintura com a tela possível, "Blurred Lines" a vitória do carisma e o soberbo "Careless Whisper" seguramente uma das melhores actuações desta edição. Tira sempre o melhor proveito da banda, vive no séc. XXI com o mesmo virtuosismo que mostra ter quando interpreta clássicos do séc. XX e é músico da cabeça aos pés. Há muito que garantiu o bilhete para o top 3, mas conseguirá picá-lo até à vitória?




Rita Nascimento- Once and forever more, with feeling. Como não gostar imenso da Rita, certo? Ilumina o palco, agarra as canções pelos colarinhos e é uma intérprete de mão cheia. "Alone" foi só a melhor visita aos anos 80 que tivemos naquela noite, em "One Day In Your Life" vimo-la um bocadinho atarantada à procura da banda mas compensou com toda aquela intrepidez vocal que lhe é característica, "Blank Space" foi a confirmação de que também possui um certo charme pop e a sua melhor actuação do ponto de vista performativo, enquanto "Everybody Hurts" foi outro dos momentos altos da última gala, tão bonito e sentido. Aflige-me um bocado vê-la constantemente nos menos votados, porque vê-se e sente-se o quão ela é feliz ali, mas sorrio sempre perante a possibilidade de ouvi-la uma vez mais. Poderá ter ainda uma chance de discutir o 4º lugar, mas de qualquer forma foi excelente vê-la evoluir tanto e a chegar até aqui.







Luís Travassos- Como perder um candidato à vitória em 3 galas. Não é um problema de expectativas, é um problema de compreensão - o Luís começou o programa sem perceber muito bem o que estava ali a fazer e penso que terminará o seu percurso sem descobrir de que matéria se faz um ídolo. Talvez não o tenha feito conscientemente nas primeiras 4 galas, mas conseguiu criar ali uma enorme empatia com o público ao cantar em português de acordo com os seus ideais - foi sempre essa a sua missão e é capaz também de ser a sua desgraça. "Chico Fininho" foi a última coisa notável que se lhe ouviu, "Criatura da Noite" o primeiro sinal de alarme e esta última gala ajudou a cavar-lhe um buraco do qual só a muito custo conseguirá sair. Resta apenas uma oportunidade em que, mais do que dar de si e cantar para si, deve dar a nós e cantar para nós. É possível fazê-lo em português e com o mesmo coração, mas com mais cabeça.

Paulo Sousa- Vejam só quem acordou. Foi basicamente o que o Ventura disse de forma algo agressiva nesta última gala - fosse numa outra edição e o Paulo chegava à final sem derramar uma gota de suor, mas teve o azar de participar na mais renhida de sempre e percebeu a tempo que seria necessário suar as estopinhas se não quisesse ficar para trás. O despertar com "Sweet Dreams (Are Made of This)" mostrou o Paulo por quem esperavámos há semanas, a roupagem badass de "Baby One More Time" não resultou inteiramente mas valeu pelo arrojo, "Earned It" surpreendeu pela intensidade e capacidade de se distanciar do original, "Somebody to Love" foi uma armadilha da qual se defendeu muito bem - a continuar assim a 110% e com a enorme falange de apoiantes, a vitória poderá ser um cenário possível e justo.




Sara Martins- Está na plenitude das suas capacidades, pelo menos tanto quanto é possível a uma jovem de 18 anos. E acho que nunca salientei aqui a maturidade que revela para tão tenra idade: sente cada palavra que canta, tem um discurso eloquente e parece saber muito bem quem é e para onde quer ir. "Ain't Nobody" valeu pela originalidade da escolha, "Wrecking Ball" é capaz de ter sido a melhor versão que ouvi do dito cujo, "Love Me Like You Do" foi transformada em power ballad e resultou muito bem na sua voz, "Something's Got a Hold On Me" esteve entre os momentos altos da noite e ainda acrescentou novas valências ao seu currículo. Mas continuo a preferir a Sara de "Yellow Flicker Beat". Gostava de voltar a ouvi-la em português e de vê-la na final com o Couto, porque um dueto entre os dois é digno de ser vivido. De resto, é continuar a dominar.



Ordenados agora consoante:

- Prestação global -

1º João Couto
2º Sara Martins
3º Rita Nascimento
4º Paulo Sousa
5º Luís Travassos

- Preferência pessoal -

1º Rita Nascimento
2º João Couto
3º Sara Martins
4º Paulo Sousa
5º Luís Travassos

- Futurologia até à final -

1º Sara Martins
2º Paulo Sousa
3º João Couto
4º Luís Travassos
5º Rita Nascimento

O facto do público ter virado costas ao programa não só é uma herança das duas últimas edições, mas também consequência da própria estação ter desistido do seu produto. E isso é um bocado triste. Colocá-lo a começar às 22h30 e permitir que termine à 1h30 da madrugada, é pedir resultados miseráveis e desrespeitar o público e o próprio formato. Consta que a última gala teve uma audiência inferior ao BBC Vida Selvagem que ocupa o final do horário matutino dominical. Ora, fico contente que os okapis e os corais dos oceanos suscitem interesse público, mas acho desolador que malta tão talentosa esteja a actuar para menos de meio milhão de espectadores.

E agora algo completamente inusitado que acabo de me lembrar: acho que nunca quer no Ídolos ou noutro formato que fosse, alguém cantou um tema dos Red Hot Chili Peppers (!). Carece de investigação, mas é imensamente estapafúrdio... right?!!

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