2013: Um Balanço Sónico- Parte VIII

  As figuras  

Miley Cyrus

Fazer de conta que Miley Cyrus não foi uma das figuras maiores de 2013, é não querer ver as coisas tal como elas são. É uma valente porcaria, pois é. Mas não há como negá-lo. E eu assisti, com a perícia de quem já leva alguns anos de compreensão do campeonato da pop, à estratégia-choque que Miley usou neste que foi o ano do enterro de Hannah Montana e da afirmação definitiva da Miley-para-além-da-personagem.

Ora, a táctica é a mesma utilizada há 10 anos atrás por Britney Spears e Christina Aguilera, com a diferença de que hoje em dia o mediatismo que as redes sociais proporcionam ultrapassa em larga escala aquele que os ditos meios de comunicação de há uma década atrás possibilitavam. Depois temos as polémicas, todas elas premeditadas, claro. Desde o polémico twerk com Robin Thicke nos últimos VMAs ao cigarro de cannabis acendido em pleno palco dos EMAs, tudo é feito com uma enorme precisão e calculismo, mas de forma a parecer "genuíno".

Por fim, a música. "We Can't Stop", esse autêntico hino de rebelião de uma juventude decadente, ou "Wrecking Ball", tema pop eficaz (e não estou a ser irónico) impulsionado pelo tal vídeo em que Miley aparece completamente nua em cima de uma bola de demolição e que se tornou no mais visto do ano no YouTube, quebrando vários recordes pelo caminho. Ambos habitam em Bangerz, álbum editado em Outubro passado, cujo sucesso se deve em grande parte ao hype com que foi alimentado.

É legítimo que seja vista como um novo ícone geracional, tal como Britney ou Xtina o foram na década passada. Mas enquanto estas revolucionavam, de facto, a pop, Miley limita-se a difundir um modo libertino de ser e estar na vida, esquecendo-se que, para atingir o patamar destas, terá que ir muito além das polémicas e truques baixos. É por isso mesmo que, para lá da superfície, Miley Cyrus vale muito pouco ou nada.

E será uma questão de tempo até que se torne na próxima grande vítima do showbiz, esse mundo cruel que concede fama e desgraça às suas cobaias em iguais proporções. Por isso, ela que seja recordada em 2013, mas pelas piores razões - para nos lembrar do quão desprezível e corrupta a pop pode ser.

  Os vídeos  

Britney Spears- "Work Bitch"

Por mais encantos que tenha, convém não esquecer que a pop é um mundo de ilusões - uma engenhosa fantasia que alimenta sonhos. "Work Bitch" foi o expoente máximo dessa utopia em 2013, o vídeo pop mais estrondoso que vi nos últimos 12 meses: coreografias sincronizadas no meio do deserto, uma série de poses intricadas no meio de uma piscina absurdamente grande, chicotes e algum S&M, explosões, danças no meio de tubarões (digam olá à Miley, Gaga e Katy) e a boa e velha Britney de volta, como há muito não se via. Enganou-me bem, pois foi, mas chegou para alimentar o sonho de alguém como eu, que ainda espera vê-la um dia a usurpar o trono de Rainha da Pop. Let me live that fantasy...



Lily Allen- "Hard Out Here"

Conhecida por ser uma mulher destemida e de fortes pontos de vista, Lily Allen tinha muito para dizer após um hiato de 4 anos. Em "Hard Out Here" não se cingiu às palavras e decidiu ilustrar o seu testemunho acerca da misoginia e machismo que invadiu o panorama musical com um vídeo que satiriza de forma mordaz e hilariante o estado a que a pop chegou. Miley Cyrus, "homenageada" através do twerking, e Robin Thicke - parodiado com o escrito Lily Allen has a baggy p**sy - são os principais alvos deste valente hino feminista. Que em 2014 estas bitches tenham a vida um nadinha menos complicada.



Quadron- "Hey Love"

Esta dupla dinamarquesa composta por Coco O e Robin Hannibal, a outra metade dos Rhye, chegou até mim da forma mais arrebatadora possível: através da dança. O vídeo para "Hey Love" poderia ter sido alvo de muitas outras interpretações, mas bendita a hora em que alguém decidiu pegar nele e torná-lo num bonito tributo à história da dança. Ele é tango, paso doble, disco, dança jazz, dança a pares, solos destemidos, ou, simplesmente, um freestyle descontraído. É genial e deixa-me sempre de sorriso no rosto. Shall we dance?



  Os álbuns  

Paramore- Paramore


Nenhum outro disco de 2013 me deixou tão orgulhoso quanto o 4º tomo da carreira dos Paramore. Tinha tudo para correr mal: haviam perdido dois dos seus elementos fundadores e saído de uma tempestuosa crise interna, tendo esperado 4 anos para lançar o sucessor de Brand New Eyes. Dadas as circunstâncias, poucos foram aqueles que acreditaram que Hayley, Jeremy e Taylor conseguiriam dar a volta por cima.

Mas, contra tudo e contra todos, não só provaram estar longe de acabados, como ainda assinaram o melhor trabalho do seu percurso. É uma banda renascida, amadurecida e liberta das amarras que a prendiam que se ouve neste álbum homónimo, em que momentos desavergonhadamente pop ("Still Into You"), convivem com rock alternativo e dreamy à la Smashing Pumpkins ("Daydreaming" e (One of Those) Crazy Girls"), punk rock que pisca o olho ao que fizeram no passado ("Now", "Fast in My Car", "Part II"), e outros em que se sente um rasgo de criatividade - na deliciosamente funky "Ain't It Fun" ou nos interlúdios polvilhados com um inusitado ukulele.

É um disco divertido e agitado, que marca uma evolução tremenda para uma banda que há muito merece ser reconhecida para lá do rótulo emo/punk de que se tingiu nos seus primórdios. Eu, que estava receoso de ouvir o seu novo material e não me reconhecer nele, sinto agora que os Paramore são uma das poucas bandas que têm sabido crescer comigo, lado a lado, sem se descaracterizar ou perder-se pelo caminho. E é tão reconfortante saber isso. Estamos juntos.

Pontos altos: "Ain't It Fun", "Last Hope", "Fast in My Car", "Still Into You"

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