REVIEW: Robyn & La Bagatelle Magique- Love Is Free


Novo exercício de mestria para a carismática sueca que apela à libertação do corpo e da mente na pista de dança em vinte curtos, mas valiosos minutos. 

Muitos terão esbarrado com a arte de Robyn há dez anos com o monumental "With Every Heartbeat", mas a verdade é que a sueca já por cá anda há duas décadas. Primeiro numa encarnação teenager de pop e R&B pueril enquanto tela em branco para as criações primárias do hoje manda-chuva dos hits globais Max Martin, renascida na segunda metade dos anos 00 enquanto expedita obreira da synthpop esculpida pelos estetas Klas Åhlund, The Knife ou Röyksopp, hoje tida como um dos nomes essenciais para compreendermos a pop do séc. XXI, capaz de construir as suas próprias regras sem ceder a pressões alheias.

Nos últimos cinco anos, Robyn não tem feito outra coisa senão modelar as leis da indústria a seu bel-prazer. Ela que há dez construiu o seu próprio selo (a Konichiwa Records), que em 2010 lançou 3 discos - a formidável trilogia Body Talk - num espaço de 6 meses, e que desde então rejeita o formato tradicional do disco compacto para lançar nova música, editando apenas mini-álbuns. 

Foi assim no ano passado com Do It Again, o excelente registo colaborativo que assinou juntamente com os noruegueses Röyksopp, e volta a ser este o método escolhido para distribuir a nova colheita de canções forjadas em 2015, agora ao lado dos La Bagatelle Magique, colectivo onde militam Markus Jägerstedt, o seu teclista de serviço, e o conterrâneo Christian Falk (que faleceu há cerca de um ano atrás), produtor com quem chegou a colaborar nos seus dois primeiros álbuns.



Love Is Free é outro conjunto excepcional de cinco canções desenhadas para os clubes, a celebrar o melhor da música de dança dos anos 80 e 90. "You say you wanna play/ but you keep on playing it safe/ lose it baby, don't be afraid", canta Robyn no introdutório "Lose Control", convidando o ouvinte a deixar as inibições - da mente e do espírito - à porta. Só assim se pode celebrar o tema-título sem reservas, infeccioso pedaço de acid house reminiscente do início da década de 90, anunciado com um "boom-boom-boom-chicka-boom" aditivo e povoado pelas investidas insinuantes e plenas de domínio da sueca ("I'ma give it to you baby/ I'ma give it when I'm ready"). 



"Got to Work It Out" incita ao regabofe na pista de dança - linhas de baixo em modo trance, vocalizações embebidas em vocoder, ténue melodia de xilofones oh-so-80s, máquinas de fumo, luzes estroboscópicas e letra que pede um tratamento visual a recontextualizar "Call On Me". Novamente o conceito de liberdade expresso em "Set Me Free", um extasiante four-on-the-floor com apelos de "free your body" a incitar à loucura na pista de dança. Para o final está reservado uma competente versão de "Tell You (Today)" magicada em 1983 pelos Loose Joints, do norte-americano Arthur Russell, com balanço disco, baixo funky, assobios e frenéticas secções de sopro.

Assim se mitigam as saudades e evitam-se eventuais muletas desnecessárias, num alinhamento só com pontos fortes. O amor é livre, pois sim, mas mais compensadora e rara é a liberdade que chega pela via criativa, essa mesma que permite a Robyn continuar a assinar grandes obras. Voltamos a marcar encontro no Verão de 2016?


Classificação: 7,8/10

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