Odisseia Musical: 2011, A Voz Redentora- Parte II

Devia ter perto de 15 anos quando começei a comprar a revista Blitz, a única publicação portuguesa inteiramente dedicada à música que é feita dentro e fora de portas. Sempre gostei muito de ler, é claro, mas pode-se dizer que só começei a "alimentar" o melómano que em mim havia quando ela entrou na minha vida.

Ao princípio era um pouco como assistir, em criança, aos desenhos animados do Cartoon Network. Lia-a porque me atraía o seu conteúdo, mas nem por sombras compreendia o seu verdadeiro significado. Desconhecia grande parte dos artistas que figuravam nas suas páginas (bastava não passarem na MTV para estarem fora do meu alcance) e escapava-me a maioria da linguagem utilizada pelos seus colaboradores, que se pode tornar ligeiramente críptica para quem não for um entendido na matéria. 

Seria apenas em meados de 2011, que passei a tê-la em muito maior estima. Até então não a comprava regularmente (apenas quando a capa assim o justificava) e limitava-me a ler os artigos que mais me interessavam. Mas a partir desse ano dei por mim a comprá-la todos os meses e a apreciá-la de uma ponta à outra, sem reservas, e eis que passou a ser a ferramenta mais valiosa para o trabalho que desempenho aqui no blog.

Tal não significa, porém, que me reveja inteiramente nela. Por exemplo, sempre me senti um pouco desiludido pela forma como abordam (ou não abordam de todo) o panorama pop, com relativa indiferença ou pouco conhecimento da causa, talvez com receio de que tal afecte a sua "credibilidade indie". Também me preocupa o facto de raramente atribuírem capas a artistas femininas (e a música está longe de ser um mundo governado apenas por homens) ou, então, de estarem constantemente a repeti-las: já perdi a conta às capas que tenho com Kurt Cobain, Pearl Jam ou tributos à história do rock e às suas lendas.

Críticas à parte, a verdade é que muito do que sei e sou hoje, devo-o a ela. Não é por acaso que vou guardando todas as edições que compro - já lá vão mais de 60 - apenas para, de vez em quando, poder revê-las e dar uma segunda oportunidade a artigos que me escaparam no passado e que só agora tenho capacidade para compreender. 

São 7 anos e meio de vivência conjunta - e em breve, serão 30 de existência - que se traduzem numa fonte de conhecimento inesgotável, em centenas de euros bem gastos e lições que ficam para a vida. Obrigado, Blitz.

Os temas que mais me marcaram

9º David Guetta feat. Sia- "Titanium", Nothing but the Beat

A história da canção é curiosa: escrita pela própria Sia, foi composta originalmente para Katy Perry, que a recusou, tendo passado depois para as mãos de Mary J. Blige, que lhe chegou a emprestar a voz. Mas Guetta preteriu-a em prol da demo gravada pela discreta australiana, percebendo que mais ninguém lhe poderia fazer justiça se não ela. E assim acabou por surgir aquele que considero o seu melhor tema de sempre, talvez porque é a voz - e que voz! - que serve a canção, e não o contrário, como tantas vezes acontece. E como eu adoro bradá-la a plenos pulmões. Absolutamente perfeita.



8º Britney Spears- "Hold It Against Me"

Uma estrela cai do céu e desce à Terra onde acaba por encontrar a fama. Com o passar do tempo, acaba por sucumbir à pressão e entra em rota de colisão, deitando tudo a perder. Eventualmente ergue-se e volta a ser o que era. Nem mais: aqui está descrita a ascensão, queda e renascimento de Britney Spears, num dos melhores vídeos da sua carreira assinado por Jonas Akerlund. Já o tema brindou-nos com laivos de dubstep, trance e grime. Épico é dizer pouco.



7º Adele- "Someone Like You"

Foi esta a canção que despoletou o verdadeiro fenómeno em torno do seu segundo álbum, apresentada ao mundo nos BRIT Awards 2011, que se tornaram icónicos precisamente por essa inesquecível actuação. É o tema que encerra 21, e é o momento em que Adele, já livre dos rancores expurgados ao longo das faixas anteriores, concede o perdão ao homem que lhe despedaçou o coração, permitindo-se voltar a amar novamente. É uma das grandes baladas do século e marca um dos períodos musicais mais belos do meu tempo.



Os álbuns que mais me marcaram

5º Kelly Clarkson- Stronger

O título não engana: o seu 5º álbum de estúdio é, de facto, um tour de force. É o seu álbum mais coeso desde Breakaway (2004) e, ao que parece, o primeiro que não lhe trouxe qualquer dissabor com a sua editora. A nível lírico conserva a mesma receita de sempre - desgostos amorosos, pensamentos vingativos e hinos de auto-afirmação - enquanto que a nível melódico convive pacificamente com a sua persona pop/rock e acrescenta-lhe um balanço country, soul e urbano, sem vestígio algum de auto-tune. A sua força, porém, reside inteiramente na sua prestação vocal, nomeadamente brilhante em temas como "Let Me Down", "I Forgive You" ou "Dark Side".
Este é o álbum de: "Mr. Know It All", "Stronger (What Doesn't Kill You)" e "Dark Side"

4º Britney Spears- Femme Fatale

Tivesse esta Odisseia sido feita há 6 meses atrás e talvez este álbum não estivesse tão bem posicionado. E a culpa é toda de Britney Jean, o último e infame trabalho de Miss Spears. Antes da sua edição, eu diria que este seu 7º álbum seria um dos seus mais desinspirados e aborrecidos, que sofre pela sua falta de input artístico (não há dedo seu na escrita das 12 canções). Mas bastou acrescentar um novo - e trágico - compêndio à sua vasta obra para me fazer desejar o rotorno da denominada Britbot, a versão mais maquinal de Britney que se move em águas dubstep, techno, trance e dance pop, mas que ainda assim é capaz de momentos tão inspirados como "How I Roll", "Trip to Your Heart" ou "Inside Out".
Este é o álbum de: "Hold It Against Me", "Till the World Ends", "I Wanna Go" e "Criminal"

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